30.10.09

Os talibãs da UNIBAM ou, a anti cultura da agressão

Não gosto de abordar temas muito badalados, mas o que ocorreu na UNIBAM é algo tão absurdo que não há como conter uma manifestação de repúdio.
Uma Universidade deveria ser um templo do pensamento livre, das idéias, das reflexões e, inequivocadamente, a casa do aprimoramento humano. Ao contrário, no entanto, a Universidade Bandeirantes se revelou para o mundo como um depósito de fascistas obtusos.
Não é sequer razoável que estudantes universitários adotem um comportamento tão lamentavelmente agressivo pelo fato de uma colega ir à aula usando um vestido curto. É algo incompreensível, mas que denota o nível de obscurantismo que perpassa nossa sociedade e ao mesmo tempo revela um terrível índice de frustração, pessoal e coletiva.
Ali, entre os estudantes agressores, não havia, pelo que assistimos, homens e mulheres psicologicamente saudáveis, mas sim um bando de reprimidos que, de tão reprimidos, passaram a ser repressores. Certamente um bando de infelizes insatisfeitos com a vida, com a família, com a escola e com o mundo em que vivem; daí a necessidade de extravasar, via agressão gratuita, a mesquinharia em que eles próprios transformaram suas vidas.
Pode ser que tudo tenha a ver com os conceitos da chamada vida moderna, onde algumas universidades não passam de shopings centeres, quando não casas de diversão noturnas, com a palavra educação sendo usada apenas como justificativa para lucros fáceis. Talvez seja isso.
A verdade é que nós, enquanto sociedade, apequenamos nossos conceitos, fabricando, diariamente, um exército de mal amados, e isso se reflete no comportamento do dia a dia. Na política, na segurança, na economia, na habitação, nas artes, na cultura, enfim, em todas as áreas da sociabilidade humana.
Chega a ser inacreditável que uma jovem seja hostilizada por usar um vestido curto em uma sociedade nua como a nossa. A própria publicidade, uma das indústrias mais importantes da nossa era, se alimenta basicamente da nudez, principalmente da feminina.
Foram necessários muitos anos de evolução social, é bom que se diga, para que as pessoas tivessem o direito de se vestir de acordo com sua vontade. Mas algumas pessoas do nosso tempo, ao que parece, preferem fazer uma aliança com o atraso e adotar regras dignas do Talião em pleno século 21.
Felizmente, no entanto, nem todos os nossos jovens tem sua formação intelectual e humana forjada nas UNIBANs da vida. Ainda há quem pense, mature idéias, rejeite a burca e opte pela liberdade em termos de comportamento humano.
Talvez nos falte um Raul Seixas para gritar em nossos ouvidos: faze o que tu queres pois é tudo da lei.
Cevar o povo com novelas, breganejos, pagonejos, etc... só poderia dar nisso. Infelizmente.
Aliás, fica provado que a boçalidade acadêmica faz mal a saúde mental do País. Seria bom se começássemos a formar cidadãos de verdade, ao invés de simplesmente fabricar robôs para as variadas indústrias.

2 comentários:

Cidade de Duque de Caxias disse...

Meu querido Vicente Portella:

Sabes que sou teu "fã de carteirinha" (desculpe o lugar comum). Por isso (por isso - porrisso - também não soa muito bem, né?) Xaprala...direto ao assunto: tenho minhas dúvidas se foi só o vestido curto que gerou toda aquela demonstração de bestialidade universitária. Temos, tu e eu, alguma experiência de comportamento de auditório e multidão. Algo deve estar escondido entre as linhas divulgadas pela imprensa. O que? Não sei! Se foi simplesmente o vestido curto a causa de toda aquela demonstração de intolerância, francamente, "tá maus".
Uma coisa parece certa: nudez, coisa apimentada ou sacanagem, só na televisão ou na internet. Ao vivo e em cores, "no". Portella, querido amigo, veja que a turma perdeu a noção do real, está apenas vivendo virtualmente. Bala perdida, roubalheira de político, violência contra minorias e preconceito são coisas virtuais. Na verdade acontecem apenas nos jornais, na telinha ou no monitor do computador.
Acredito que todo aquele escândalo estúpido, oligofrênico e nazistóide seja uma reação de quem nunca aprendeu a reagir inteligentemente. Coitados, estão no pré-fundamental da participação política, do protesto justo, da contestação. Desculpe o desabafo: nós éramos melhores. Saudades de 68, 69...Chico, Vandré, Gil e Woodstock.
Um abraço.
Rogério Torres

Vicente Portella disse...

Grande Rogério...
Saudades de vc, meu amigo. No mais,concordo plenamente. Na verdade chega a doer na gente o grau de estupidez - real, e não virtual- dessa triste parcela da juventude.Quanto a geração de vcs, nem da pra comparar. Seria covardia...rs

Grande abraço