30.12.10

Alemão: a versão que virou fato.

Sinceramente, eu ando preocupado com a credibilidade da nossa imprensa. Nos últimos anos o jornalismo foi substituído pela publicidade, tudo bem. Afinal de contas, manda quem paga - essa é uma regra básica do sistema capitalista - mas a coisa também não pode ser assim, tão escancarada. Mesmo porque, omitir os fatos é algo muito diferente de  distorce-los, que por sua vez também é completamente diferente de inventa-los. Nossa mídia atual é assim, inventa fatos.
Apesar dessa mancebia entre mídia e governantes – a mídia é a amante – ocorrer em todas as áreas, é na segurança que o vil metal tem sido aplicado com maior eficácia pelos governos e onde a mídia, por sua vez, tem demonstrado maior talento e criatividade.
A encenação do morro do Alemão é um belo exemplo disso. Até o mais néscio dos eleitores é testemunha de que as forças de segurança ficaram acampadas por horas a fio no entorno do morro enquanto os bandidos ganhavam o mundo. Via-se pela TV que os policiais estavam agoniados, ávidos por fazer seu trabalho, mas os “cabeças “ da segurança não permitiam. Só depois de ter a absoluta certeza de que todos os bandidos estavam à salvo, em outras favelas do Rio, Beltrame e cia permitiram a invasão e o maior complexo criminoso do Rio de janeiro foi “conquistado” em meia hora. Foram inclusive apreendidas algumas armas utilizadas na 1º guerra mundial, além de estilingues, bumerangues, tacapes, arcos e flechas, muitas flechas. Nenhuma arma de "destruição em massa", o que prova que cada governo mutreteiro tem o Iraque que merece.
Tudo isso aconteceu com cobertura ao vivo da mídia, como se fosse uma partida de futebol, ou uma novela, e comentado por um roteirista de cinema. 
Foi uma espécie de Tropa de Elite 3 em tempo real, pra usar uma expressão consagrada pela internet...
Apesar disso tudo, na versão oficial da mídia tratou-se de uma verdadeira guerra, digna de Rambos, Capitães Nascimentos, Shuarzenegeres e até Charles Bronsons, este último para os mais antigos. Na prática, o fato foi substituído por uma versão, a oficial, e a farsa foi proclamada como história. Que os bandidos acuaram o Rio por uma semana, é fato. A tomada do Alemão, no entanto, é outro papo. Tudo, na verdade, foi muito estranho...
Mas tudo bem, isso já tem um mês. De acordo com a mídia o Alemão anda tão fantástico que várias celebridades já estão pensando em fixar residência no morro. Até o Príncipe Charles, da Inglaterra, o nobre mais orelhudo do planeta, já foi cogitado para futuro morador do Alemão juntamente com sua partner, Camilla Parker.
Quando li os jornais hoje nem pensava mais nisso, eis que, de repente, não mais que de repente, me deparo com uma matéria dizendo que a polícia invadiu a Rocinha e os bandidos não reagiram traumatizados com o que ocorreu no Alemão. Alto lá, aí já é um pouquinho demais... Até a estátua do Drumonnd, em Copa, sabe que o tal do NEM, mandão da Rocinha, é amigo de cama e mesa do povo do PMDB. A eleição na favela teve até chapa exclusiva do tráfico com o aval de todos os cardeais do partido, governantes do Rio de Janeiro. Quem tá dizendo isso não sou eu, foi a própria imprensa – ou uma pequena parcela dela – quem disse, durante a campanha eleitoral. E sendo assim, carne e unha, alguém acha que haveria tiroteio? Quantas armas prenderam lá? Cá pra nós, isso não parece um baita jogo de compadres?
Eu, pobre mortal, fico achando que a nossa nobre polícia ganhou uma função a mais: fazer segurança para os vendedores de drogas do Rio de Janeiro. 
Os verdadeiros profissionais de segurança – policiais militares e civis – devem estar fulos da vida com esse esquema, mas, sinceramente, parece que a cúpula do Governo do Rio virou sócia da boca com o apoio da mídia, que deve ter um percentual grande das ações nesse mega negócio.
Só por isso o binômio UPP/ Alemão está tão presente na nossa gloriosa mídia. Trata-se de uma variação da parceria público privada criada no Rio de Janeiro. Todo mundo sai ganhando e quando der algum bode o Governo será outro. Aí a imprensa pode desancar todo mundo, apontar dedo na cara, inventar demônios e culpados, tudo numa boa.
Até lá o Alemão será a panacéia capaz de curar as dores terríveis provocadas pela sede de grana dessa turma. Além do mais, daqui a pouco a galera nem lembra mais disso tudo, né?

27.12.10

A posse do poste, quer dizer, da Dilma.

Lula precisava provar ao mundo o quanto é popular e, para tanto, elegeu um poste. Não satisfeito, mesmo que o poste ainda nem tenha tomado posse, já defende a reeleição desse mesmo poste em 2014. Está provado, Lula é o cara. Mas o que me chama a atenção nessa história toda são as coisas que Lula fez, os modelos que adotou e os princípios dos quais abriu mão para se tornar o cara.
Na década de 80 do século passado Lula criticava ferozmente a corrupção, hoje, convive com ela numa boa e até reinventou alguns de seus conceitos. Na década de 90 do século passado Lula questionava a manipulação da opinião pública via meios de comunicação, atualmente, partilha seu poder com todos os manipuladores históricos dessa mesma opinião pública. Nos anos setenta, também do século passado, Lula condenava o autoritarismo, hoje o cultiva.
Aliás, nos anos 90, é bom que se diga, Lula já começou a descambar para o outro lado do tabuleiro. Fez até reuniões secretas com FHC no palácio presidencial apesar de fingir publicamente que era de oposição. Mesmo assim, no entanto, Lula continuou "revendo seus conceitos". Se antes considerava um absurdo que líderes populares ignorassem o PT em função dos votos obtidos nas urnas, hoje Lula advoga o poder plebiscitário e a extinção de adversários, o que não deixa de ser uma coisa curiosa, para se dizer o mínimo.
A verdade é que Lula nos transformou em reféns do voto. Não me refiro ao voto bom, digno, democrático, eivado de cidadania, mas sim ao voto de cabresto, aquele do favor, da imposição, do coronelismo, da violência, do assistencialismo, da cesta básica e do bolsa família, que ele mesmo criticava antigamente e que atualmente rege, sem qualquer cerimônia, os processos eleitorais pelo Brasil afora. Somos reféns desse voto, que é, na prática, o pior que existe.
Infelizmente, no entanto, Lula se orgulha desse voto, assim como se orgulha de seus novos parceiros, gente como Sarney e Collor. O presidente chegou até a dizer dia desses que não entende os questionamentos neste sentido, pois quem elegeu Sarney e Cia foi o povo. Quem quiser, portanto, que reclame com o povo.Lula disse isso, assim. Com a cara mais dura do mundo, comprovando aquela máxima de que quando se quer conhecer um homem deve-se dar poder à ele. O mais triste é que uma boa parte das pessoas que cultivam estes questionamentos aprenderam a faze-lo com o próprio Lula, no tempo em que ele era operário e de oposição.
Mas enfim, não se deve chorar sobre o chope derramado. O importante agora é descobrir, o Pais inteiro, como sair desta terrível armadilha montada pelos tutores do poder absoluto. Como fazer com que a nação brasileira se desenvolva de verdade, sem mudar as regras do jogo na hora de fazer as contas, sem anexar ninguém a classe média por decreto, sem mentir, pelo menos não descaradamente, impondo às pessoas uma maravilha inexistente.
Particularmente creio que só uma democracia de verdade, onde as pessoas possam se manifestar de verdade e a sociedade possa escolher de verdade seus dirigentes, pode nos oferecer alguma solução. Não dá mais para permitir que manipuladores nos confundam quanto à direitos e deveres, pois sabemos que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Voto é direito, não dever. Ninguém pode ser obrigado a entregar seu voto à candidatos que não valem o ar que respiram. Ninguém pode ser escravo da vontade alheia nem ser obrigado a legitimar processos dos quais discordam. 
Defendo que o Brasil adote o voto livre, ou seja, o voto facultativo, como verdadeiro instrumento de libertação do país. Até porque gente não é gado e as pessoas não podem ser obrigadas a atravessar a vida referendando a vontade alheia.
Quanto a Dona Dilma, o poste do Lula, lhe desejo boa sorte no mandato, é claro. Jamais torceria pelo mal de uma nação inteira. Mas confesso que não alimento qualquer expectativa diferente de mensalões, mensalinhos e acordões para aumentar salários e demais vencimentos de asseclas de toda a sorte. 
Tomara que eu esteja errado.

22.12.10

A grande patuscada

Ando com uma baita pena do Adolfo Bloch, falecido dono da Manchete, que deve estar se revirando no túmulo por conta da inversão do principal slogam de sua revista: Aconteceu, virou manchete.
Nos dias de hoje, em que o jornalismo definitivamente perdeu para a publicidade sua importância e sua capacidade de direção das redações, tudo ocorre ao contrário do que deveria. Os “fatos” são antecipados e mesmo que não ocorram, ou que pelo menos não tenham ocorrido ainda, são tratados como “fatos”.
Qualquer pessoa pode constatar isso lendo os jornais do dia. Geralmente não há uma só notícia, de fato, estampada nas manchetes de primeira página. Todos os governos foram transformados em brilhantes e os governantes, sempre muito generosos com os departamentos publicitários da mídia, são sempre exemplo de sucesso e correção, verdadeiros modelos a serem seguidos.
A saga do morro do Alemão é um bom exemplo disso. A polícia se postou nas entradas, deu tempo de sobra para a bandidada fugir - cerca de 24 horas – e acabou dominando o “impenetrável” reduto do tráfico em duas horinhas, sem prender quase ninguém. Até as armas apreendidas se resumiram a meia dúzia de peças enferrujadas, mas a cobertura jornalística determinou que tudo ali foi lindo e maravilhoso. Mesmo que todas as outras favelas do Rio de Janeiro estejam tomadas por bandidos, sejam traficantes ou milicianos, nossa gloriosa mídia dá como resolvida a questão da violência no Rio de Janeiro. Meia dúzia de UPPs e uma batalha de Itararé foram suficientes para servir de alicerce para a proclamação do que não houve, a pacificação do Estado. Mas a mídia não perdeu a oportunidade de escolher seus heróis: Sérgio Cabral ( que só vem ao Rio quando está distraído) e Lula ( o defensor dos frascos e comprimidos ).
Nos últimos anos a tranferência de recursos públicos para as empresas de comunicação foi tão gritante ( Lula gastou 10 bilhões com publicidade em oito anos e Cabral 500 milhões em seis meses ) que os Governos nem precisam mais de diários oficiais, já que os jornalões fazem cobertura adocicada de tudo que os governantes pedem, embora estes ainda se dêm ao luxo de reclamar de vez em quando. O presidente Lula, por exemplo, considerando pouca a adulação da mídia, criou o grupo de “blogueiros progressistas”, internautas bem situados que são regiamente pagos para utilizar seus blogas em defesa dos interesses governamentais. Muita gente boa que era estrela mas ficou desempregado na grande mídia está liderando esse processo, pois a boca é rica e a generosidade infinita. 
Mas enfim, o Governo de Lula, que apesar das críticas que merece foi um bom presidente em vários aspectos, está acabando, e aí vem Dilma, que é desde já uma incógnita. Ne verdade, desde Itamar Franco, passando por FHC e chegando a Lula, o Brasil vem caminhando bem em vários setores. Os três últimos presidentes foram líderes experimentados, eleitos pelo voto e responsáveis por vários processos políticos antes de se elegerem Presidente. Dilma, não. O fato é que seremos governados nos próximos anos pela Governanta de Lula, uma senhora que nunca se expos ao voto nem nunca assumiu compromissos públicos com quem quer que seja. Sua única fidelidade, largamente testada até aqui, foi à caneta do chefe de ocasião. Nunca deu uma ordem de fato, no máximo, às repassou para o andar de baixo. Nunca correu riscos nem assumiu responsabilidades públicas por seus atos... ou seja, estamos mergulhando em uma noite escura.
Certamente a mídia falará muito bem de Dilma, pelo menos enquanto durar a cornucópia financeira. Resta-nos torcer, e apenas isso, para que a vaidade de Lula não nos custe o naufrágio de um País inteiro. Quem viver ( ou sobreviver) verá.


OBS: Ciro Gomes se recusou a ser Ministro. Pode ser transformado em inimigo nº 1, como ocorreu com Garotinho, que recusou o Ministério dos transportes em 2002.Foi de aliado a demonizado em pouquíssimo tempo

Vicente Portella

15.12.10

TRE-RJ e Cabral: flagrante delito

“Não se trata de questão de direito, mas de investigação. Salta aos olhos a transgressão ao devido processo legal. Temos algo que não apenas arranha o devido processo legal, mas fere de morte.”

Ministro Marco Aurélio Mello.

O TSE devolveu, ontem, a dignidade ao processo político do Rio de janeiro, mas ficaram seqüelas gravíssimas. A afirmação do Ministro Marco Aurélio Mello transcrita acima desnuda o TRE-RJ e expõe a conivência, o compadrio; a verdadeira sociedade estabelecida entre executivo e parte do judiciário em nosso Estado para garantir a reeleição de Sérgio Cabral.
Fica clara a atuação do TRE-RJ como braço político do Governo executando a tarefa de tirar do páreo eleitoral o mais forte opositor do atual mandatário.
Nem cabe aqui uma defesa política propriamente dita do ex Governador Anthony Garotinho, mas do processo eleitoral em si e da causa democrática, do direito que as pessoas têm de eleger seus candidatos, direito esse assegurado pela constituição.

A cidade de Campos passou dez anos mergulhada em um profundo lodaçal corruptivo sem que nenhuma voz tenha se levantado para cobrar uma posição pública da quadrilha instalada no poder daquele município, mas bastou Rosinha ganhar as eleições para que todos os olhos do poder se voltassem para a maior cidade do Norte Fluminense. Cabral sabia que ali estava o embrião de uma futura campanha de Garotinho. Um bom Governo de Rosinha significaria a retomada do processo que levou o casal ao poder na década de noventa.
Veio a primeira vitória dessa nova fase e imediatamente, assim que Garotinho lançou seu nome como possível candidato a sucessão de Cabral, começaram as agressões.
Não apenas se apegaram à ações risíveis, como uma mera entrevista de rádio, como também atropelaram todos os processos legais possíveis para decretar o afastamento da Prefeita e a inelegibilidade de Garotinho.
Não satisfeitos, TRE-RJ e Governo estadual financiaram um verdadeiro massacre nos meios de comunicação, comparando Garotinho a figuras nefastas da política brasileira, gente como Maluf, Sarney e Collor. Por mais que se tentasse esclarecer os fatos – como eu e vários outros companheiros tentamos via internet – tornou-se impossível enfrentar a rede de agentes pagos com dinheiro público para espalhar mentiras e agressões. Uma verdadeira covardia.
Pois bem, a justiça foi feita e o TSE corrigiu os descalabros e desmandos patrocinados por TRE-RJ e Governo Cabral, mas fica uma pergunta no ar: quem vai pagar pelo terrível prejuízo causado à democracia no Estado do Rio de janeiro? Será que os instrumentos corretivos do poder judiciário vão agir no sentido de punir o uso de instituições – Tribunais, MPs, Estado - para fins políticos?
Certamente o Rio de Janeiro terá a oportunidade de retomar o fio de sua história, se recuperando dos danos e prejuízos que esta aliança espúria entre Executivo e parcela do judiciário promoveu, no entanto, seria muito vem ver os responsáveis por isso tudo respondendo por seus atos. Seria bom para a democracia, para a credibilidade das instituições, para o Rio de janeiro e para o Brasil.

Vicente Portella


9.12.10

Sarney: o novo homem forte do PT

Há coisas para as quais não existe explicação: os mistérios da vida, os segredos do universo, os desígnios de Deus, o hipopótamo e o ornitorrinco, enfim, uma infinidade de coisas. Outras no entanto nem exigem reflexão tão profunda, pois são explicadas pela simples noção de safadeza política.

Passei a vida ouvindo Lula e o PT detonarem os Sarney. A palavra mais carinhosa que petistas de norte a sul do Brasil dirigiam ao dono do Maranhão era LADRÃO. Quem tem mais de 35/40 anos lembra disso. A impressão que se tinha era a de que o PT e seus red caps odiavam a oligarquia sarneysista. Parecia-me até, confesso, que o PT odiava todas as oligarquias. Mas o tempo, que, dizem, é senhor da razão, mostrou que a coisa não é bem assim. Quando se trata de exercer o poder o PT tem todo o talento do mundo para defender o indefensável.

Se alguém dissesse nas décadas de 80 e 90 que os governos do PT teriam Sarney como principal sustentáculo, corria o risco de ser crucificado em praça pública. Os red caps eram nervosos, bufantes, radicais e agressivos. Todas as lideranças de “direita” eram, por eles, associados ao Demônio. Assim mesmo, com tintura religiosa e tudo. Lula era uma espécie de Jesus operário que traria a redenção do povo brasileiro. Inventaram até “intelectuais” petistas que reescreveram teorias e teologias sob encomenda para defender a “causa” partidária.

Pois bem. Com o passar dos anos a coisa foi se mostrando bem diferente daquela discurseira toda. Os “inimigos” atualmente já não são tão nocivos assim, muito pelo contrário. Fernando Collor, quem diria, se transformou em um “valoroso companheiro” e Sarney hoje é tão influente nos governos petistas quanto Lula. Só não se sabe qual está no céu e qual está na terra, mas ambos são venerados e estão cada vez mais parecidos um com o outro.

Dona Dilma, a funcionária de Lula alçada ao cargo de estepe do Presidente da República, anunciou esses dias parte do seu ministério e, creiam, só deu Sarney. 

O poder do God painho é tanto que até Deputado do baixo clero virou Ministro - Um de “seus” Ministérios não era lá grandes coisas, então Sarney mandou um cambono, o que só reafirma a quase soberania de Sarney no atual governo.

Episódios assim servem para nos deixar cada vez mais atentos em relação aqueles grupos radicaizinhos que aparecem por aí vez ou outra, geralmente oriundos da classe média e não muito afeitos ao trabalho. A história está nos mostrando que, depois de um tempo, consagrados como alternativa, eles assumem o poder e se mantem nele “ad eternum” fazendo aliança até com o próprio Demo, se necessário. Se alguém reclamar eles culpam o povo, como fez Lula...

Quem quiser que brigue com o povo, que elegeu Sarney e Tiririca. Eu não tenho culpa.



Se há algo que não se pode negar, nessa história toda, é a capacidade camaleonicamente política do PT em termos de fisiologismo. Quando todos apostavam que acabariam com isso, eles reinventam o conceito de ética e passam a dar aulas da matéria. São professores, não há dúvidas. Mesmo que seja da matéria mais putrefata da história brasileira.

2.12.10

O assassinato oficial da liberdade ou: A DITADULA

Lula deixa o poder oficialmente em dezembro, mas ficou bem claro, hoje, que continuara dando as cartas no próximo governo. Em entrevista para rádios comunitárias, que funcionam como satélites do PT, o Presidente disse com todas as letras que o próximo Ministro das comunicações terá a tarefa de intervir na mídia, controlando a imprensa brasileira. 
Curiosamente, Lula e o PT foram, no decorrer dos anos, escandalosamente beneficiados pelos meios de comunicação no Brasil. 
Quando ainda era um ilustre desconhecido - um mero grevista do ABC - a imprensa, por meio de milhares de profissionais simpatizantes do PT, se mobilizava para dar alguma notoriedade à Lula, o nordestino que falava errado e representava uma “ameaça” para a ditadura. Para garantir a sua presença no segundo turno das eleições de 1989, inclusive, a TV Globo criou até personagens para novelas, com uma abordagem romântica, é claro, impregnados pela doutrina petista. 
Foi a imprensa a grande responsável pela gigantesca popularidade que Lula desfruta hoje. Mesmo diante de derrotas achapantes, a mídia sempre insistiu em outorgar-lhe uma auréola de injustiçado, de pobrezinho, de operário ingênuo que poderia ser o redentor dos pobres e miseráveis do País. Mesmo durante seu mandato a imprensa sempre foi benevolente com Lula, mesmo porque, se agisse de outra maneira, o atual presidente não resistiria a comparações com seus antecessores, por mais simples e simplórias que estas fossem. 
Se Getúlio deixou a industrialização do País e as leis trabalhistas, se JK deixou Brasília e a modernização da economia; se Itamar Franco restaurou a dignidade politica e Fernando Henrique, juntamente com o próprio Itamar, nos legou a estabilidade financeira e social, Lula, por mais popular que seja, não deixou absolutamente nada como legado. 
Por mais que a imprensa o adule, não há um só elemento que se possa admitir como marca do Governo Lula, exceto a corrupção escancarada e o aparelhamento do Estado. Algum petista apaixonado, e muito bem pago, pode até bater no peito e falar do PAC, mas o fato é que este, um mero conjunto de obras, não saiu do papel no Governo Lula e provavelmente não saíra também no Governo de sua empregada. 
Talvez nem 20% das ambições iniciais tenham sido executadas, por mais que a imprensa se “esqueça” de abordar esse tema. 
Em todas as áreas do Governo, Lula simplesmente deu continuidade ao trabalho de outros presidentes. Na economia, manteve a linha FHC; no social, seguiu Itamar; na arte de faturar cada ponto positivo, seguiu Getúlio... E assim, atravessou 8 anos sem identidade própria de governo, apesar de ter sua personalidade cada mais cultuada pela mídia. 
Todo os espaço midiático negado a Brizola, Arraes e outros tantos líderes brasileiros, foram dados de mão beijada à Lula. Mesmo assim, no entanto, o Presidente não está satisfeito. 
Ao que tudo indica teremos em breve uma liberdade tutelada. Sempre que alguém quiser publicar alguma coisa terá que pensar duas vezes, ponderar se o governo concorda ou não com tal matéria, artigo, ou mera expressão de opinião, para só então decidir se vale a pena publicar. 
Já vivemos um período assim, entre 64 e 85 do século passado, que se convencionou chamar ditadura. Nos dias atuais, é evidente, a coisa vai ser feita de forma diferente. Com sorrisos, ao invés de cassetetes, e com aprovação dos “representantes do povo” no congresso nacional. 
A grande pergunta que fica no ar é se a mídia em geral vai aderir ao conceito de “Mídia comunitária” e ficar caladinha em troca de generosos patrocínios ou se vai, de alguma forma, espernear, protestar ou até lutar contra o assassinato oficial da liberdade no Brasil. 
Quem cala, consente. Já diz o velho ditado. 


Vicente Portella 

29.11.10

De volta ao mundo real...

A retomada do morro do Alemão pelas tropas policiais foi um espetáculo e tanto. Talvez até entre para história como a primeira guerra sem confronto que se tem notícia desde o começo das eras. 
Diziam os “especialistas” que havia 600 bandidos armados até os dentes no topo daquele morro, tão temido nos últimos anos, e tido como inexpugnável, mas, por incrível que pareça, apenas uns poucos bandidos foram presos. Nem 10% do total previsto. 
Ficamos quase 48 horas ouvindo histórias fantásticas sobre as táticas militares e o poder de fogo dos bandidos e no final das contas, depois de tudo acabado, apareceram apenas algumas espingardas de atirar em compadre. As armas apreendidas não lembram nem de longe aqueles poderosos fuzis ostentados pela bandidagem em tantas e tantas reproduções televisivas. Na verdade, as armas de ontem pareciam mais restos da primeira guerra mundial. 
Apesar disso, no entanto, mesmo que frustrante do ponto de vista das prisões e apreensões, considero importantíssima a retomada do Alemão. Só fico me perguntando: e o resto? 
O tráfico continua senhor absoluto em cerca de 150/200 favelas do Rio de Janeiro, algumas, inclusive, famosíssimas, como Rocinha, Maré, Mangueirinha, etc. Em outras tantas, principalmente na Zona Oeste, quem manda é a milícia. O que estamos comemorando, então? Um primeiro passo? Tá legal, concordo. Se estamos empolgados apenas com a “descoberta” da nossa capacidade de reagir, maravilha. Nos basta então direcionar esta descoberta para dar prosseguimento ao combate. Mas se alguém acha que uma ação exitosa no alemão representa a vitória definitiva da sociedade contra a bandidagem, nesse caso estamos mal. Muito mal. 
Hoje é segunda feira. Passaram pouco mais de 24 horas da tal batalha do Alemão e a coisa continua “brabíssima”. 
Conversando hoje cedo, via internet, com uma amiga que trabalha em Inhaúma, descobri que lá o pânico e o medo continuam na moda. Tiroteio ainda é comum e helicópteros continuam assustando as pessoas. Fora do entorno do Alemão, portanto, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, sem qualquer motivo aparente para promover a “refundação” da cidade, como quer o Prefeito. 
Passado os efeitos alucinógenos da intervenção midiática, que transforma a dor real em obra de ficção, seria muito bom se as pessoas voltassem ao mundo real, colocassem os pés no chão... A vida não é filme para ser definida pela orientação de roteiristas e coreógrafos. A vida é algo mais complexo. 
Na verdade a guerra ainda não acabou, e, pelo menos na maior parte da cidade e do Estado, o fato é que ela nem começou ainda. O povo do Alemão tem todos os motivos do mundo para comemorar, mas o restante de nós, mortais comuns, ainda é refém da violência e da bandidagem. 

10.11.10

A bolinha de papel mais cara do mundo: 2,5 bi.

O Lula é um cara muito generoso. Deu um dinheirinho considerável para o Haiti, perdoou as dívidas de vária ditaduras africanas com o Brasil e agora deu mais 2 bilhões e meio de presente ao Sílvio Santos, o homem do baú, para socorrer seu banco, o Panamericano. 
Menos da metade dessa grana resolveria o problema de água da Baixada Fluminense ¹, mas Lula, na condição de Presidente altamente popular, com 345,33% ² de aprovação nas pesquisas, não precisa se dar ao luxo de atender a demanda de abastecimento de água do Zé povinho, então pode jogar dinheiro avanço entre seus aliados e amigos. Afinal de contas o dinheiro não é dele mesmo... 
Mas porque Lula daria tanto dinheiro para Sílvio Santos? É de se estranhar que alguém que prega intervenção estatal nos meios de comunicação seja tão condescendente com um de seus proprietários. Mas a campanha do segundo turno explica bem isso. 
SS e Lula tiveram um papinho reservado durante a campanha - quando SS disse que tentou vender uma Tele Sena para o Presidente - e logo depois disso o SBT suspendeu o debate que estava marcado entre Serra e Dilma. 
Naquele momento, a candidata do Presidente claudicava, perdia forças e era questionada por vários segmentos da sociedade por conta algumas de suas históricas posições políticas. Dilma tremia à cada encontro com Serra, perdia a linha, agredia e chegou até a defender de maneira velada sua amiga Erenice, insinuando que as acusações contra ela eram “armação” da imprensa. 
Logo depois de suspender o debate, quebrando um galhão e tanto para a escalafobética candidata, o SBT fez uma cobertura inacreditável da agressão sofrida por Serra no Rio de Janeiro, resumindo a ação das brigadas mussolinistas do PT à uma mera galhofa, uma bolinha de papel. Foi o SBT quem proporcionou ao Presidente da República, não apenas a minimização da atitude fascista de seus companheiros, mas, acima de tudo, a oportunidade de culpar a vítima e até a tentativa de negar o ataque. Lula deve realmente ter ficado muito grato ao “cumpanheiro” SS.³ 
Agora, passadas as eleições e com a vitória assegurada, entende-se a posição de Sílvio. Ganhar 2,5 bilhões de reais só pra suspender um debate e expor o adversário do Presidente ao ridículo é bom demais. Coisa simples e lucrativa para empresários da estirpe de SS. 
Certamente foi a bolinha de papel mais cara do mundo, mas e daí? Quem tá pagando a conta é o Zé povinho mesmo... E se alguma coisa der errado no novo Governo, a NeoCPMF já está na fita. Será uma bela reserva em caixa para situações semelhantes. 
A brigada fascista do PT pode ficar tranquila, o que não vai faltar é patrocínio para suas ações. 



1 – Esgoto, habitação, transporte... essas coisas então nem se fala. 
2 – Apesar de ter eleito sua ungida só aos 48 do segundo tempo e à duras penas. 
3 – É bom lembrar que logo depois, no debate da Globo, as regras e até o formato foram mudados para evitar o confronto que tanto prejudicava Dilma. 

8.11.10

Tropa de elite 2, a missão.

Quando o primeiro filme “Tropa de Elite” foi lançado, há alguns anos, boa parte da mídia, inclusive o jornal inglês The Guardian, - Conor Foley vociferou à plenos pulmões, taxando a obra como fascista. Daqui do nosso Blog eu discordei. Tratava-se apenas de uma abordagem realista da sociedade brasileira, focada no Rio de janeiro, com algumas pitadas de frustração sociológica. Pois bem, o segundo filme da série esta nos cinemas e arrasta multidões, com chances de se tornar o maior êxito do mercado cinematográfico brasileiro de todos os tempos.
O herói egocêntrico, Capitão Nascimento, volta como uma espécie de Rambo tupiniquim e desta vez faz questão de se justificar, de dizer que não é fascista. E isso é verdade. Trata-se apenas de um personagem voluntarista, insurreto e sem ideologia que aprendeu com a vida a resolver tudo na base da porrada. O Capitão Nascimento, na verdade, encaixa-se como uma luva em nossa cultura individualista e conspiratória. 
O primeiro filme foi interessante por implementar, artisticamente, um certo realismo, tanto em termos de roteiro quanto de interpretação e direção. Aliás, se há uma coisa que dignifica a obra são seus atores, sem demérito nenhum ao diretor, é claro. Além disso havia uma certa tendência à afronta do status quo, uma vontade de ser politicamente incorreto, talvez fundamentada nas experiências frustradas de alguns de seus idealizadores e na necessidade deles de vomitar essas frustrações, mesmo que fosse no colo do distinto público.
O segundo filme, entretanto, não é nada disso. Tecnicamente bem feito, bem interpretado, bem dirigido, o trabalho limita-se à uma colagem de fatos reais ocorridos em diferentes momentos de espaço e tempo, recriados ficcionalmente. É interessante. Mas o que antes tinha a intenção de meter o dedo na ferida, agora é apenas uma crônica social e política. Até mesmo o tempero sociológico teve sua dosagem alterada para menos.Muito menos.
Há, no entanto, um aspecto curioso deste novo filme: seus personagens e a relação que se estabelece com elementos reais entrelaçados aos fatos utilizados como referência para o roteiro.
A histórica rebelião no complexo prisional de Bangu, por exemplo, ocorreu no Governo Benedita, mas o Governador do filme se parece infinitamente mais com Cabral. O personagem Rocha, líder do esquema das milícias, é uma mistura clara de um ex vereador, atualmente preso, que comandava Campo Grande, com um falecido inspetor de polícia que atuava em Rio das pedras, ambos bairros da Zona Oeste dominados pelas milícias. Só que o Rocha do filme é policial militar e não civil. 
Muita gente ficou curiosa com o personagem do Deputado esquerdista - utilizado para limpar a barra do Capitão nascimento no seio da classe média, retirando-lhe a pecha de fascista - novo marido da ex mulher do herói. Arrisco-me dizer que o mesmo foi inspirado em Chico Alencar e Marcelo Freixo, bons Deputados e ídolos da garotada esquerdista do Rio. O “Fraga” mistura os dois.
Já o Deputado de Direita, o tal que é também apresentador de TV, me pareceu muito longe da figura do Wagner Montes, como disseram alguns por aí. Se assemelha muito mais à uma mistura de Datena e até do próprio Wagner, no aspecto televisivo, com alguns Deputados do PMDB na Alerj. Um deles, inclusive, ex Deputado, da Zona Oeste, cassado, acusado de corrupção.
Enfim, o “Tropa de elite 2” cumpre sua missão de aliviar a barra do ex fascista Capitão Nascimento junto a classe média, transformando-o em referência à partir de uma aliança com intelectuais de esquerda.
Na verdade isso não está muito longe da realidade, até Sarney e Collor se tornaram heróis ao se aproximarem dos ícones da intelectualidade consentida e oficialmente estabelecida. Coisas da vida. E viva o Brasil.


Vicente Portella

7.11.10

Sua excelência, a Presidenta...

Como diz o velho axioma, o jogo é jogado e o lambari é pescado. Dilma ganhou, Dilma leva. Essa é a regra do processo democrático. Acompanhei pela net, principalmente twitter, uma gama imensa de beocidades relativas ao resultado eleitoral. A pior delas foi a tentativa de se estabelecer uma divisão no Brasil agredindo os nordestinos por suas opções eleitorais. Isso é absurdo, nem vale a pena levar em consideração. Aliás, para quem não sabe, boa parte do cabedal cultural brasileiros vem do norte e do nordeste, que tem um povo fantasticamente criativo.
Dito isso, vamos a questão principal: reservo-me o direito de fazer oposição ao novo governo por uma simples questão de falta absoluta de afinidade. Não torço pra Dilma fazer besteira, destruir o País, nem levar a nação ao caos, e espero sinceramente que nada disso aconteça. Mas não coaduno com o aparelhismo nem com algumas atitudes que ressuscitam o modo mussolinista de ser. Não aposto na agressão como método de trabalho e não acredito que a orientação vencedora seja capaz de levar o Brasil à evolução, ao crescimento econômico e muito menos ao desenvolvimento cultural e educacional. O Enem e o banimento de Monteiro Lobato das esferas educacionais pelo Ministério da Educação por meia dúzia de obtusos corroboram com esse meu sentimento.
Reservo-me também o direito à crítica, ao uso do humor, da chacota e até do esperneio como estratégias de sobrevivência política e preservação dos neurônios frente ao governo que se avizinha. É direito meu e não abro mão.
Admito que a questão dos erros do Enem possa ser considerada pontual e creio até que o novo Ministro da Educação, por mais deseducado que seja, possa resolver o problema, mesmo que acabe aprovando todo mundo antecipadamente com alguma bela retórica alicerçada pela igualdade de direitos.
A Cultura, eu sei, vai continuar aparelhada, mas torço também para que o novo titular da pasta - ouvi dizer que é o Tiririca - obtenha êxito, mesmo que seja apenas com sua própria alfabetização. Isso já seria uma avanço fantástico, nunca antes ocorrido nesse País.
Desejo boa sorte à Erenice, ao Zé Dirceu, ao Delúbio, ao Genoíno e até mesmo àquele sujeito da Land Rover, cujo nome não me ocorre. Espero que todos fiquem muito bem posicionados no Governo , até porque, se eles estiverem ganhando muito bem, teoricamente, a necessidade de desvio de dinheiro público será menor.
Desejo muito boa sorte ao Lula em sua aposentadoria. Que ele possa contribuir com seu carisma e seu jeito simpaticão de ser para os avanços que o ABC paulista necessita. E acho muito bom ele se fixar por lá, pois não dou 6  meses para a Dilma começar a achar que ele só atrapalha e taxa-lo de estorvo, o que, convenhamos, pode ser algo terrivelmente perigoso. 
Que Deus proteja o Lula, que, afinal de contas, tem uma bela história de vida apesar de ter o dedo podre no que se refere à indicações.
Tenho dito.
OBS: Se a coisa complicar demais eu peço exílio à alguma nação estrangeira, desde que não seja Venezuela nem Irã.

5.11.10

A prova da extorsão...

É  ou não uso do poder público, conferido pelas urnas, pra ganhar dinheiro?
Como dizia Noel Rosa: 
E o povo, já pergunta com maldade... Onde está a honestidade? Onde está a honestidade?

30.10.10

Vamos errar de novo? Pergunta Ferreira Gullar.




FAZ MUITOS ANOS já que não pertenço a nenhum partido político, muito embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos, buscando sempre examinar os fatos com objetividade.Minha história com o PT é indicativa desse esforço por ver as coisas objetivamente. Na época em que se discutia o nascimento desse novo partido, alguns companheiros do Partido Comunista opunham-se drasticamente à sua criação, enquanto eu argumentava a favor, por considerar positivo um novo partido de trabalhadores. Alegava eu que, se nós, comunas, não havíamos conseguido ganhar a adesão da classe operária, devíamos apoiar o novo partido que pretendia fazê-lo e, quem sabe, o conseguiria. 

Lembro-me do entusiasmo de Mário Pedrosa por Lula, em quem via o renascer da luta proletária, paixão de sua juventude. Durante a campanha pela Frente Ampla, numa reunião no Teatro Casa Grande, pela primeira vez pude ver e ouvir Lula discursar.

Não gostei muito do tom raivoso do seu discurso e, especialmente, por ter acusado “essa gente de Ipanema” de dar força à ditadura militar, quando os organizadores daquela manifestação -como grande parte da intelectualidade que lutava contra o regime militar- ou moravam em Ipanema ou frequentavam sua praia e seus bares. Pouco depois, o torneiro mecânico do ABC passou a namorar uma jovem senhora da alta burguesia carioca.

Não foi isso, porém, que me fez mudar de opinião sobre o PT, mas o que veio depois: negar-se a assinar a Constituição de 1988, opor-se ferozmente a todos os governos que se seguiram ao fim da ditadura -o de Sarney, o de Collor, o de Itamar, o de FHC. Os poucos petistas que votaram pela eleição de Tancredo foram punidos. Erundina, por ter aceito o convite de Itamar para integrar seu ministério, foi expulsa.

Durante o governo FHC, a coisa se tornou ainda pior: Lula denunciou o Plano Real como uma mera jogada eleitoreira e orientou seu partido para votar contra todas as propostas que introduziam importantes mudanças na vida do país. Os petistas votaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e, ao perderem no Congresso, entraram com uma ação no Supremo a fim de anulá-la. As privatizações foram satanizadas, inclusive a da Telefônica, graças à qual hoje todo cidadão brasileiro possui telefone. E tudo isso em nome de um esquerdismo vazio e ultrapassado, já que programa de governo o PT nunca teve.

Ao chegar à presidência da República, Lula adotou os programas contra os quais batalhara anos a fio. Não obstante, para espanto meu e de muita gente, conquistou enorme popularidade e, agora, ameaça eleger para governar o país uma senhora, até bem pouco desconhecida de todos, que nada realizou ao longo de sua obscura carreira política.

No polo oposto da disputa está José Serra, homem público, de todos conhecido por seu desempenho ao longo das décadas e por capacidade realizadora comprovada. Enquanto ele apresenta ao eleitor uma ampla lista de re- alizações indiscutivelmente importantes, no plano da educação, da saúde, da ampliação dos direitos do trabalhador e da cidadania, Dilma nada tem a mostrar, uma vez que sua candidatura é tão simplesmente uma invenção do presidente Lula, que a tirou da cartola, como ilusionista de circo que sabe muito bem enganar a plateia.

A possibilidade da eleição dela é bastante preocupante, porque seria a vitória da demagogia e da farsa sobre a competência e a dedicação à coisa pública. Foi Serra quem introduziu no Brasil o medicamento genérico; tornou amplo e efetivo o tratamento das pessoas contaminadas pelo vírus da Aids, o que lhe valeu o reconhecimento internacional. Suas realizações, como prefeito e governador, são provas de indiscutível competência. E Dilma, o que a habilita a exercer a Presidência da República? Nada, a não ser a palavra de Lula, que, por razões óbvias, não merece crédito.

O povo nem sempre acerta. Por duas vezes, o Brasil elegeu presidentes surgidos do nada -Jânio e Collor. O resultado foi desastroso. Acha que vale a pena correr de novo esse risco?

Ferreira Gullar

28.10.10

Ilmo Sr. Chico Buarque



Amigo Chico 
Muito te admiro 
O meu chapéu te tiro 
Muito humildemente 

Todo o meu povo 
agradece a blusa 
do PT  e recusa 
elegantemente 

Meu caro amigo 
Um voto sem motivo 
É algo explosivo 
Não me queira mal 

Se apostarmos 
Nas urnas erradas 
O Brasil se acaba 
Mergulha no caos 

Amigo velho 
Fugi do conselho 
Troquei teu vermelho 
Por um tom azul 

Mas quis o verde 
Que te quero verde 
Junto com o amarelo 
E o cruzeiro do sul 

Pintei um sol naquela tua estrela, 
não quero mais vê-la, 
Pus um branco sutil 

Virei-lhe o listrado do peito 
E nasceu desse jeito 
Uma bandeira do Brasil 



Com um abraço do seu maior admirador, Vicente Portella, que vota Serra 45

26.10.10

O Brasil do futuro – Serra Presidente

Dizer que Lula manteve as diretrizes econômicas de FHC seria chover no molhado. Até o atual Presidente do Banco Central , Henrique Meireles, é, como se sabe, um quadro do PSDB, eleito Deputado Federal em Goiás no mesmo ano em que Lula se elegeu Presidente. Sob o ponto de vista social a estrela do Governo Lula é o Bolsa família, programa que fundiu em um só os vários programas assistenciais de FHC, bolsa isso, bolsa aquilo, etc. Também nesta área, portanto, Lula seguiu os passos de FHC. 
Politicamente, a coisa não foi muito diferente. Lula e o PT se opuseram à todas as privatizações ocorridas no País, mas, curiosamente, nenhuma delas foi revertida. Muito pelo contrário. Lula até superou FHC em alguns casos, tanto na privatização da extração de petróleo, abrindo a Petrobras para empresas do mundo todo, como nas estradas, onde as privatizações ocorreram sem que as empresas favorecidas desembolsassem sequer um centavo. Lula doou as estradas alegando que os pedágios seriam menores e os investimentos maiores. Não foi isso o que aconteceu. 
Em termos de política externa, no entanto, Lula não seguiu FHC. Pelo contrário, fez exatamente o oposto. Nesta área pode-se dizer, com segurança, que Lula e PT adotaram uma plataforma absolutamente própria, original e até surreal, pois seu governo redirecionou todas as parcerias estratégicas do brasil. Atualmente, ao invés de termos como parceiros primordiais as grandes democracias do primeiro mundo, encravamos nossa âncora solidamente nos governos “revolucionários” do Irã, da Venezuela e em mais um amontoado de países africanos, nos quais Lula fez questão de abrir representações diplomáticas. Somos hoje aliados preferenciais de Ahmadinejad, de Chaves e de muitos dos ditadores que pululam em minúsculas e sangrentas republiquetas. Somos parceiros do apedrejamento de mulheres adúlteras, da bomba nuclear e da intervenção do Estado na vida do cidadão e na imprensa. Tornamo-nos amigos inseparáveis daqueles que defendem, oficialmente, o aparelhamento das instituições. 
Lula teve seus méritos, é verdade. Mas seus deméritos são infinitamente maiores. Essa outra face do Governo Lula, a que não seguiu os passos nem de FHC, nem da democracia, é algo tenebroso, catastrófico. Para garantir maioria no congresso, 20 anos de discurso pautado na ética não impediram Lula e PT de instituir o mensalão, instrumento de compra de parlamentares liderado por José Dirceu. Nunca na história desse País, como diz Lula, a corrupção, o roubo, a pilhagem do patrimônio público e a degenerescência política ocuparam um espaço tão portentoso na estrutura de um Governo quanto neste período pós mensalão. O Estado brasileiro transformou-se em uma versão piorada da famosa “Casa da mãe Joana” e os valores da sociedades foram estuprados em praça pública. 
Onde há dinheiro e poder há corrupção, dizem, mas no Governo Lula ela deixou de ser exceção para se tornar regra, uma coisa corriqueira jamais combatida nem pelo chefe do executivo. Ao contrário disso, Lula e PT, sempre que questionados, ou não sabiam de nada ou justificavam a ação danosa de seus parceiros apontando o dedo, criminosamente, contra adversários e os acusando de atos parecidos que, a bem da verdade, nunca ocorreram em proporções semelhantes. Ao invés de combater a corrupção o Governo Lula legalizou-a com a lógica do “ rouba, mas faz”. 
Tudo isso, a conivência, a leniência, a tolerância, o incentivo à tungagem da coisa pública como estratégia de perpetuação no poder, fizeram de Lula um líder menor. Alguém que usa seu prestígio junto as massas para obter lucros para si, para sua família – Lulinha – e seus companheiros. Mais que isso, o comportamento de Lula no exercício do poder, desmoraliza até mesmo as teses pseudo esquerdistas das quais o PT se apropriou nos seus vinte e tantos anos. 
Em síntese pode-se dizer que Lula até encheu a barriga de alguns pobres e enriqueceu seus companheiros, mas fez muito mal ao Brasil ao nivela-lo por baixo, ao tornar a desonestidade um hábito, uma ferramenta de trabalho, e ao apequenar o cargo político mais importante do País. 
Lula, na verdade, não é de esquerda nem de direita, é Lula. A prova disto é que, como último ato de sabotagem ao seu próprio partido, para não correr riscos durante o ostracismo que se avizinha, Lula resolveu apoiar um poste para sua sucessão, uma aventureira que nunca teve papel de destaque em nada do que fez em toda a sua vida. Uma pessoa que sempre foi subordinada e nunca representou ninguém além dela mesma. Dilma Roussef é um zero à esquerda. Lula até poderia usa-la para mostrar quem manda no PT, para deixar claro que o PT, para ele, Lula, não passa de massa de manobra. Impor Dilma ao Brasil, no entanto, é uma temeridade que trai até seus mais fiéis eleitores no seio do povo, pois, deste, Dilma nunca suportou nem o cheiro. Para garantir seu retorno ao Poder em 2014, Lula empurra pela goela da nação abaixo um purgante aditivado, apostando no caos. 
A sociedade, no entanto, não está encabrestada por Lula e pode reagir e escolher o melhor para o Brasil. Comparar Serra com Dilma é até covardia. Serra é de longe mais preparado, mais qualificado, mais experiente e, acima de tudo, honesto. 
O Brasil precisa de gente séria. Não se pode apostar o futuro do País no nivelamento por baixo. Precisamos de grandes governantes. Serra é estadista e em 40 anos de vida pública só fez o bem para o Brasil em todos os cargos que ocupou. 
Eleição não é Fla x Flu, nem Grenal, nem Bavi. Eleição é coisa séria. É o que define o futuro de uma nação. A escolha é entre o orelhão e o celular, entre as estatais para o PT e as estatais para o Brasil, entre Dilma, o atraso, e Serra, o futuro. E Serra é o melhor para o Brasil. Até o PT reconheceu isso ao dar continuidade ao Governo FHC, na economia e no social. Serra45. 


Vicente Portella

23.10.10

Pelé - Primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre o Rei


Reparem na data e nas palavras do Nelson Rodrigues. Sensacional!



Santos 5x3 América, 25/02/1958, no Maracanã, pelo Torneio Rio-São Paulo

Depois do jogo América x Santos, seria uma crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.
O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certeza eternas: — “Eu”. Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.
Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.
Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.


Nelson Rodrigues

20.10.10

Meninas da noite

Meninas da noite 
defloram a lua 
São belas atrizes 
e atuam 
no espaço ordinário 
entre o peito e a palavra 

Suas doces fragrâncias 
agravam 
as coisas do instinto 
Depois, vinho tinto 
suave ou rascante 
pra tornar gigantes 
os seres aflitos 



Meninas da noite 
dispensam os gritos 
das gargantas roucas 
Adoçam a boca 
com mel e saliva 
São como uma brisa 
suave e fresca 
na alma dos loucos 

Meninas da noite 
são flores pra poucos 
e afloram 
nos jarros vazios 
daqueles que amam 
os corpos e as almas 
mas, tolos, naufragam 
com todos os cios 
nas águas dos rios 
devassos e afoitos