13.12.12

Leitura divina


Quando soube que Luiz Fernando Veríssimo estava doente Deus ficou preocupado. Chamou seus assessores e os anjos em geral para uma reunião de emergência e quis saber o que estava acontecendo.
- Quem foi que soltou esse vírus contra o Veríssimo? Quero saber agora.
São Pedro foi o primeiro a desconversar...
- Minha praia é só vigiar a porta, eu não me meto com a decisão sobre quem chega ou deixa de chagar na antessala. Não tenho nada com isso.
Santo Antônio também tirou o corpo fora.
- Eu só cuido de casamento. Se ele quisesse se casar com alguma das suas personagens, por exemplo, tudo bem. Eu daria o maior apoio. Mas esse negócio de vírus eu nem sei como funciona.
Deus olhou para Gabriel com ar de crítica, mas o mensageiro também negou sua participação no processo.
- Alto lá... Eu só entrego as mensagens, chefe. Não as escrevo e muito menos as dito. No caso do Veríssimo, inclusive, não faço uma coisa nem outra. Apenas leio.
Deus já estava ficando irado, por isso, com medo da famosa ira divina, Sarapatel, um anjo hierarquicamente inferior que, lotado na Bahia, ouvia a conversa de abusado, resolveu se manifestar.
- Oh senhor, me perdoe. Eu sou o culpado. Fui ao Rio por ordem do meu chefe, o Grabiel...
- Grabiel é o escambáu... Gabriel. Exijo respeito. Esbravejou o Arcanjo.
- Pois é... Eu fui cumprir uma ordem do chefe - continuou o anjo menor - ele me  mandou capturar o vírus influenza que estava fazendo um  estrago danado no Rio de janeiro. Foi quando eu vi o Veríssimo, ainda sentado dentro do avião, no Santos Dumont, rabiscando anotações num bloco de papel. Me empolguei, fui  tentar bisbilhotar os rabiscos e acabei deixando o vírus fugir. Foi sem querer, Senhor, eu juro.  Juro pelo Senhor. Foi coisa de fã... Eu não queria...
- Chega! - Gritou o pai celestial aparentemente irritado – Saiam todos. Que permaneça apenas o Sarapatel na minha sala.
Assessores, anjos, arcanjos e demais cambonos saíram cabisbaixos da sala do chefe e, porta fechada, ficaram esperando do lado de fora.
- Você trouxe as anotações do Veríssimo? Perguntou Deus à Sarapatel que apenas esticou o braço entregando ao supremo um chumaço de papel.
Sentado em sua solene poltrona impregnada de eternidade o criador sorria a cada texto lido, às vezes até gargalhava.
- Sarapatel – ordenou o supremo estampando um sorriso magnânimo no divino rosto – manda o Gabriel arranjar uma excelente equipe médica para cuidar do Veríssimo. Tô louco pra ver esse esboço acabado e publicado. Vai, vai, vai logo...




29.10.12

Confesso que perdi...


O resultado geral das eleições municipais, consolidado neste 2° turno, foi, para mim, digamos assim, tenebroso. Nem falo do ponto de vista partidário, já que o meu antigo PDT anda em crise existencial agudíssima. Falo mais como cidadão. E pior, um cidadão que ainda se dá ao luxo de conservar certo romantismo tolo mesmo depois dos 40... e tantos.
São Paulo elegeu um poste, uma ameba que anda e fala, o que deveria ser uma coisa constrangedora para qualquer cidadão. Mas a maioria dos paulistas sempre votou muito mal. De Maluf à Haddad, Sampa sempre foi assim. É verdade que Serra é o adversário que todo candidato pede a Deus, mas, mesmo assim, continua sendo coisa de maluco. É como se 55% dos paulistanos saíssem as rua gritando: Viva o mensalão! Viva o mensalão! Mas deixa pra lá. Paulista é assim mesmo.
Aqui no Rio a coisa já começou mal na capital, onde o povo votou claramente a favor da milícia e da lógica do “Rouba, mas faz”. É como se o Rio se paulistizasse e adotasse os padrões ademaristas da São Paulo dos anos 60. O Dono do TRE-RJ, seu Zveiter, ajudou bastante, é verdade. Mas aí é outro papo.
São Gonçalo é a única vitória que eu realmente contabilizo. Não moro em São Gonça e nem conheço o Mulim, mas, inapelavelmente, o segundo colégio eleitoral do Rio de Janeiro deu um “NÃO ROTUNDO” ao Governador, o que não é pouca coisa. Garotinho saiu mais fortalecido ainda para 2014 e apesar das bobagens e mentiras que Globo, dirceuzistas e cabralistas falam sobre o ex-governador, ele é o real contraponto a essa política negocista estabelecida no Estado do Rio de janeiro.
Em Petrópolis eu gostei da eleição do Bomtempo. É o PSB legítimo, de Eduardo Campos, que se descola de PT e PMDB para criar alternativas em 2014. Espero que dê certo.
Na Baixada a tragédia até que não foi tão grande. Apesar de terem elegido uma besta quadrada em Nova Iguaçu e outras tantas em municípios menores, o PMDB perdeu em vários cantos, então houve sobreviventes.
Em Duque de Caxias, minha santa e bela (menos, menos) cidade, a coisa foi mezzo calabreza, mezzo mussarela.
A vitória de Alexandre Cardoso fortalece Lindberg Farias, uma das maiores fraudes políticas da história recente do País, o ex- cara pintada que agora divide o poder com Collor e Sarney numa boa. Mas a culpa é menos do Alexandre que do próprio Lindberg, que colou na campanha, como um encosto, por puro oportunismo político (na pior acepção da palavra). Muito provavelmente Alexandre ganharia a eleição mesmo sem ele, mas se Lindinho apoiasse Washington Reis, Alexandre ganharia muito mais fácil.
É bom lembrar que Lindinho já passou por PCdoB e PSTU, está no PT e ameaça agora cravar seu punhal nas costas do PSB para ser candidato à Governador, pois seus asseclas petistas preferem continuar agarrados as boquinhas oferecidas por Cabral do que bancar sua candidatura. Na verdade Lindinho nem poderá ser candidato, pois é ficha suja. Foi condenado em segunda instância por mutretas portentosas praticadas quando brincava de ser Prefeito, em Nova Iguaçu.
Só me sinto derrotado em Caxias pelo fato de Alexandre Cardoso pregar a privatização da água, que é muito ruim para todos nós, principalmente para a população mais pobre que vai virar escrava da ODEBRECHT.
Mas nesse Brasil petista, onde o dinheiro sai direto do poder público para o bolso dos poderosos da iniciativa privada; nesse País idolatrado por Eike Batista e seus “parceiros”; nesse País dirigido pela governanta que virou mãe do PAC, é assim mesmo que as coisas funcionam.
O jeito é esperar as próximas eleições. Se eu saí vivo dessa, posso dar mais sorte e sair satisfeito da de 2014, né?

Vicente Portella

28.3.12



 1 - O bom de se formar é que você nunca mais precisa concordar com o professor.

2 - No Brasil os políticos tem razão em odiar os professores. É uma classe que geralmente chega ao poder sem nunca ter passado por uma sala de aula.

3 - Em terra de Reis, quem tem olho finge que não vê nada.

4 - Para a grande mídia o jornalista é o estafeta mais bem pago do mundo.

5 - Lembre-se: você só pode emitir sua opinião publicamente se elas forem completamente irrelevantes.

6 - Nunca se regozije por ler ou escrever bem. Isso pode ser considerado bullyng intelectual.

7 - Você pode até matar a cobra, mas jamais mostre o pau.

8 - No mudo dos ricos e poderosos a justiça brasileira se fundamenta na estatística. Age eventualmente e por amostragem.

9 - O ser humano, assim como outros animais, é um subproduto do sexo.

10 - O mundo anda tão estranho que se você sair nas ruas sem sentir um medo terrível  dos bandidos acaba se sentindo deslocado.

11- A honestidade é algo completamente fora de contexto na sociedade moderna. Diógenes desistiu faz tempo....

12 - No poder público a alternância geralmente é feita entre saqueadores e beócios. Raramente eles governam juntos, como ocorre atualmente.

13 - Nossos líderes nacionais são realmente obtusos de pai e mãe, mas, honra seja feita... Os líderes regionais e locais são muito piores.

14 - O poder é exercido pelo voto e o voto é exercido por qualquer um e de forma compulsória. Isso explica em grande parte a estupidocracia.

15 - O Deputado é um Vereador de segunda instância, tem alma menor e poder maior.




6.2.12

O PT vai destruir São Paulo, talvez por vingança.

Com exceção de Luiza Erundina, que logo abandonou a legenda, o PT nunca obteve êxito em São Paulo, nem na cidade, nem no Estado. Em conseqüência disso a facção de Dilma, Lula, Zé Dirceu e Cia sempre faz o possível para desestabilizar os governantes paulistas, sejam Prefeitos ou Governadores. Chegaram até a botar a furiosa militância na rua para espancar Mario Covas, um dos mais brilhantes estadistas que São Paulo já ofereceu ao Brasil.
Vira e meche, pra se vingar da população que se recusa a dar-lhes o voto, petistas organizam movimentos pra lá de suspeitos para forjar “manifestações” em Sampa. Na prática, apenas manobram os anseios dos miseráveis para obter seus intentos.
A facção petista governa o Brasil há quase 10 anos, então já teve tempo de sobra de oferecer terra para os sem terra, habitação para os sem teto e honradez para os sem vergonha, mas nada disso interessa ao comando petista. Cada miserável, na ótica do PT, é um aliado na tarefa de desestabilizar governantes que os derrotaram nas urnas. É vingança pura e simples.
Na prática, a existência desses movimentos desmente, por si só, o discurso ufanista de Lula e Cia. Se o Brasil está tão bom assim, tão maravilhoso que já superou até o Reino Unido, porque existem tantos miseráveis ainda? Tantos sem isso e sem aquilo?
Na verdade a pequenez petista troca o conceito de sustentabilidade pelo de miserabilidade, pois os miseráveis lhes são infinitamente mais úteis. 
Estas ações golpistas, quase todas concentradas em São Paulo, revelam um aspecto bastante interessante da concepção social e política petista, a adoração do demérito. Em qualquer nação civilizada do mundo, objetivos são determinados por planejamentos que incluem o acesso da população a qualificação profissional e acadêmica, mas aqui o PT propõe exatamente o contrário. Quanto mais despreparado, desqualificado e incompetente, mais facilitada será a ascensão do “quadro político” e, consequentemente, mais relevante serão estes aspectos na formação da sociedade. O discurso da pena, da piedade, da compaixão é usado como instrumento de Governo para transformar o País em uma nação de esmoleiros, carentes de tudo e declarados incapazes pelos dirigentes, pedintes oficiais que votam em quem lhes distribui favores.
E assim o Brasil vai ficando cada vez menor, cada vez mais incapaz de se libertar de seus dramas e cada vez mais mergulhados no caos.
A agressividade dos famintos liderados pelos “espertos” tem sido cada vez mais a tônica petista, e a principal vítima tem sido São Paulo. E que ninguém se iluda, se estas ações de desestabilização não ocorrem no Rio de Janeiro ou em outros Estados é porque seus governantes cederam a tese da boquinha petista, distribuídos cargos menores para os plantonistas do caos, para os “líderes” do comando petistas. Caso não o fizessem seriam também reféns de golpistas, de gente que faz apologia a miserabilidade.
A maioria dos “revoltosos” fabricados pelo PT pode até ser constituída de boas pessoas, gente manipulada pelo discurso fácil da picaretagem detentora do poder oficial, mas, independente de qualquer coisa, é gente que está sendo usada para o alcance de interesses escusos, algo que se tornou natural no Brasil, um País subgovernado, mas com governantes tão populares quanto aqueles da finada Alemanha nazista.

27.1.12

O Brasil, a Copa e as olimpíadas


Dia desses li na imprensa que o Brasil “superou” a economia do Reino unido e, estupefato, li e ouvi o comentário ufanista de vários “especialistas” garantindo que a economia brasileira irá superar também a da França em breve. Fiquei me perguntando: Deus meu, em que mundo nós estamos?
O Brasil, que pretende abrigar a próxima Copa do mundo de futebol e as olimpíadas de 2016 é um País que vive com um pé enterrado na idade média. Mais que isso, boa parte do corpo nacional está coberto pelo atraso humano, econômico, político e institucional.
O Rio de janeiro, que pretende abrigar os jogos olímpicos, é não apenas uma cidade abandonada, mas, acima de tudo, um Estado putrefeito. Não há por aqui condições elementares de vida digna em sociedade, exceto, é claro, no trecho entre o centro da cidade e a Barra da Tijuca, mesmo assim com graves distorções.
Na Cidade do Rio de janeiro as pessoas são reféns do crime, seja ele praticado por traficantes, bicheiros ou governantes. Quem se afasta da orla pode tranquilamente perceber o caos que se abate sobre a cidade outrora maravilhosa. A baixa qualidade de vida é gritante, explode diante dos olhos de quem passa. Um desavisado que ande pela zona norte ou zona oeste tem a impressão de estar em outro mundo, na Bolívia, talvez, ou na Guatemala.
Na região metropolitana, a população vive ao Deus dará. Questões básicas como saneamento, habitação, educação, saúde e infra estrutura são completamente ignoradas por governantes que na maioria das vezes não tem sequer discernimento intelectual, ou, em certos casos, moral, para compreender os complexos problemas de uma sociedade. Tudo, na Baixada Fluminense, por exemplo, funciona por combustão espontânea. Planejamento e metas são palavras ignoradas por quem detém o poder nas cidades, tanto legislativo quanto executivo.   Se considerarmos o IDH da Baixada teremos a impressão de estar no Haiti, em Angola ou na Etiópia, com a diferença crucial de que nossa região metropolitana não foi assolada, pelo menos ainda, por nenhuma guerra ou guerrilha urbana.
Diante de tudo isso – e nem falamos do Piauí ou do Maranhão – como pode o Brasil ser comparado ao Reino unido sob qualquer aspecto? Com que instrumentos a imprensa sustenta tal delírio? Será que estamos, em plena democracia, readotando a mentalidade ufanista da última ditadura? Sinceramente, não me surpreenderia se Governo, base aliada e mídia governista adotassem como slogam o velho “Esse é um País que vai pra frente” ou até mesmo o nefasto  “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
O fato é que dinheiro em jogo, com perspectiva de Copa e olimpíada, vem em quantidades monumentais. O mesmo dinheiro que sempre foi negado para a infra estrutura nacional, para as demandas elementares da população, para os investimentos sociais, educacionais, culturais, etc, vão agora jorrar dos cofres públicos. Mais uma vez, porém, infelizmente, o dinheiro público não será utilizado para construir uma nação, mas apenas para uma baita maquiagem. Tá aí o Maracanã como prova disso: Uma reforma de um bilhão e o estádio nem será utilizado na Copa.
Sinceramente, não vejo motivos para, como o Conde Afonso Celso, dizer que “me ufano do meu País”. Seria melhor aprender com quem sabe e investir pesado em educação, cultura e qualidade de vida. Poderíamos fazer uma bela Copa no futuro... Bem alimentados, bem instruídos, saudáveis e orgulhosos de viver com dignidade. Mas por enquanto somos terceiro mundo. Nossos fúteis governantes cultivam essa chaga com paixão.

20.1.12

Duque de Caxias para iniciantes: um retrato 3X4 *

Como diria Jack, o estripador, vamos por partes… Para compreender (Duque de) Caxias é fundamental analisar sua formação, principalmente do ponto de vista sociológico e econômico, mesmo que rudimentarmente.
Nós não fomos colonizados, fomos ocupados e tudo se deu de forma anárquica e confusa, sem planejamento, sem objetivos definidos, sem distribuições de papeis, sem nada.
A Baixada Fluminense era um baita laranjal que foi sendo ocupado a partir do processo de evolução econômica. O Brasil saiu do mundo agrário para arriscar alguns passos na industrialização e com isso as necessidades da galera foram se modificando, se modernizando, metamorfoseando, sei lá… O fato é que fomos da figura A para a figura B.
O Rio era a capital do país e, por conta disso, o processo aqui se deu de forma acelerada. Alguém tinha que construir os prédios, praças, pontes, viadutos, panelas e caldeirões para a nova civilização que se formava, por isso veio gente de todo canto para o Rio, principalmente do Norte e do Nordeste. Por uma série de fatores inexplicáveis, acabamos nos tornando, felizmente, uma referência para o povo nordestino no Sudeste. Ataulfo Alves tinha um sítio em Xerém e o vendeu para Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Aquele pedaço de terra foi o embrião de todo um processo de herança cultural que nos influencia até hoje. Para muitos, tudo pode ter ocorrido por coincidência. Eu, particularmente, acho que foi uma benigna conspiração do universo.
Por outro lado, aquele povo que veio construir as coisas precisava de um lugar relativamente próximo à capital para morar. Como o Rio já era uma cidade bastante cara naquela época para o padrão dos imigrantes, boa parte do pessoal foi se assentando por aqui mesmo. A galera precisava de grandes espaços para viver com suas famílias vindas da terra natal, e isso a gente tinha de sobra.
Com o tempo, foi se formando uma incipiente estrutura de comércio e serviços. Coisa bem simples, o armarinho, a quitanda, a tendinha, depois as padarias, os açougues etc, agregando portugueses e outros imigrantes à nossa história.
A formação foi mais ou menos isso, meio na base da combustão espontânea, o que nos deu a riqueza da cultura nordestina e a angústia de uma economia filosoficamente baseada no lucro imediato e sem maiores preocupações sociais, filosóficas ou até mesmo estruturais.
Isso tudo evoluiu muito pouco com o passar dos anos e Caxias foi cada vez mais se tornando sombra da capital, a ponto de ser considerada uma mera cidade dormitório por muito tempo.
Na prática, mesmo com a vinda da indústria e com o crescimento da economia, a cidade nunca chegou a formar uma burguesia local, pois os comerciantes daqui nunca desenvolveram um espírito de grupo ou de apreço a coisas locais e os investidores da indústria, vindos de fora, não fincaram suas raízes em Caxias. A própria REDUC, apesar de gerar ganhos econômicos via royalties e impostos, não tem, a rigor, qualquer vínculo sociológico com o município. As pessoas trabalham aqui, ganham dinheiro aqui, mas gastam e investem em outras plagas, principalmente no Rio. Graças a isso ficamos sem escolas, sem instituições, sem cultura, sem noção de solidariedade, sem senso de preservação coletiva e sem mais um montão de sentimentos comuns aos povos de outras cidades. Somos a terra dos mandões. Quem ganha o tiroteio político exerce o poder durante algum tempo ao seu bel prazer, sem regras nem freios, e depois se manda. Vai embora. E o próximo mandão vem e faz o mesmo.
Isso tudo faz de Caxias uma cidade perneta. Tem gente talentosa em todas as vertentes, artistas fantásticos, profissionais capazes, etc, mas carece tanto de investidores quanto de público interessados na evolução da alma e do pensamento humano. É como uma pessoa que tem dinheiro para comprar o que precisa, mas não encontra vendedores do produto. Baixo interesse não gera mercado e a lógica atual é sempre a do mercado.
E aí, meu caro leitor pode estar se perguntando: tudo bem, isso todo mundo sabe, mas qual a solução? A solução é o poder, digo eu.
O poder em Caxias sempre foi exercido de forma isolada, sempre por um determinado grupo completamente dissociado da aspiração coletiva e isso se dá porque participação individual e coletiva é mínima. As pessoas tratam o voto como um ferro quente imposto à mão e que precisa ser jogado fora o mais rapidamente possível. Não há envolvimento. Quase ninguém vê um Vereador ou um Prefeito como representante seu. A participação política é sempre colocada na última prateleira de uma estante gigantesca e a consequência direta disso é a usurpação do poder, pois permite que pequenos grupos possam dividi-lo entre si.
Só para deixar claro, não me refiro a partidos, pois a coisa independe disso. Em todos os partidos há, certamente, ou pelo menos deveria haver, pessoas de bem. O partido, aliás, deveria ser simplesmente um agregador de correntes de pensamento, de filosofias, de concepções e de convicções, sejam estas à direita, à esquerda ou ao centro, se é que tudo isso ainda existe. Quando falo em participação me refiro ao verdadeiro conceito de cidadania. Saber o que alguém faz com o teu dinheiro e que regras serão criadas para o desenvolvimento da tua vida são coisas que deveriam interessar a todos, mas como não interessam, quem detem o poder e o dinheiro faz o que bem entende.
Se a gente reparar bem, percebe que esse desinteresse pela condução da vida na pólis reside tanto no individual quanto no coletivo. Pessoas inteligentíssimas detonam o conceito de participação política, e profissionais de todas as áreas abrem mão de conspirar a favor de seus mais legítimos interesses. Chega a ser engraçado perceber como pessoas e grupos convergem para a concentração do poder nas mãos de poucos e maus políticos. As pessoas de bem, infelizmente, recusam-se a construir possibilidades de evolução coletiva.
Curiosamente isso gera uma situação, além de desastrosa, confusa, pois, na cidade, não havendo exercício de poder nem da parte da burguesia, nem da parte do povo, como ocorre, de certa forma, em Caxias, o conflito de interesses é estéril, fazendo com que a estagnação seja a primeira dama do Município.
Resumindo a ópera, na falta de uma Geni de plantão, só o exercício consciente do poder pode vir a salvar nossa cidade. Todos os setores da sociedade Caxiense deveriam pensar nisso.
Quando o poder for exercido por trabalhadores, burgueses, artistas, pensadores, profissionais liberais, estudantes etc, todos convictos na defesa de seus interesses, seremos uma cidade de verdade. Dói menos e sai mais barato do que sustentar parasitas a pão de ló.
Tenho dito.


* Escrevi este texto originalmente para o Lurdinha , mas resolvi publicar aqui, passado um tempo, pra dividir com a galera por outros meios... :-)