28.10.07

Carlitos na Lapa

Fugindo da lembrança de nossos toscos governantes fui tomar um chope no Carlitos, na Lapa, um bar que fica exatamente no entroncamento entre a Rua do Riachuelo e a Mém de Sá. A frente do bar é escancarada para os Arcos da Lapa e o mesmo tem como vizinho o circo voador, que fica bem ao lado. O chope é bom e a comida é simples e muito boa. Mas acima de tudo a localização estratégica do bar agrada bastante.
De um lado, esquerdo ou direito, conforme a posição que se ocupa à mesa, tem-se a visão da Catedral metropolitana do Rio de janeiro, o que por si só é uma bela visão, além da Fundição progresso, inspirando naturalmente concepções artísticas e culturais. Bem à frente, como já disse, estão os arcos da Lapa, naturalmente monumentais, e um pouco mais adiante, fácil de perceber, está o belíssimo painel que ornamenta o paredão da escola de música da UFRJ. Um turista ficaria extasiado, mas o carioca se sente em casa.
O garçom, seu Abreu, é gente boníssima e nos informa que o bar funciona 24 horas aos fins de semana. Os boêmios agradecem, é claro. A Lapa respira cultura, e como boêmia e cultura caminham lado á lado, o Carlitos funciona como um de seus vários pulmões.
Quem conhece já sabe, mas pra quem não conhece posso afirmar: vale a pena tomar um chope no Carlitos. Vai lá que certamente você vai gostar.

Retrato brasileiro

Senti-me bastante angustiado com a postura nazi-fascista do Governador Sérgio Cabral Filho. Essa coisa de defender a esterilização em massa de mulheres pobres é muito cruel para a minha geração. A tentativa de entender tamanha boçalidade me levou a reflexões várias.
Vivemos hoje em um País completamente idiotificado tanto do ponto de vista cultural quanto do humano. Em um universo de 180/190 milhões de brasileiros, apenas cerca de 100 mil têm o hábito da leitura. Destes, a grande maioria lê e absorve cultura, de um modo geral, completamente alheia a sua própria identidade. Não temos de fato estruturas culturais. Nem de literatura, nem de cinema, nem de música... Não temos nada. Isso se da, por sua vez, por conta da inexistência de um projeto educacional que permita à nossas crianças aprender a ler e compreender um mínimo que seja de sua própria história enquanto ser humano e enquanto povo. Ou seja, nosso processo autofágico se arrasta há décadas e todos nós temos assistido a isso passivamente.
Se por um lado, entre as camadas pobres, essa inexistência de organização social satisfatória gera a miserabilidade, a desesperança e o crime, por outro, entre os ricos, o resultado que temos é uma casta de dirigentes políticos completamente despreparada para exercer qualquer cargo público. Mas o exercem por que a parcela maior da população, bestializada e sem referências, elege esta minoria igualmente desqualificada para o que se propõe.
Se fizermos uma análise superficial das nossas casas legislativas, desde as Câmaras municipais até o congresso nacional, passando pelas Assembléias Legislativas estaduais, poderemos perceber com facilidade que, pelo menos 70% de seus parlamentares, não tem a menor idéia do que signifique seu mandato. Um mandato eletivo, no Brasil de hoje, não representa nada além de uma possibilidade de bons negócios.
No poder executivo a coisa se repete. Municípios, Estados e Federação, salvo raríssimas exceções que apenas confirmam a regra, são dirigidos ou por déspotas nada esclarecidos, ancorados na falta de conhecimento geral da população no que diz respeito ao poder público, ou por espertos negocistas, ambos compromissados apenas com seus interesses pessoais, geralmente financeiros.
Como se não bastasse há ainda as grandes corporações industriais – principalmente na área de comunicação, mas não apenas nesta, sempre dispostas a intervir, seja financiando campanhas ou manipulando a opinião pública, para garantir a vitória de seus parceiros eventuais.
Esta é, por assim dizer, a receita do caos. É assim que nascem, ou como prefere o Governador, são fabricados, governantes tão nocivos à sociedade quanto qualquer traficante de favela. Gente que teu seu êxito sustentado pela desgraça absoluta da maioria das pessoas. Gente que não vale o ar que respira.
Estamos, enfim, atravessando um processo social complexo, mas vamos superá-lo. Certamente teremos a capacidade, em um futuro que espero bem próximo, de banir esta atual casta dirigente da história de nosso País, desde os Municípios até a Federação. Aí sim, vamos construir a organização social que nos é necessária.

25.10.07

Sérgio Cabral, o Herodes pós moderno

Creio que Sérgio Cabral esteja com algum problema grave. Deve ter batido com a cabeça em alguma pedra em uma das várias viagens que fez desde a posse. Só isso explicaria seu comportamento. Ou então foi o tal vírus que, dizem as más línguas, atacou seu cérebro há alguns anos, quando ainda era Deputado Estadual, graças à ingestão de carne de porco com procedência duvidosa.
Sinceramente, eu achei que, depois das declarações elitistas de "Biltrame", o governador fosse desautorizar seu Secretário publicamente e berrar, em alto e bom som, que todos os cidadãos são iguais perante a lei. O que, aliás, determina nossa constituição.
Ao invés disso, no entanto, Cabralzinho foi pra mídia, no melhor estilo Herodes, defender o extermínio de fetos gerados em úteros pobres em nome de um pseudo combate à violência. Trata-se de algo além do abominável.
Não há registro na história da humanidade de um governante qualquer que defendesse tamanha insanidade. O próprio Herodes, quando promoveu o extermínio de bebês o fez em nome do poder e não em nome da ordem social. Nem Hitler teve coragem suficiente para proferir um discurso nesse sentido, o que deixa Cabral a direita dos mais reacionários líderes que se tem notícia.
Não satisfeito em professar o extermínio de fetos, Cabral ainda se deu ao luxo de afirmar que os úteros das mulheres pobres são uma “Fábrica de produzir marginais”. Até Hitler e Mussolini, caso estivessem vivos, se chocariam com uma declaração destas.
No auge de sua aguda crise, uma verdadeira overdose fascista, o Governador chegou a comparar a taxa de nascimento da Lagoa Rodrigo de Freitas com a da Rocinha como justificativa básica para a esterilização em massa dos favelados. Qualquer teórico fascista se sentiria humilhado diante do discurso do chefe do executivo Fluminense.
Em nenhum momento ocorre a Cabral a necessidade de adoção de políticas públicas para resolver os problemas sociais, isso seria pedir muito. Promover educação, cultura, saúde, habitação, saneamento e um mínimo de dignidade aos cidadãos é tarefa difícil e, claro, onerosa. Mas os impostos que pagamos servem exatamente para isso.
Sérgio Cabral caminha à passos largos para se tornar o pior Governante da história brasileira e, infelizmente, meu voto no segundo turno me torna um pouco responsável por esta lástima.
Vou procurar algum amigo advogado e estudar a possibilidade de uma ação, nem que seja no Procon, exigindo meu voto de volta. Não quero ser conivente com a criação de um novo Estado nazista.

24.10.07

Chove chuva...chove sem parar

Tá chovendo muito por aqui, mas isso todo mundo sabe. O que ninguém sabe é do meu receio de que a Lapa se transforme naquela cidade submersa da música do Chico, Futuros amantes. Fiquei tão impactado com a chuva que, preso dentro de casa, tive a impressão de ter visto o Bar Brasil passar boiando pela minha janela.

Mas na verdade essa chuva é boa, muito boa. O sistema de abastecimento de água já estava quase comprometido por conta da estiagem. No interior já tinha rio sequinho. Só fico me perguntando se precisava cair toda a água disponível no planeta num dia só. Mas enfim, esse não é meu departamento e o nosso amigo lá em cima deve saber o que faz.

Há também outros pontos positivos nessa chuvarada. Pela primeira vez em muito tempo os jornais de TV não abrem e fecham suas matérias falando mal do Rio de janeiro, o que já é um avanço. No máximo estão dizendo que o Rio virou um rio, e isso, justiça seja feita, é verdade. O túnel Rebouças que o diga. Se caísse um pouquinho mais de terra no desabamento o túnel se tornaria obsoleto, pois a passagem entre zona norte e zona sul estaria finalmente desimpedida.

Achei engraçado o Prefeito maluquinho botar a culpa na Cedae. Chove de matar sapo afogado e o cara diz que a culpa é justamente da Cia. de águas. Se ele estivesse dando entrevista da Califórnia, diante dos incêndios que rolam por lá, culparia os bombeiros. Ou então o Arnold Shuarzeneger, por interpretar mal a situação. E ainda dizem por aí que o Marketing político é coisa de gente inteligente. Ledo engano. Política é cada vez mais a arte de por a culpa em alguém, e nisso César Maia é mestre.

Enfim, é isso. Amanhã o dia deve ser de sol e espero que o brilho se espalhe por todo o Rio de janeiro. E se o sol não vier amanhã vem depois e tudo certo. O Rio é solo sagrado. E se consegue sobreviver aos seus governantes não é a chuva que vai vencê-lo.

23.10.07

O extreminador de favelados

Como diria o Capitão Nascimento, esse tal de Beltrame, Secretário de segurança do Rio, é um fanfarrão. “Biltrame” provou que é mesmo um biltre, e faz jus ao nome, no seminário sobre segurança publica que rolou na FGV nessa terça, dia 23. A mula gaúcha disse com todas as letras: “Um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (Zona Oeste) é outra.”
Trata-se, portanto, não apenas de um idiota, mas acima de tudo, de um elitista, moralmente incapacitado para o exercício de função pública em plena democracia.
Desde que esse Biltre assumiu a segurança mata-se adoidado no Rio, mas só em áreas carentes. É como se alguém tivesse determinado que pobre “tem mais é que morrer mesmo”, no melhor estilo fascista de Adolf Hitler. Parece que estamos em pleno 3° reich.
Na verdade Sérgio Cabral, seu chefe, vem cumprindo um papel dúbio e estranho. Pra zona sul é intelectual, sensível e progressista. Mas nas áreas pobres, permite uma política de segurança que o transforma em um carrasco das favelas. Até cassada humana Serginho já andou promovendo nestas regiões através de seu secretário “Biltrame”.
Sinto-me a vontade para dizer isso, pois votei em Cabral. Jamais imaginei, no entanto, que ele fizesse nossa polícia voltar aos tempos de Chagas Freitas, ou, pior ainda, aos tempos de Marcelo Alencar, que instituiu a gratificação faroeste para os policiais que mais matassem pobres em operações.
O Rio de janeiro não merece isso. Essa visão míope de segurança pública é incompatível com os espíritos Carioca e Fluminense.
Sérgio Cabral precisa entender que não pode ser levado pela Mídia, defensora destas ações. A Mídia não governa e nem tem responsabilidades, pois não é legitimada pelo voto. E no final das contas, aliás, a culpa vai ser só de Sérgio Cabral mesmo, pois além da mídia não ter legitimidade para governar, Biltrame não tem mandato e, teoricamente, apenas cumpre ordens.
O velho Sérgio Cabral, o pai, fez muito pelo Rio, principalmente na área da cultura, trazendo o samba das favelas para o asfalto. Seria lamentável que seu filho passasse para a história como um mero exterminador de favelados.

17.10.07

Bar novo na Lapa: o Bar das quengas

Abriu um bar novo na Lapa, o “Bar das Quengas”. Na verdade não é novo, mas quando mudei pra cá estava fechado, em reforma.
Então
pra mim é novo.

O ambiente é legal, tudo muito bem transado. Garçons, ao estilo Rio antigo, vestidos de malandro típico com chapéu e tudo. Chapéu panamá, se não me engano, e usando camisa listrada, como no samba genial de Assis Valente. Isso sem falar nas garçonetes, belíssimas, cujas roupas estilísticas não me ocorrem, pois o fato de estarem vestidas soou-me como uma terrível maldade. Fiz questão de apagá-las ( as roupas, não as meninas) da memória.

Passei lá dia desses, mas como já estava vindo de outras plagas a capacidade de observação já estava consideravelmente reduzida. Era uma terça-feira, e mesmo assim estava lotado. Bebi em pé umas duas ou três cervejas em um cantinho do bar que me pareceu cuidadosamente projetado para isso: beber em pé e sentir-se bem.

Do meu ponto de visão ( não necessariamente de equilíbrio aquela altura do campeonato) pude reparar a presença de muitas mulheres bonitas, o que faz com que qualquer bar se torne ainda mais simpático e atraente, principalmente atraente.

Vou voltar lá uma hora dessas... Cerveja gelada e mulheres bonitas são sempre um lenitivo no fim dos dias estranhos, chatos, individualistas e insensíveis atravessados por todos nós atualmente.

Pra quem quiser um oásis fugidio neste nosso imenso deserto existencial, o Bar das quengas fica entre a Men de Sá, a Washington Luiz e a Ubaldino do Amaral. Praticamente em frente ao Restaurante Nova República. Vale a pena.

15.10.07

Chegou a "Tropa de elite"

Como os amigos devem ter percebido, não ando com muita vontade de escrever. Por isso tenho postado textos alheios como forma de homenagear outros autores e ocultar minha preguiça intelectual. Confesso à vocês no entanto que minha preguiça advém do fato de as coisas estarem muito ruins no Brasil.
Mas enfim, como assisti hoje, no cinema, ao filme “Tropa de Elite”, resolvi fazer uma reflexãozinha.
Já tinha assistido à famosa cópia pirata do filme e as diferenças entre esta e a oficial são poucas. Fiquei intrigado, no entanto, com o vendaval de cacetadas que alguns "especialistas" reservaram para o filme nos veículos de comunicação. Teve até um blogueiro do "Globo", cujo nome não chega a me ocorrer nem de longe, que acusou o filme de ser reacionário. Curioso, muito curioso...
Na verdade trata-se de um filme de ação, tecnicamente bem feito, que aborda o tema social de uma maneira diferente daquela convencionalmente usada na arte brasileira.
O filme não é genial, mas impactante. Não é verdade que se trate de uma abordagem do ponto de vista de um policial, como defendem alguns de seus criadores, pois não creio, sinceramente, que a maioria dos policias do Rio de janeiro viva o conflito existencial experimentado pelo personagem principal, Capitão Nascimento. A mim me pareceu mais uma abordagem política e sociológica, bem ao estilo de Luiz Eduardo Soares, co autor do livro “Elite da tropa”. E com uma visão correta em vários aspectos, diga-se de passagem.
Outra coisa a me chamar a atenção foi a estratégia usada para a divulgação do longa de José Padilha, esta sim, genial. Espalhar cópias piratas "sem querer" entre os camelos da cidade certamente foi uma coisa fundamental até para garantir a chegada do filme às telas de maneira satisfatória. Seus criadores, é claro, já tinham plena consciência da capacidade polêmica do filme e agravaram isso.
Quanto às criticas publicadas contra o filme, uma coisa me intrigado: todos os anos assistimos a uma infinidade de filmes americanos apoiados em personagens bem próximos ao Capitão Nascimento. Charles Bronsom, Chuck Norris, Vam Dame, Steve Segal e tantos outros entulham nossas telas desde os anos 60/70 com personagens cujo perfil é moldado na referencia pessoal de mundo e na capacidade de infringir a lei em nome da própria justiça. Nunca vi, no entanto, alguém acusa-los de reacionários com tanta veemência. Será que a revolta é só porque o Capitão do Bope não é dublado?
Aliás, quanto ao Bope, o filme é completamente favorável à este. Chegando até mesmo à imputar ao batalhão uma referencia anti-corruptiva em meio ao caos absoluto. E à isso, realmente, não estamos muito acostumados.
Como se sabe, vivemos no País do caos e a cada trimestre precisamos de alguém transformado em Judas ou inimigo público número 1 para purgar nossas iras.
A bola da vez é o Senador Renan Calheiros, e devemos agradecer a nossa querida imprensa por esta terapia psicanalítica coletiva.
De resto é tocar a vida entre congressistas toscos, desgovernadores e desgovernantes, sempre tendo como referência o mais absoluto caos, característica maior do Brasil. Este sim, tão reacionário quanto qualquer País terceiro mundista.
Se der certo, poderemos eleger alguém decente um dia... Quem sabe?
Se der errado, a gente convoca o Capitão Nascimento pra resolver a questão.