28.10.07

Retrato brasileiro

Senti-me bastante angustiado com a postura nazi-fascista do Governador Sérgio Cabral Filho. Essa coisa de defender a esterilização em massa de mulheres pobres é muito cruel para a minha geração. A tentativa de entender tamanha boçalidade me levou a reflexões várias.
Vivemos hoje em um País completamente idiotificado tanto do ponto de vista cultural quanto do humano. Em um universo de 180/190 milhões de brasileiros, apenas cerca de 100 mil têm o hábito da leitura. Destes, a grande maioria lê e absorve cultura, de um modo geral, completamente alheia a sua própria identidade. Não temos de fato estruturas culturais. Nem de literatura, nem de cinema, nem de música... Não temos nada. Isso se da, por sua vez, por conta da inexistência de um projeto educacional que permita à nossas crianças aprender a ler e compreender um mínimo que seja de sua própria história enquanto ser humano e enquanto povo. Ou seja, nosso processo autofágico se arrasta há décadas e todos nós temos assistido a isso passivamente.
Se por um lado, entre as camadas pobres, essa inexistência de organização social satisfatória gera a miserabilidade, a desesperança e o crime, por outro, entre os ricos, o resultado que temos é uma casta de dirigentes políticos completamente despreparada para exercer qualquer cargo público. Mas o exercem por que a parcela maior da população, bestializada e sem referências, elege esta minoria igualmente desqualificada para o que se propõe.
Se fizermos uma análise superficial das nossas casas legislativas, desde as Câmaras municipais até o congresso nacional, passando pelas Assembléias Legislativas estaduais, poderemos perceber com facilidade que, pelo menos 70% de seus parlamentares, não tem a menor idéia do que signifique seu mandato. Um mandato eletivo, no Brasil de hoje, não representa nada além de uma possibilidade de bons negócios.
No poder executivo a coisa se repete. Municípios, Estados e Federação, salvo raríssimas exceções que apenas confirmam a regra, são dirigidos ou por déspotas nada esclarecidos, ancorados na falta de conhecimento geral da população no que diz respeito ao poder público, ou por espertos negocistas, ambos compromissados apenas com seus interesses pessoais, geralmente financeiros.
Como se não bastasse há ainda as grandes corporações industriais – principalmente na área de comunicação, mas não apenas nesta, sempre dispostas a intervir, seja financiando campanhas ou manipulando a opinião pública, para garantir a vitória de seus parceiros eventuais.
Esta é, por assim dizer, a receita do caos. É assim que nascem, ou como prefere o Governador, são fabricados, governantes tão nocivos à sociedade quanto qualquer traficante de favela. Gente que teu seu êxito sustentado pela desgraça absoluta da maioria das pessoas. Gente que não vale o ar que respira.
Estamos, enfim, atravessando um processo social complexo, mas vamos superá-lo. Certamente teremos a capacidade, em um futuro que espero bem próximo, de banir esta atual casta dirigente da história de nosso País, desde os Municípios até a Federação. Aí sim, vamos construir a organização social que nos é necessária.

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