29.11.10

De volta ao mundo real...

A retomada do morro do Alemão pelas tropas policiais foi um espetáculo e tanto. Talvez até entre para história como a primeira guerra sem confronto que se tem notícia desde o começo das eras. 
Diziam os “especialistas” que havia 600 bandidos armados até os dentes no topo daquele morro, tão temido nos últimos anos, e tido como inexpugnável, mas, por incrível que pareça, apenas uns poucos bandidos foram presos. Nem 10% do total previsto. 
Ficamos quase 48 horas ouvindo histórias fantásticas sobre as táticas militares e o poder de fogo dos bandidos e no final das contas, depois de tudo acabado, apareceram apenas algumas espingardas de atirar em compadre. As armas apreendidas não lembram nem de longe aqueles poderosos fuzis ostentados pela bandidagem em tantas e tantas reproduções televisivas. Na verdade, as armas de ontem pareciam mais restos da primeira guerra mundial. 
Apesar disso, no entanto, mesmo que frustrante do ponto de vista das prisões e apreensões, considero importantíssima a retomada do Alemão. Só fico me perguntando: e o resto? 
O tráfico continua senhor absoluto em cerca de 150/200 favelas do Rio de Janeiro, algumas, inclusive, famosíssimas, como Rocinha, Maré, Mangueirinha, etc. Em outras tantas, principalmente na Zona Oeste, quem manda é a milícia. O que estamos comemorando, então? Um primeiro passo? Tá legal, concordo. Se estamos empolgados apenas com a “descoberta” da nossa capacidade de reagir, maravilha. Nos basta então direcionar esta descoberta para dar prosseguimento ao combate. Mas se alguém acha que uma ação exitosa no alemão representa a vitória definitiva da sociedade contra a bandidagem, nesse caso estamos mal. Muito mal. 
Hoje é segunda feira. Passaram pouco mais de 24 horas da tal batalha do Alemão e a coisa continua “brabíssima”. 
Conversando hoje cedo, via internet, com uma amiga que trabalha em Inhaúma, descobri que lá o pânico e o medo continuam na moda. Tiroteio ainda é comum e helicópteros continuam assustando as pessoas. Fora do entorno do Alemão, portanto, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, sem qualquer motivo aparente para promover a “refundação” da cidade, como quer o Prefeito. 
Passado os efeitos alucinógenos da intervenção midiática, que transforma a dor real em obra de ficção, seria muito bom se as pessoas voltassem ao mundo real, colocassem os pés no chão... A vida não é filme para ser definida pela orientação de roteiristas e coreógrafos. A vida é algo mais complexo. 
Na verdade a guerra ainda não acabou, e, pelo menos na maior parte da cidade e do Estado, o fato é que ela nem começou ainda. O povo do Alemão tem todos os motivos do mundo para comemorar, mas o restante de nós, mortais comuns, ainda é refém da violência e da bandidagem. 

15.11.10

Os Melhores do Mundo

10.11.10

A bolinha de papel mais cara do mundo: 2,5 bi.

O Lula é um cara muito generoso. Deu um dinheirinho considerável para o Haiti, perdoou as dívidas de vária ditaduras africanas com o Brasil e agora deu mais 2 bilhões e meio de presente ao Sílvio Santos, o homem do baú, para socorrer seu banco, o Panamericano. 
Menos da metade dessa grana resolveria o problema de água da Baixada Fluminense ¹, mas Lula, na condição de Presidente altamente popular, com 345,33% ² de aprovação nas pesquisas, não precisa se dar ao luxo de atender a demanda de abastecimento de água do Zé povinho, então pode jogar dinheiro avanço entre seus aliados e amigos. Afinal de contas o dinheiro não é dele mesmo... 
Mas porque Lula daria tanto dinheiro para Sílvio Santos? É de se estranhar que alguém que prega intervenção estatal nos meios de comunicação seja tão condescendente com um de seus proprietários. Mas a campanha do segundo turno explica bem isso. 
SS e Lula tiveram um papinho reservado durante a campanha - quando SS disse que tentou vender uma Tele Sena para o Presidente - e logo depois disso o SBT suspendeu o debate que estava marcado entre Serra e Dilma. 
Naquele momento, a candidata do Presidente claudicava, perdia forças e era questionada por vários segmentos da sociedade por conta algumas de suas históricas posições políticas. Dilma tremia à cada encontro com Serra, perdia a linha, agredia e chegou até a defender de maneira velada sua amiga Erenice, insinuando que as acusações contra ela eram “armação” da imprensa. 
Logo depois de suspender o debate, quebrando um galhão e tanto para a escalafobética candidata, o SBT fez uma cobertura inacreditável da agressão sofrida por Serra no Rio de Janeiro, resumindo a ação das brigadas mussolinistas do PT à uma mera galhofa, uma bolinha de papel. Foi o SBT quem proporcionou ao Presidente da República, não apenas a minimização da atitude fascista de seus companheiros, mas, acima de tudo, a oportunidade de culpar a vítima e até a tentativa de negar o ataque. Lula deve realmente ter ficado muito grato ao “cumpanheiro” SS.³ 
Agora, passadas as eleições e com a vitória assegurada, entende-se a posição de Sílvio. Ganhar 2,5 bilhões de reais só pra suspender um debate e expor o adversário do Presidente ao ridículo é bom demais. Coisa simples e lucrativa para empresários da estirpe de SS. 
Certamente foi a bolinha de papel mais cara do mundo, mas e daí? Quem tá pagando a conta é o Zé povinho mesmo... E se alguma coisa der errado no novo Governo, a NeoCPMF já está na fita. Será uma bela reserva em caixa para situações semelhantes. 
A brigada fascista do PT pode ficar tranquila, o que não vai faltar é patrocínio para suas ações. 



1 – Esgoto, habitação, transporte... essas coisas então nem se fala. 
2 – Apesar de ter eleito sua ungida só aos 48 do segundo tempo e à duras penas. 
3 – É bom lembrar que logo depois, no debate da Globo, as regras e até o formato foram mudados para evitar o confronto que tanto prejudicava Dilma. 

8.11.10

Tropa de elite 2, a missão.

Quando o primeiro filme “Tropa de Elite” foi lançado, há alguns anos, boa parte da mídia, inclusive o jornal inglês The Guardian, - Conor Foley vociferou à plenos pulmões, taxando a obra como fascista. Daqui do nosso Blog eu discordei. Tratava-se apenas de uma abordagem realista da sociedade brasileira, focada no Rio de janeiro, com algumas pitadas de frustração sociológica. Pois bem, o segundo filme da série esta nos cinemas e arrasta multidões, com chances de se tornar o maior êxito do mercado cinematográfico brasileiro de todos os tempos.
O herói egocêntrico, Capitão Nascimento, volta como uma espécie de Rambo tupiniquim e desta vez faz questão de se justificar, de dizer que não é fascista. E isso é verdade. Trata-se apenas de um personagem voluntarista, insurreto e sem ideologia que aprendeu com a vida a resolver tudo na base da porrada. O Capitão Nascimento, na verdade, encaixa-se como uma luva em nossa cultura individualista e conspiratória. 
O primeiro filme foi interessante por implementar, artisticamente, um certo realismo, tanto em termos de roteiro quanto de interpretação e direção. Aliás, se há uma coisa que dignifica a obra são seus atores, sem demérito nenhum ao diretor, é claro. Além disso havia uma certa tendência à afronta do status quo, uma vontade de ser politicamente incorreto, talvez fundamentada nas experiências frustradas de alguns de seus idealizadores e na necessidade deles de vomitar essas frustrações, mesmo que fosse no colo do distinto público.
O segundo filme, entretanto, não é nada disso. Tecnicamente bem feito, bem interpretado, bem dirigido, o trabalho limita-se à uma colagem de fatos reais ocorridos em diferentes momentos de espaço e tempo, recriados ficcionalmente. É interessante. Mas o que antes tinha a intenção de meter o dedo na ferida, agora é apenas uma crônica social e política. Até mesmo o tempero sociológico teve sua dosagem alterada para menos.Muito menos.
Há, no entanto, um aspecto curioso deste novo filme: seus personagens e a relação que se estabelece com elementos reais entrelaçados aos fatos utilizados como referência para o roteiro.
A histórica rebelião no complexo prisional de Bangu, por exemplo, ocorreu no Governo Benedita, mas o Governador do filme se parece infinitamente mais com Cabral. O personagem Rocha, líder do esquema das milícias, é uma mistura clara de um ex vereador, atualmente preso, que comandava Campo Grande, com um falecido inspetor de polícia que atuava em Rio das pedras, ambos bairros da Zona Oeste dominados pelas milícias. Só que o Rocha do filme é policial militar e não civil. 
Muita gente ficou curiosa com o personagem do Deputado esquerdista - utilizado para limpar a barra do Capitão nascimento no seio da classe média, retirando-lhe a pecha de fascista - novo marido da ex mulher do herói. Arrisco-me dizer que o mesmo foi inspirado em Chico Alencar e Marcelo Freixo, bons Deputados e ídolos da garotada esquerdista do Rio. O “Fraga” mistura os dois.
Já o Deputado de Direita, o tal que é também apresentador de TV, me pareceu muito longe da figura do Wagner Montes, como disseram alguns por aí. Se assemelha muito mais à uma mistura de Datena e até do próprio Wagner, no aspecto televisivo, com alguns Deputados do PMDB na Alerj. Um deles, inclusive, ex Deputado, da Zona Oeste, cassado, acusado de corrupção.
Enfim, o “Tropa de elite 2” cumpre sua missão de aliviar a barra do ex fascista Capitão Nascimento junto a classe média, transformando-o em referência à partir de uma aliança com intelectuais de esquerda.
Na verdade isso não está muito longe da realidade, até Sarney e Collor se tornaram heróis ao se aproximarem dos ícones da intelectualidade consentida e oficialmente estabelecida. Coisas da vida. E viva o Brasil.


Vicente Portella

7.11.10

Sua excelência, a Presidenta...

Como diz o velho axioma, o jogo é jogado e o lambari é pescado. Dilma ganhou, Dilma leva. Essa é a regra do processo democrático. Acompanhei pela net, principalmente twitter, uma gama imensa de beocidades relativas ao resultado eleitoral. A pior delas foi a tentativa de se estabelecer uma divisão no Brasil agredindo os nordestinos por suas opções eleitorais. Isso é absurdo, nem vale a pena levar em consideração. Aliás, para quem não sabe, boa parte do cabedal cultural brasileiros vem do norte e do nordeste, que tem um povo fantasticamente criativo.
Dito isso, vamos a questão principal: reservo-me o direito de fazer oposição ao novo governo por uma simples questão de falta absoluta de afinidade. Não torço pra Dilma fazer besteira, destruir o País, nem levar a nação ao caos, e espero sinceramente que nada disso aconteça. Mas não coaduno com o aparelhismo nem com algumas atitudes que ressuscitam o modo mussolinista de ser. Não aposto na agressão como método de trabalho e não acredito que a orientação vencedora seja capaz de levar o Brasil à evolução, ao crescimento econômico e muito menos ao desenvolvimento cultural e educacional. O Enem e o banimento de Monteiro Lobato das esferas educacionais pelo Ministério da Educação por meia dúzia de obtusos corroboram com esse meu sentimento.
Reservo-me também o direito à crítica, ao uso do humor, da chacota e até do esperneio como estratégias de sobrevivência política e preservação dos neurônios frente ao governo que se avizinha. É direito meu e não abro mão.
Admito que a questão dos erros do Enem possa ser considerada pontual e creio até que o novo Ministro da Educação, por mais deseducado que seja, possa resolver o problema, mesmo que acabe aprovando todo mundo antecipadamente com alguma bela retórica alicerçada pela igualdade de direitos.
A Cultura, eu sei, vai continuar aparelhada, mas torço também para que o novo titular da pasta - ouvi dizer que é o Tiririca - obtenha êxito, mesmo que seja apenas com sua própria alfabetização. Isso já seria uma avanço fantástico, nunca antes ocorrido nesse País.
Desejo boa sorte à Erenice, ao Zé Dirceu, ao Delúbio, ao Genoíno e até mesmo àquele sujeito da Land Rover, cujo nome não me ocorre. Espero que todos fiquem muito bem posicionados no Governo , até porque, se eles estiverem ganhando muito bem, teoricamente, a necessidade de desvio de dinheiro público será menor.
Desejo muito boa sorte ao Lula em sua aposentadoria. Que ele possa contribuir com seu carisma e seu jeito simpaticão de ser para os avanços que o ABC paulista necessita. E acho muito bom ele se fixar por lá, pois não dou 6  meses para a Dilma começar a achar que ele só atrapalha e taxa-lo de estorvo, o que, convenhamos, pode ser algo terrivelmente perigoso. 
Que Deus proteja o Lula, que, afinal de contas, tem uma bela história de vida apesar de ter o dedo podre no que se refere à indicações.
Tenho dito.
OBS: Se a coisa complicar demais eu peço exílio à alguma nação estrangeira, desde que não seja Venezuela nem Irã.

5.11.10

A prova da extorsão...

É  ou não uso do poder público, conferido pelas urnas, pra ganhar dinheiro?
Como dizia Noel Rosa: 
E o povo, já pergunta com maldade... Onde está a honestidade? Onde está a honestidade?