30.12.10

Alemão: a versão que virou fato.

Sinceramente, eu ando preocupado com a credibilidade da nossa imprensa. Nos últimos anos o jornalismo foi substituído pela publicidade, tudo bem. Afinal de contas, manda quem paga - essa é uma regra básica do sistema capitalista - mas a coisa também não pode ser assim, tão escancarada. Mesmo porque, omitir os fatos é algo muito diferente de  distorce-los, que por sua vez também é completamente diferente de inventa-los. Nossa mídia atual é assim, inventa fatos.
Apesar dessa mancebia entre mídia e governantes – a mídia é a amante – ocorrer em todas as áreas, é na segurança que o vil metal tem sido aplicado com maior eficácia pelos governos e onde a mídia, por sua vez, tem demonstrado maior talento e criatividade.
A encenação do morro do Alemão é um belo exemplo disso. Até o mais néscio dos eleitores é testemunha de que as forças de segurança ficaram acampadas por horas a fio no entorno do morro enquanto os bandidos ganhavam o mundo. Via-se pela TV que os policiais estavam agoniados, ávidos por fazer seu trabalho, mas os “cabeças “ da segurança não permitiam. Só depois de ter a absoluta certeza de que todos os bandidos estavam à salvo, em outras favelas do Rio, Beltrame e cia permitiram a invasão e o maior complexo criminoso do Rio de janeiro foi “conquistado” em meia hora. Foram inclusive apreendidas algumas armas utilizadas na 1º guerra mundial, além de estilingues, bumerangues, tacapes, arcos e flechas, muitas flechas. Nenhuma arma de "destruição em massa", o que prova que cada governo mutreteiro tem o Iraque que merece.
Tudo isso aconteceu com cobertura ao vivo da mídia, como se fosse uma partida de futebol, ou uma novela, e comentado por um roteirista de cinema. 
Foi uma espécie de Tropa de Elite 3 em tempo real, pra usar uma expressão consagrada pela internet...
Apesar disso tudo, na versão oficial da mídia tratou-se de uma verdadeira guerra, digna de Rambos, Capitães Nascimentos, Shuarzenegeres e até Charles Bronsons, este último para os mais antigos. Na prática, o fato foi substituído por uma versão, a oficial, e a farsa foi proclamada como história. Que os bandidos acuaram o Rio por uma semana, é fato. A tomada do Alemão, no entanto, é outro papo. Tudo, na verdade, foi muito estranho...
Mas tudo bem, isso já tem um mês. De acordo com a mídia o Alemão anda tão fantástico que várias celebridades já estão pensando em fixar residência no morro. Até o Príncipe Charles, da Inglaterra, o nobre mais orelhudo do planeta, já foi cogitado para futuro morador do Alemão juntamente com sua partner, Camilla Parker.
Quando li os jornais hoje nem pensava mais nisso, eis que, de repente, não mais que de repente, me deparo com uma matéria dizendo que a polícia invadiu a Rocinha e os bandidos não reagiram traumatizados com o que ocorreu no Alemão. Alto lá, aí já é um pouquinho demais... Até a estátua do Drumonnd, em Copa, sabe que o tal do NEM, mandão da Rocinha, é amigo de cama e mesa do povo do PMDB. A eleição na favela teve até chapa exclusiva do tráfico com o aval de todos os cardeais do partido, governantes do Rio de Janeiro. Quem tá dizendo isso não sou eu, foi a própria imprensa – ou uma pequena parcela dela – quem disse, durante a campanha eleitoral. E sendo assim, carne e unha, alguém acha que haveria tiroteio? Quantas armas prenderam lá? Cá pra nós, isso não parece um baita jogo de compadres?
Eu, pobre mortal, fico achando que a nossa nobre polícia ganhou uma função a mais: fazer segurança para os vendedores de drogas do Rio de Janeiro. 
Os verdadeiros profissionais de segurança – policiais militares e civis – devem estar fulos da vida com esse esquema, mas, sinceramente, parece que a cúpula do Governo do Rio virou sócia da boca com o apoio da mídia, que deve ter um percentual grande das ações nesse mega negócio.
Só por isso o binômio UPP/ Alemão está tão presente na nossa gloriosa mídia. Trata-se de uma variação da parceria público privada criada no Rio de Janeiro. Todo mundo sai ganhando e quando der algum bode o Governo será outro. Aí a imprensa pode desancar todo mundo, apontar dedo na cara, inventar demônios e culpados, tudo numa boa.
Até lá o Alemão será a panacéia capaz de curar as dores terríveis provocadas pela sede de grana dessa turma. Além do mais, daqui a pouco a galera nem lembra mais disso tudo, né?

27.12.10

A posse do poste, quer dizer, da Dilma.

Lula precisava provar ao mundo o quanto é popular e, para tanto, elegeu um poste. Não satisfeito, mesmo que o poste ainda nem tenha tomado posse, já defende a reeleição desse mesmo poste em 2014. Está provado, Lula é o cara. Mas o que me chama a atenção nessa história toda são as coisas que Lula fez, os modelos que adotou e os princípios dos quais abriu mão para se tornar o cara.
Na década de 80 do século passado Lula criticava ferozmente a corrupção, hoje, convive com ela numa boa e até reinventou alguns de seus conceitos. Na década de 90 do século passado Lula questionava a manipulação da opinião pública via meios de comunicação, atualmente, partilha seu poder com todos os manipuladores históricos dessa mesma opinião pública. Nos anos setenta, também do século passado, Lula condenava o autoritarismo, hoje o cultiva.
Aliás, nos anos 90, é bom que se diga, Lula já começou a descambar para o outro lado do tabuleiro. Fez até reuniões secretas com FHC no palácio presidencial apesar de fingir publicamente que era de oposição. Mesmo assim, no entanto, Lula continuou "revendo seus conceitos". Se antes considerava um absurdo que líderes populares ignorassem o PT em função dos votos obtidos nas urnas, hoje Lula advoga o poder plebiscitário e a extinção de adversários, o que não deixa de ser uma coisa curiosa, para se dizer o mínimo.
A verdade é que Lula nos transformou em reféns do voto. Não me refiro ao voto bom, digno, democrático, eivado de cidadania, mas sim ao voto de cabresto, aquele do favor, da imposição, do coronelismo, da violência, do assistencialismo, da cesta básica e do bolsa família, que ele mesmo criticava antigamente e que atualmente rege, sem qualquer cerimônia, os processos eleitorais pelo Brasil afora. Somos reféns desse voto, que é, na prática, o pior que existe.
Infelizmente, no entanto, Lula se orgulha desse voto, assim como se orgulha de seus novos parceiros, gente como Sarney e Collor. O presidente chegou até a dizer dia desses que não entende os questionamentos neste sentido, pois quem elegeu Sarney e Cia foi o povo. Quem quiser, portanto, que reclame com o povo.Lula disse isso, assim. Com a cara mais dura do mundo, comprovando aquela máxima de que quando se quer conhecer um homem deve-se dar poder à ele. O mais triste é que uma boa parte das pessoas que cultivam estes questionamentos aprenderam a faze-lo com o próprio Lula, no tempo em que ele era operário e de oposição.
Mas enfim, não se deve chorar sobre o chope derramado. O importante agora é descobrir, o Pais inteiro, como sair desta terrível armadilha montada pelos tutores do poder absoluto. Como fazer com que a nação brasileira se desenvolva de verdade, sem mudar as regras do jogo na hora de fazer as contas, sem anexar ninguém a classe média por decreto, sem mentir, pelo menos não descaradamente, impondo às pessoas uma maravilha inexistente.
Particularmente creio que só uma democracia de verdade, onde as pessoas possam se manifestar de verdade e a sociedade possa escolher de verdade seus dirigentes, pode nos oferecer alguma solução. Não dá mais para permitir que manipuladores nos confundam quanto à direitos e deveres, pois sabemos que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Voto é direito, não dever. Ninguém pode ser obrigado a entregar seu voto à candidatos que não valem o ar que respiram. Ninguém pode ser escravo da vontade alheia nem ser obrigado a legitimar processos dos quais discordam. 
Defendo que o Brasil adote o voto livre, ou seja, o voto facultativo, como verdadeiro instrumento de libertação do país. Até porque gente não é gado e as pessoas não podem ser obrigadas a atravessar a vida referendando a vontade alheia.
Quanto a Dona Dilma, o poste do Lula, lhe desejo boa sorte no mandato, é claro. Jamais torceria pelo mal de uma nação inteira. Mas confesso que não alimento qualquer expectativa diferente de mensalões, mensalinhos e acordões para aumentar salários e demais vencimentos de asseclas de toda a sorte. 
Tomara que eu esteja errado.

22.12.10

A grande patuscada

Ando com uma baita pena do Adolfo Bloch, falecido dono da Manchete, que deve estar se revirando no túmulo por conta da inversão do principal slogam de sua revista: Aconteceu, virou manchete.
Nos dias de hoje, em que o jornalismo definitivamente perdeu para a publicidade sua importância e sua capacidade de direção das redações, tudo ocorre ao contrário do que deveria. Os “fatos” são antecipados e mesmo que não ocorram, ou que pelo menos não tenham ocorrido ainda, são tratados como “fatos”.
Qualquer pessoa pode constatar isso lendo os jornais do dia. Geralmente não há uma só notícia, de fato, estampada nas manchetes de primeira página. Todos os governos foram transformados em brilhantes e os governantes, sempre muito generosos com os departamentos publicitários da mídia, são sempre exemplo de sucesso e correção, verdadeiros modelos a serem seguidos.
A saga do morro do Alemão é um bom exemplo disso. A polícia se postou nas entradas, deu tempo de sobra para a bandidada fugir - cerca de 24 horas – e acabou dominando o “impenetrável” reduto do tráfico em duas horinhas, sem prender quase ninguém. Até as armas apreendidas se resumiram a meia dúzia de peças enferrujadas, mas a cobertura jornalística determinou que tudo ali foi lindo e maravilhoso. Mesmo que todas as outras favelas do Rio de Janeiro estejam tomadas por bandidos, sejam traficantes ou milicianos, nossa gloriosa mídia dá como resolvida a questão da violência no Rio de Janeiro. Meia dúzia de UPPs e uma batalha de Itararé foram suficientes para servir de alicerce para a proclamação do que não houve, a pacificação do Estado. Mas a mídia não perdeu a oportunidade de escolher seus heróis: Sérgio Cabral ( que só vem ao Rio quando está distraído) e Lula ( o defensor dos frascos e comprimidos ).
Nos últimos anos a tranferência de recursos públicos para as empresas de comunicação foi tão gritante ( Lula gastou 10 bilhões com publicidade em oito anos e Cabral 500 milhões em seis meses ) que os Governos nem precisam mais de diários oficiais, já que os jornalões fazem cobertura adocicada de tudo que os governantes pedem, embora estes ainda se dêm ao luxo de reclamar de vez em quando. O presidente Lula, por exemplo, considerando pouca a adulação da mídia, criou o grupo de “blogueiros progressistas”, internautas bem situados que são regiamente pagos para utilizar seus blogas em defesa dos interesses governamentais. Muita gente boa que era estrela mas ficou desempregado na grande mídia está liderando esse processo, pois a boca é rica e a generosidade infinita. 
Mas enfim, o Governo de Lula, que apesar das críticas que merece foi um bom presidente em vários aspectos, está acabando, e aí vem Dilma, que é desde já uma incógnita. Ne verdade, desde Itamar Franco, passando por FHC e chegando a Lula, o Brasil vem caminhando bem em vários setores. Os três últimos presidentes foram líderes experimentados, eleitos pelo voto e responsáveis por vários processos políticos antes de se elegerem Presidente. Dilma, não. O fato é que seremos governados nos próximos anos pela Governanta de Lula, uma senhora que nunca se expos ao voto nem nunca assumiu compromissos públicos com quem quer que seja. Sua única fidelidade, largamente testada até aqui, foi à caneta do chefe de ocasião. Nunca deu uma ordem de fato, no máximo, às repassou para o andar de baixo. Nunca correu riscos nem assumiu responsabilidades públicas por seus atos... ou seja, estamos mergulhando em uma noite escura.
Certamente a mídia falará muito bem de Dilma, pelo menos enquanto durar a cornucópia financeira. Resta-nos torcer, e apenas isso, para que a vaidade de Lula não nos custe o naufrágio de um País inteiro. Quem viver ( ou sobreviver) verá.


OBS: Ciro Gomes se recusou a ser Ministro. Pode ser transformado em inimigo nº 1, como ocorreu com Garotinho, que recusou o Ministério dos transportes em 2002.Foi de aliado a demonizado em pouquíssimo tempo

Vicente Portella

15.12.10

TRE-RJ e Cabral: flagrante delito

“Não se trata de questão de direito, mas de investigação. Salta aos olhos a transgressão ao devido processo legal. Temos algo que não apenas arranha o devido processo legal, mas fere de morte.”

Ministro Marco Aurélio Mello.

O TSE devolveu, ontem, a dignidade ao processo político do Rio de janeiro, mas ficaram seqüelas gravíssimas. A afirmação do Ministro Marco Aurélio Mello transcrita acima desnuda o TRE-RJ e expõe a conivência, o compadrio; a verdadeira sociedade estabelecida entre executivo e parte do judiciário em nosso Estado para garantir a reeleição de Sérgio Cabral.
Fica clara a atuação do TRE-RJ como braço político do Governo executando a tarefa de tirar do páreo eleitoral o mais forte opositor do atual mandatário.
Nem cabe aqui uma defesa política propriamente dita do ex Governador Anthony Garotinho, mas do processo eleitoral em si e da causa democrática, do direito que as pessoas têm de eleger seus candidatos, direito esse assegurado pela constituição.

A cidade de Campos passou dez anos mergulhada em um profundo lodaçal corruptivo sem que nenhuma voz tenha se levantado para cobrar uma posição pública da quadrilha instalada no poder daquele município, mas bastou Rosinha ganhar as eleições para que todos os olhos do poder se voltassem para a maior cidade do Norte Fluminense. Cabral sabia que ali estava o embrião de uma futura campanha de Garotinho. Um bom Governo de Rosinha significaria a retomada do processo que levou o casal ao poder na década de noventa.
Veio a primeira vitória dessa nova fase e imediatamente, assim que Garotinho lançou seu nome como possível candidato a sucessão de Cabral, começaram as agressões.
Não apenas se apegaram à ações risíveis, como uma mera entrevista de rádio, como também atropelaram todos os processos legais possíveis para decretar o afastamento da Prefeita e a inelegibilidade de Garotinho.
Não satisfeitos, TRE-RJ e Governo estadual financiaram um verdadeiro massacre nos meios de comunicação, comparando Garotinho a figuras nefastas da política brasileira, gente como Maluf, Sarney e Collor. Por mais que se tentasse esclarecer os fatos – como eu e vários outros companheiros tentamos via internet – tornou-se impossível enfrentar a rede de agentes pagos com dinheiro público para espalhar mentiras e agressões. Uma verdadeira covardia.
Pois bem, a justiça foi feita e o TSE corrigiu os descalabros e desmandos patrocinados por TRE-RJ e Governo Cabral, mas fica uma pergunta no ar: quem vai pagar pelo terrível prejuízo causado à democracia no Estado do Rio de janeiro? Será que os instrumentos corretivos do poder judiciário vão agir no sentido de punir o uso de instituições – Tribunais, MPs, Estado - para fins políticos?
Certamente o Rio de Janeiro terá a oportunidade de retomar o fio de sua história, se recuperando dos danos e prejuízos que esta aliança espúria entre Executivo e parcela do judiciário promoveu, no entanto, seria muito vem ver os responsáveis por isso tudo respondendo por seus atos. Seria bom para a democracia, para a credibilidade das instituições, para o Rio de janeiro e para o Brasil.

Vicente Portella


9.12.10

Sarney: o novo homem forte do PT

Há coisas para as quais não existe explicação: os mistérios da vida, os segredos do universo, os desígnios de Deus, o hipopótamo e o ornitorrinco, enfim, uma infinidade de coisas. Outras no entanto nem exigem reflexão tão profunda, pois são explicadas pela simples noção de safadeza política.

Passei a vida ouvindo Lula e o PT detonarem os Sarney. A palavra mais carinhosa que petistas de norte a sul do Brasil dirigiam ao dono do Maranhão era LADRÃO. Quem tem mais de 35/40 anos lembra disso. A impressão que se tinha era a de que o PT e seus red caps odiavam a oligarquia sarneysista. Parecia-me até, confesso, que o PT odiava todas as oligarquias. Mas o tempo, que, dizem, é senhor da razão, mostrou que a coisa não é bem assim. Quando se trata de exercer o poder o PT tem todo o talento do mundo para defender o indefensável.

Se alguém dissesse nas décadas de 80 e 90 que os governos do PT teriam Sarney como principal sustentáculo, corria o risco de ser crucificado em praça pública. Os red caps eram nervosos, bufantes, radicais e agressivos. Todas as lideranças de “direita” eram, por eles, associados ao Demônio. Assim mesmo, com tintura religiosa e tudo. Lula era uma espécie de Jesus operário que traria a redenção do povo brasileiro. Inventaram até “intelectuais” petistas que reescreveram teorias e teologias sob encomenda para defender a “causa” partidária.

Pois bem. Com o passar dos anos a coisa foi se mostrando bem diferente daquela discurseira toda. Os “inimigos” atualmente já não são tão nocivos assim, muito pelo contrário. Fernando Collor, quem diria, se transformou em um “valoroso companheiro” e Sarney hoje é tão influente nos governos petistas quanto Lula. Só não se sabe qual está no céu e qual está na terra, mas ambos são venerados e estão cada vez mais parecidos um com o outro.

Dona Dilma, a funcionária de Lula alçada ao cargo de estepe do Presidente da República, anunciou esses dias parte do seu ministério e, creiam, só deu Sarney. 

O poder do God painho é tanto que até Deputado do baixo clero virou Ministro - Um de “seus” Ministérios não era lá grandes coisas, então Sarney mandou um cambono, o que só reafirma a quase soberania de Sarney no atual governo.

Episódios assim servem para nos deixar cada vez mais atentos em relação aqueles grupos radicaizinhos que aparecem por aí vez ou outra, geralmente oriundos da classe média e não muito afeitos ao trabalho. A história está nos mostrando que, depois de um tempo, consagrados como alternativa, eles assumem o poder e se mantem nele “ad eternum” fazendo aliança até com o próprio Demo, se necessário. Se alguém reclamar eles culpam o povo, como fez Lula...

Quem quiser que brigue com o povo, que elegeu Sarney e Tiririca. Eu não tenho culpa.



Se há algo que não se pode negar, nessa história toda, é a capacidade camaleonicamente política do PT em termos de fisiologismo. Quando todos apostavam que acabariam com isso, eles reinventam o conceito de ética e passam a dar aulas da matéria. São professores, não há dúvidas. Mesmo que seja da matéria mais putrefata da história brasileira.

2.12.10

O assassinato oficial da liberdade ou: A DITADULA

Lula deixa o poder oficialmente em dezembro, mas ficou bem claro, hoje, que continuara dando as cartas no próximo governo. Em entrevista para rádios comunitárias, que funcionam como satélites do PT, o Presidente disse com todas as letras que o próximo Ministro das comunicações terá a tarefa de intervir na mídia, controlando a imprensa brasileira. 
Curiosamente, Lula e o PT foram, no decorrer dos anos, escandalosamente beneficiados pelos meios de comunicação no Brasil. 
Quando ainda era um ilustre desconhecido - um mero grevista do ABC - a imprensa, por meio de milhares de profissionais simpatizantes do PT, se mobilizava para dar alguma notoriedade à Lula, o nordestino que falava errado e representava uma “ameaça” para a ditadura. Para garantir a sua presença no segundo turno das eleições de 1989, inclusive, a TV Globo criou até personagens para novelas, com uma abordagem romântica, é claro, impregnados pela doutrina petista. 
Foi a imprensa a grande responsável pela gigantesca popularidade que Lula desfruta hoje. Mesmo diante de derrotas achapantes, a mídia sempre insistiu em outorgar-lhe uma auréola de injustiçado, de pobrezinho, de operário ingênuo que poderia ser o redentor dos pobres e miseráveis do País. Mesmo durante seu mandato a imprensa sempre foi benevolente com Lula, mesmo porque, se agisse de outra maneira, o atual presidente não resistiria a comparações com seus antecessores, por mais simples e simplórias que estas fossem. 
Se Getúlio deixou a industrialização do País e as leis trabalhistas, se JK deixou Brasília e a modernização da economia; se Itamar Franco restaurou a dignidade politica e Fernando Henrique, juntamente com o próprio Itamar, nos legou a estabilidade financeira e social, Lula, por mais popular que seja, não deixou absolutamente nada como legado. 
Por mais que a imprensa o adule, não há um só elemento que se possa admitir como marca do Governo Lula, exceto a corrupção escancarada e o aparelhamento do Estado. Algum petista apaixonado, e muito bem pago, pode até bater no peito e falar do PAC, mas o fato é que este, um mero conjunto de obras, não saiu do papel no Governo Lula e provavelmente não saíra também no Governo de sua empregada. 
Talvez nem 20% das ambições iniciais tenham sido executadas, por mais que a imprensa se “esqueça” de abordar esse tema. 
Em todas as áreas do Governo, Lula simplesmente deu continuidade ao trabalho de outros presidentes. Na economia, manteve a linha FHC; no social, seguiu Itamar; na arte de faturar cada ponto positivo, seguiu Getúlio... E assim, atravessou 8 anos sem identidade própria de governo, apesar de ter sua personalidade cada mais cultuada pela mídia. 
Todo os espaço midiático negado a Brizola, Arraes e outros tantos líderes brasileiros, foram dados de mão beijada à Lula. Mesmo assim, no entanto, o Presidente não está satisfeito. 
Ao que tudo indica teremos em breve uma liberdade tutelada. Sempre que alguém quiser publicar alguma coisa terá que pensar duas vezes, ponderar se o governo concorda ou não com tal matéria, artigo, ou mera expressão de opinião, para só então decidir se vale a pena publicar. 
Já vivemos um período assim, entre 64 e 85 do século passado, que se convencionou chamar ditadura. Nos dias atuais, é evidente, a coisa vai ser feita de forma diferente. Com sorrisos, ao invés de cassetetes, e com aprovação dos “representantes do povo” no congresso nacional. 
A grande pergunta que fica no ar é se a mídia em geral vai aderir ao conceito de “Mídia comunitária” e ficar caladinha em troca de generosos patrocínios ou se vai, de alguma forma, espernear, protestar ou até lutar contra o assassinato oficial da liberdade no Brasil. 
Quem cala, consente. Já diz o velho ditado. 


Vicente Portella