22.12.10

A grande patuscada

Ando com uma baita pena do Adolfo Bloch, falecido dono da Manchete, que deve estar se revirando no túmulo por conta da inversão do principal slogam de sua revista: Aconteceu, virou manchete.
Nos dias de hoje, em que o jornalismo definitivamente perdeu para a publicidade sua importância e sua capacidade de direção das redações, tudo ocorre ao contrário do que deveria. Os “fatos” são antecipados e mesmo que não ocorram, ou que pelo menos não tenham ocorrido ainda, são tratados como “fatos”.
Qualquer pessoa pode constatar isso lendo os jornais do dia. Geralmente não há uma só notícia, de fato, estampada nas manchetes de primeira página. Todos os governos foram transformados em brilhantes e os governantes, sempre muito generosos com os departamentos publicitários da mídia, são sempre exemplo de sucesso e correção, verdadeiros modelos a serem seguidos.
A saga do morro do Alemão é um bom exemplo disso. A polícia se postou nas entradas, deu tempo de sobra para a bandidada fugir - cerca de 24 horas – e acabou dominando o “impenetrável” reduto do tráfico em duas horinhas, sem prender quase ninguém. Até as armas apreendidas se resumiram a meia dúzia de peças enferrujadas, mas a cobertura jornalística determinou que tudo ali foi lindo e maravilhoso. Mesmo que todas as outras favelas do Rio de Janeiro estejam tomadas por bandidos, sejam traficantes ou milicianos, nossa gloriosa mídia dá como resolvida a questão da violência no Rio de Janeiro. Meia dúzia de UPPs e uma batalha de Itararé foram suficientes para servir de alicerce para a proclamação do que não houve, a pacificação do Estado. Mas a mídia não perdeu a oportunidade de escolher seus heróis: Sérgio Cabral ( que só vem ao Rio quando está distraído) e Lula ( o defensor dos frascos e comprimidos ).
Nos últimos anos a tranferência de recursos públicos para as empresas de comunicação foi tão gritante ( Lula gastou 10 bilhões com publicidade em oito anos e Cabral 500 milhões em seis meses ) que os Governos nem precisam mais de diários oficiais, já que os jornalões fazem cobertura adocicada de tudo que os governantes pedem, embora estes ainda se dêm ao luxo de reclamar de vez em quando. O presidente Lula, por exemplo, considerando pouca a adulação da mídia, criou o grupo de “blogueiros progressistas”, internautas bem situados que são regiamente pagos para utilizar seus blogas em defesa dos interesses governamentais. Muita gente boa que era estrela mas ficou desempregado na grande mídia está liderando esse processo, pois a boca é rica e a generosidade infinita. 
Mas enfim, o Governo de Lula, que apesar das críticas que merece foi um bom presidente em vários aspectos, está acabando, e aí vem Dilma, que é desde já uma incógnita. Ne verdade, desde Itamar Franco, passando por FHC e chegando a Lula, o Brasil vem caminhando bem em vários setores. Os três últimos presidentes foram líderes experimentados, eleitos pelo voto e responsáveis por vários processos políticos antes de se elegerem Presidente. Dilma, não. O fato é que seremos governados nos próximos anos pela Governanta de Lula, uma senhora que nunca se expos ao voto nem nunca assumiu compromissos públicos com quem quer que seja. Sua única fidelidade, largamente testada até aqui, foi à caneta do chefe de ocasião. Nunca deu uma ordem de fato, no máximo, às repassou para o andar de baixo. Nunca correu riscos nem assumiu responsabilidades públicas por seus atos... ou seja, estamos mergulhando em uma noite escura.
Certamente a mídia falará muito bem de Dilma, pelo menos enquanto durar a cornucópia financeira. Resta-nos torcer, e apenas isso, para que a vaidade de Lula não nos custe o naufrágio de um País inteiro. Quem viver ( ou sobreviver) verá.


OBS: Ciro Gomes se recusou a ser Ministro. Pode ser transformado em inimigo nº 1, como ocorreu com Garotinho, que recusou o Ministério dos transportes em 2002.Foi de aliado a demonizado em pouquíssimo tempo

Vicente Portella

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