27.12.10

A posse do poste, quer dizer, da Dilma.

Lula precisava provar ao mundo o quanto é popular e, para tanto, elegeu um poste. Não satisfeito, mesmo que o poste ainda nem tenha tomado posse, já defende a reeleição desse mesmo poste em 2014. Está provado, Lula é o cara. Mas o que me chama a atenção nessa história toda são as coisas que Lula fez, os modelos que adotou e os princípios dos quais abriu mão para se tornar o cara.
Na década de 80 do século passado Lula criticava ferozmente a corrupção, hoje, convive com ela numa boa e até reinventou alguns de seus conceitos. Na década de 90 do século passado Lula questionava a manipulação da opinião pública via meios de comunicação, atualmente, partilha seu poder com todos os manipuladores históricos dessa mesma opinião pública. Nos anos setenta, também do século passado, Lula condenava o autoritarismo, hoje o cultiva.
Aliás, nos anos 90, é bom que se diga, Lula já começou a descambar para o outro lado do tabuleiro. Fez até reuniões secretas com FHC no palácio presidencial apesar de fingir publicamente que era de oposição. Mesmo assim, no entanto, Lula continuou "revendo seus conceitos". Se antes considerava um absurdo que líderes populares ignorassem o PT em função dos votos obtidos nas urnas, hoje Lula advoga o poder plebiscitário e a extinção de adversários, o que não deixa de ser uma coisa curiosa, para se dizer o mínimo.
A verdade é que Lula nos transformou em reféns do voto. Não me refiro ao voto bom, digno, democrático, eivado de cidadania, mas sim ao voto de cabresto, aquele do favor, da imposição, do coronelismo, da violência, do assistencialismo, da cesta básica e do bolsa família, que ele mesmo criticava antigamente e que atualmente rege, sem qualquer cerimônia, os processos eleitorais pelo Brasil afora. Somos reféns desse voto, que é, na prática, o pior que existe.
Infelizmente, no entanto, Lula se orgulha desse voto, assim como se orgulha de seus novos parceiros, gente como Sarney e Collor. O presidente chegou até a dizer dia desses que não entende os questionamentos neste sentido, pois quem elegeu Sarney e Cia foi o povo. Quem quiser, portanto, que reclame com o povo.Lula disse isso, assim. Com a cara mais dura do mundo, comprovando aquela máxima de que quando se quer conhecer um homem deve-se dar poder à ele. O mais triste é que uma boa parte das pessoas que cultivam estes questionamentos aprenderam a faze-lo com o próprio Lula, no tempo em que ele era operário e de oposição.
Mas enfim, não se deve chorar sobre o chope derramado. O importante agora é descobrir, o Pais inteiro, como sair desta terrível armadilha montada pelos tutores do poder absoluto. Como fazer com que a nação brasileira se desenvolva de verdade, sem mudar as regras do jogo na hora de fazer as contas, sem anexar ninguém a classe média por decreto, sem mentir, pelo menos não descaradamente, impondo às pessoas uma maravilha inexistente.
Particularmente creio que só uma democracia de verdade, onde as pessoas possam se manifestar de verdade e a sociedade possa escolher de verdade seus dirigentes, pode nos oferecer alguma solução. Não dá mais para permitir que manipuladores nos confundam quanto à direitos e deveres, pois sabemos que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Voto é direito, não dever. Ninguém pode ser obrigado a entregar seu voto à candidatos que não valem o ar que respiram. Ninguém pode ser escravo da vontade alheia nem ser obrigado a legitimar processos dos quais discordam. 
Defendo que o Brasil adote o voto livre, ou seja, o voto facultativo, como verdadeiro instrumento de libertação do país. Até porque gente não é gado e as pessoas não podem ser obrigadas a atravessar a vida referendando a vontade alheia.
Quanto a Dona Dilma, o poste do Lula, lhe desejo boa sorte no mandato, é claro. Jamais torceria pelo mal de uma nação inteira. Mas confesso que não alimento qualquer expectativa diferente de mensalões, mensalinhos e acordões para aumentar salários e demais vencimentos de asseclas de toda a sorte. 
Tomara que eu esteja errado.

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