25.7.13

Sensações

O toque da pele na pele sempre gera sensações. Ondas de calor, expectativa de gozo, desejo... Libido alvoroçada. Explosão.
Mas tudo precisa ser muito discreto. Pessoas, mesmo com toda a idade da terra, continuam sendo só pessoas. Mesmo um leve toque pode soar agressivo no universo tosco dominado por seres obtusos, desacostumados a viver suas próprias emoções e enquadrados no padrão de comportamento estabelecido por imposições retrógradas que se acumulavam com o decorrer dos anos.
Há quem creia num Deus assexuado que vigia de perto cada uma de suas criaturas com o objetivo de proibir, a todas elas, os prazeres mais elementares. Um Deus tolo, que pune os instintos e incita as guerras. Um ser feito de sangue, lágrimas, angústias e frustrações.

Da janela de casa Fábio pensava nisso, pouco antes de sair, e fixava o olhar na rua, nas luzes que começavam a estourar por cima da cidade e nos espaços que lhe escapavam... Escuros, baldios, quase inexpugnáveis. Espaços aparentemente criados para pessoas especiais. Para aqueles que conseguem ver na ausência da luz, na mais completa escuridão.
A memória da boca ainda guardava o sabor do êxtase anterior e as pernas já estavam pelas calçadas procurando mais. Seguiam firmes, passo a passo, enquanto o nariz buscava os cheiros da noite e das pessoas, homens e mulheres temporariamente livres, à disposição. Gente boa e saborosa ondulando corpos, aproveitando o espaço raro entre uma luz e outra, entre uma sombra e outra, sempre exposta a um turbilhão de delírios.
Na esquina da Lavradio os olhos lânguidos de Vânia, que já acorrentavam Mônica a uma certa distância, se misturam, cruzaram com os dele, se entrelaçaram, quase gozaram assim. Beijos lúbricos, abraços encaixados saudaram os desejos, roçaram as carnes e seguiram juntos por entre as luzes e sombras. Agarrados, os três, vagueando. Bocas, corpos, peitos, nádegas, salivas, sexos. Todos apalpando aquele começo de madrugada.
Afagos e mais, muito mais, na porta do Odisseia. Olívia, Lana, Rodrigo e Zé. Sacros delírios amotinados em frente ao templo irradiando ao infinito sofreguidão e umidade. Tudo de uma vez, juntos. Um, depois três, mais quatro, os sete na cara de Homero, a partir do asfalto e das calçadas da Mem de Sá. Ulisses vários e muitas Penélopes enfrentando mares bravios em busca de amor e gozo. Sereias e monstros marinhos, ciclopes canibais, de tons e texturas às vezes distintas e às vezes assemelhadas, essencialmente misturados.
E o canto dos olhos de alguns poucos infelizes procurando sentidos impossíveis de existir no universo incalculável.
Cerveja. O sabor amargo brindado como homenagem muda às estrelas. Boca, língua, garganta, estômago e cérebro. Consciência de mente expandida. Enorme. Fantástica. E vodka, refresco de vodka, cigarros e luzes. Muito mais luzes nos olhos, na noite, nos braços, nos ventres, nos rostos. O toque por cima do toque. O gesto, o paladar. E as sombras fugindo das luzes mansas, breves e devoradoras. As luzes comendo sombras, sorvendo, fecundando, aliciando, tudo em meio à escuridão.
Já mais tarde, muito mais, a devassidão das cores explodia no caleidoscópio de corpos unos, adentrados, melados, do avesso. Uma quase sombra ainda resistia aos raios das primeiras horas e o gozo - o mais pleno dos gozos - já descansava sua imensidão alojado confortavelmente em todos os orifícios de cada um dos corpos largados pelo quarto.
Sete pequenas mortes e sete ressurreições. Sete sorrisos serenos se engalfinhando e dormindo. Sete brilhos radiantes. Sete alucinações.

....
 Vânia era a alucinação. Subindo pelas paredes prazeres ternos e doídos. Noite afoita servindo e servindo-se de tudo. Linda, lúdica, aberta, escancarada aos olhos, bocas, dedos, línguas e ações. Brincadeira de invadir, tocar, sorver, experimentar e seduzir. Explorar. Escarrapachada, corpo todo espalhado pelo chão do quarto exalando cheiro de flor, de fenda, de gruta, de florescência molhada por um orvalho próprio, íntimo e absoluto. Um tipo de aroma que invade a narina e inebria, condenando à vida. Vânia assim, dormida, e as mãos amigas ainda pregadas no corpo. Mão de Mônica no dorso, outras escondidas, de Lana e Zé, cobertas pelas virilhas e todas as outras tocando, marcando, tentando durante o sono agarrar sensações.
E Vânia assim, estendida, mexendo, revirando, arrastando o corpo adormecido, suavemente, e se expondo ao sonho. As curvas realçando, bunda nua, peito nu, sexo liso, depilado, banindo a angústia para plagas distantes. E aquele cheiro forte, denso, palpável, visível, saboroso. Do amor misturado, repetido, deleitado. Capaz de apagar todas as dores do mundo, da noite, de Vânia.
E a dor advinha do tapa, do aperto, dos dentes cravados nos seios, nos lábios e lábios da rosa. Das rédeas cabelo, do dorso cangalha, da boca de dedos, botões, cogumelos e belos segredos gritados, berrados, gemidos. Além do sussurro, dos gritos, das juras ali murmuradas. Dos apelos e do brinde meloso na boca ou por dentro do corpo, na flor, no botão ou por fora, no ventre. Do hálito quente, da voz perfumada. Do fel. Do prazer. Ela extasiada.

 ...
Zé com a mão comprimida no corpo da moça, dormindo, os dedos roçando de leve na rosa. Na noite viajou, foi dono de todo o folguedo. Dançou, gargalhou, beijou todas as bocas e ali, travesseiro de bunda bonita, ele só dormitava.
E pensava na festa. E buscava com o dedo, instintivo, entre as bandas, a fresta, o sagrado orifício, o sabor dos prazeres de todos na ponta do dedo enquanto acordava.
Na noite se deu e tomou para si o que o corpo queria. E foi homem, foi macho, foi vício, foi fêmea, menino, menina e foi tudo, sorveu em detalhes os sumos, os sabores do mundo. Bebeu os amores dos outros em cada tulipa após os desejos e deu seu amor. Deixou transbordar sua essência em bocas e seios, em flores, botões, em peitos, em cálices soberbos, serviu-a em taças, em copos, colheres e beijos, de todas as formas. E Vânia se abria, agora, dormindo, e o dedo encaixava. Na bela manhã e nos braços de um raio de sol que vazava, o Zé em carícias pensou que era a noite que tinha voltado. Ou nem acabado.


....
E Lana quase dormia... De bruços. O quê? Quem? Quando? Onde? Por quê? Tudo rodopiava solto no cérebro durante a madorna. A angústia, a matéria, o tema, a foto da capa, o suor escorrendo ao redor do pescoço, o corpo postado de quatro, a bruta e perfeita invasão. Aturdida, cobriu durante o último sono a madrugada toda, em detalhes, com a intenção de olhos e instintos atentos, lembrou e esqueceu coisas, se deliciou e pediu perdão. E se perdoou. Mais que perdoou, amou. Voou pela noite, vagou entre as camas e as rodas, comeu as maçãs e fumou os charutos; bebeu no gargalo, chorou de emoção e fartura. Cantou, recitou poesia, malhou o sistema e as formas, as linhas, fontes, conteúdos. Amou quase tudo e expôs, ofertou, concedeu o objeto do amor.
Lana se fez e desfez várias vezes. Beijou todas as bocas, variou a paixão do instante em toques. Sussurrou pelo gozo, gemeu pela tese e rugiu pelo mundo. Outorgou ao prazer uma causa e dedicou seu êxtase à humanidade. Homens, mulheres, crianças, velhos. Gordos e magros. Negros, brancos e asiáticos, jorrou por amor ao planeta. Filosoficamente, poeticamente, hedonisticamente.

...
Rodrigo dormiu e acordou soldado. Recebeu a alvorada postado e exultante. Usufruiu de tudo e de todas, não se dando a ninguém. Comeu, bebeu, sorveu, e provou cada anca exposta ao sabor do delírio. As moças, as bocas, as tetas, as nádegas, tudo por amor à Pátria e à noite. Por amor ao cheiro e ao sabor. Por amor à farra.  Acariciou, apalpou, apertou, beijou e lambeu toda tez feminina que esteve ao alcance das mãos e da língua. Despertou lúcido, pronto para uma nova refrega. Na boca o gosto da boca de Lana, dos peitos de Vânia, da flor de Olívia e o sumo espalhado no rosto, travando nos olhos, impregnando o nariz e se espalhando pelo céu da boca. E as cores, e os sons, e os sopros da guerra, de cada batalha, voando vaidosos diante dos olhos, à flor da memória.

...
A luz da manhã não poupou a ressaca de Mônica. Preguiçosa, despertou num gemido com a mão despejada nas costas de Vânia. Sentindo, tocando, acariciando, recolhendo a memória da noite com ponta dos dedos na pele da amiga. Pensava no quanto a amante se deu e recebeu amores e no quanto ofereceu a ela, Mônica, prazeres tão inexplicáveis. Lágrimas e carinhos gerados por paixão avulsa, sem lastro, sem âncora, sem concepção. Um tipo de paixão que não se abandona e nem se permite que viva sujeita aos horrores de um cárcere. Mônica experimentou o ápice do desejo, uma fruta úmida e madura que sacia sede e fome numa mesma mordida.
Ajeitou-se para abraçar o corpo nu da amiga e permaneceu ali, calada, quase adormecida, suavemente saciada e feliz pelo instante, pela descoberta, pela sagração da vida e pelo festival de possibilidades estampadas no horizonte. Fez questão de nem abrir os olhos e atravessou a manhã curtindo variadas sensações.

 ...
Olívia trazia nos olhos a marca de Vênus. Tarô, influência de Aquário com alma de Peixes e números fosforescentes fervilhando nos olhos. Gurus, sacerdotes, templários, druidas, gnomos e seres alados como referência de vida. Gozo, como obsessão.
Na noite cumpriu rituais de luxúria. Sagrados, ocultos, divinos, prazer dedicado aos seres supremos. Jorrou pelas pernas os sumos dos deuses e amou quantas vezes lhe foi permitido.
Rompeu as fronteiras da carne e foi longe, buscou toda forma de luz no escuro dos corpos, em cada espaço, em cada abertura, em cada sentido, em cada instrumento ao alcance da mão.
A sacerdotisa extraindo os fluidos de seus seguidores. Sorvendo, pulsando, fazendo o sangue correr pelas veias de moços e damas. Sorrindo e se dando. Servindo e comendo manjares e polpas, serena e alucinadamente. Sagrada e profana, menina e senhora, torpor e razão.
Sete destinos cruzados na noite, rodopiando misturados, agarrados à conivência de um quarto, agasalhados pela escuridão e iluminados pelas luzes raras que acalantam a madrugada.


Sete gnomos, sete soldados, sete druidas e sete fadas. Sete pastores e sete iminentes pensadores. Sete elementos percorrendo a estrada. Mapeando as sensações da vida. Construindo templos em terras arrasadas.

16.5.13

João Urca Beach: O artista e a banda




O que é a Urca Beach? 

A banda Urca Beach é na verdade uma ficção, fruto de um sonho meu de criança. Desde os doze anos eu componho e desde então sinto que as canções nascem com arranjos, quase sempre. Tocá-las só ao violão me frustra. Por isso insisto em fazer-me acompanhar de bons músicos. 
O grupo Urca Beach foi uma busca minha, de encontrar uma sonoridade própria. Eu queria um disco que pudesse ser reproduzido ao vivo. E digo que andamos conseguindo isso. Também fizemos releituras magníficas de compositores conhecidos. É pena que não temos nenhum registro, ainda, dessas releituras. Mas a questão é meramente econômica, pois os músicos estão sempre coesos comigo. O problema é que três deles vivem de música e eu não consigo uma agenda de shows que garanta a sobrevivência de todos. Além do quê, você me conhece, sou mau vendedor, infelizmente. 
Meu negócio é tocar meu violão, compor e cantar (Risos). Preciso urgente de alguém que me venda. 


E o CD “Praia e luau” ? 

O CD "URCA BEACH: PRAIA BAR E LUAU", traz registros de oito anos juntos, com variações na formação. Membros fixos foram eu, Dida, Wagner (violão e guitarra) e o Osmar (bateria). Muitos outros músicos, no entanto, participaram. 


E porque você adotou o nome da banda? 

Como eu não tenho garantias de continuidade do trabalho com o pessoal, adotei o nome JOÃO URCA BEACH, para me fundir com a marca, que eu registrei. Assim, posso me apresentar sozinho, ao violão (e tenho começado a gostar disso), ou com um, ou mais membros da banda, que, por isso, acho mais conveniente chamar de "grupo" e não de banda.  



Qual o estilo do Urca Beach? 

Nosso estilo é MPB. Nossas influências, da nossa melhor música feita por negros: Claúdio Zóli, Djavan, Tim Maia, Seu Jorge, Jairzinho. Não é à toa que tocamos muito esses caras. 
Mas também tocamos os clássicos (Chico, Caetano, Gil). E também alguns clássicos do rock, como Eric Clapton, Guns and Roses, Pink Floyd. Na maioria, do nosso jeito. 


E como você vivencia esse processo? 

A convivência com bons músicos me ajudou a crescer no instrumento, o que tem refletido nas composições. 



Você já pensa em CD novo? 

Preciso divulgar este CD para poder pensar na viabilidade de outro. 
Espero que no próximo volte a ter parcerias nossas. Temos coisas engavetadas que precisam sair.


8.5.13

Fazendo um som com os amigo, em casa: Stanley Neto em Caxias


Stanley Neto é um artista da terra. Músico de vários talentos - Sax, flauta, gaita, violão, guitarra, entre outros instrumentos - Stanley é também poeta e compositor. 
Membro atuante do Projeto Conspiração, que fez história e marcou profundamente a criação literária e artística de Duque de Caxias, Stanley Neto atualmente corre o mundo levando sua canção e seu talento a todos os lugares possíveis.


Na próxima terça feira, dia 14/05, estará se apresentando na Praça de alimentação do PREZUNIC Caxias à partir das 18 horas. 
Quem gosta de boa música não pode perder a oportunidade. É arte rara, daquelas boas de se ouvir. 





Qual a sua perspectiva para essa apresentação em Caxias?

Stanley Neto - Sempre fico muito feliz e ansioso quando vou me apresentar em D. Caxias que é minha terra natal. Fico na expectativa de reencontrar velhos amigos que sempre me deram muita força e muito carinho e muitas e boas energias durante a minha carreira, principalmente em seu início. 

Por onde você anda tocando e com quem?

Stanley Neto - Ando (nos últimos 6 anos) excursionando como músico contratado (sax-barítono , flautista e gaitista) da Banda Roupa Nova. Eventualmente participo de shows de outros artistas, quando a agenda da banda permite, como Alex Cohen por exemplo, e sempre que posso, dou um pulo em D.Caxias para matar as saudades e fazer um (ótimo) som com o amigo e mentor musical Beto Gaspari.

Além disso, trabalho como músico de gravação (estúdio e/ou shows) de alguns artistas do País. Semana passada, por exemplo, tive a honra de gravar (pela terceira vez) em um cd do Cantor Agnaldo Timóteo, no penúltimo dvd do Grupo Bom Gosto(deixa eu cantar meu samba), e por aí vai...


É bom rodar o mundo fazendo arte? 

Stanley Neto - É ótimo rodar o mundo não somente fazendo arte, mas trabalhando com o que se gosta. É bacana, conhecer outras culturas e aprender com artistas das mais variadas vertentes artístico-culturais. 


Como foi o seu começo no mundo das artes? 

Stanley Neto - Bem, eu comecei participando de um grupo de poesia de D.Caxias chamado Projeto Conspiração, inicialmente idealizado pelo cara que considero o meu "Padrinho Musical", o Beto Gaspari. O contato com essa galera abriu não só a minha mente musical, como artística transformando para sempre toda a minha concepção no que diz respeito à expressão artística.

Essa raiz cultural adquirida graças a contatos criativos e expressivos com artistas como João de Deus, João Luiz, Cantídio José, Lello Alves, Chiquinho Maciel, Edinho do Samba, Edu Costa, Ricardo Barbieri, Beto Cavaco, Araken Álvaro, Vicente Portella, Marcelinho Ferreira, Beatriz Oliveira, entre muitos outros que a minha memória me impede agora de lembrar, foi de extrema importância para a minha formação não somente artística como humana, me proporcionando uma visão absolutamente ímpar de cultura, arte e por que não dizer, de vida.


Praça de alimentação do PREZUNIC Caxias. Terça, 14/05 às 18Hs

5.5.13

A arte itinerante de Paullo Ramos

Paullo Ramos é um artista inquieto, plural e generoso. Inquieto porque vive em constante movimento com sua arte desde sempre. Plural, porque aborda todos os sentidos do mundo e da vida. Generoso porque divide com a gente e com seus alunos o saber e o sentir artísticos acumulados em uma vida plena de fazeres e criações.
Atualmente Paullo Ramos está desenvolvendo o projeto "Arte itinerante", que leva as praças e locais públicos da cidade sua capacidade criativa.
Em poucas perguntas tentamos aqui decifrar e dividir com nossos leitores o pensamento e a ideia de criação de Paullo Ramos.


Como é esse projeto de arte itinerante?

- Um grande artista falou certa vez que “A arte tem que ir onde o povo está”, e a filosofia do atelier Arte e Fato é consolidar o projeto “Escola de Arte sem Paredes” que inicia a criança, o adolescente e o adulto no maravilhoso mundo das artes plásticas de uma forma muito livre. Então a maior propaganda é convidar o povo para conhecer o nosso atelier mostrando como e o que é feito ao vivo e em cores e em 5D 

Qual a intenção? 

- Mostrar a importância da arte como elemento interativo entre razão e emoção em nossa sociedade altamente agredida com a insensibilidade e a desumanização, de uma forma dinâmica e agradável.



Seus alunos participam do projeto? 

- O projeto trabalha o pensar coletivo e humanístico e isto torna o aluno um colaborador ativo. Mostramos também que ele é o protagonista quando fazemos exposições de suas obras ou quando ele vende. O aluno é também o nosso maior patrocinador. 


Há quanto tempo você faz arte na cidade? 

- A minha primeira participação em uma exposição “a vera” foi em 1969 no II Salão Duquecaxiense de Pintura, então são 44 anos de arte caxiense. Mas consegui fincar a bandeirinha de nossa Caxias em alguns pontos estratégicos, um do “outro lado do mundo”, em Tókio e outro no “fim do mundo”, em Ushuaia. Citei apenas os dois por serem extremos.



Como é fazer arte em uma terra embrutecida pela lógica do Deus grana?

- Por ser budista a minha base é politeísta e isto ajuda a capitalizar diversos valores, que são, humanos, afetivos, espirituais, mentais e outros que fertilizam culturalmente a minha Flor de Lótus. Mas não é fácil.



Resume um pouco a sua trajetória artística pra gente? 

- Nasci em 1950 na Rua das Laranjeira e com 8 anos mudamos para Duque de Caxias, sempre desenhando pelos cantos e ficando de castigo por ser “canhoto”, com 13 anos pintei o meu primeiro quadro à óleo (50 anos de vivências e convivências extraindo do branco as infinitas possibilidades pictóricas na tentativa de ver um mundo melhor), hoje posso afirmar sem nenhuma dúvida: Amo o que faço e sou apaixonado pela arte! Isto não foi um resumo e sim um convite para você, leitor, nos ajudar a difundir um pequeno espaço de arte em Duque de Caxias, pequeno fisicamente, mas grande em sonhos e realizações: 

Atelier Arte e Fato – Rua General Câmara 18 bairro 25 de Agosto – Duque de Caxias – (21) 2671-1758

29.4.13

Rede Sustentabilidade: Três perguntas para Samuel Maia

Samuel Maia é professor da rede estadual de educação e militante político desde os anos 80. Já foi dirigente do arquivo nacional e secretário de Meio ambiente de Duque de Caxias. Incumbido por marina Silva, tem a tarefa de organizar seu partido, o Rede sustentabilidade, em nossa Cidade e nos concedeu esta pequena, porém esclarecedora, entrevista.

Qual a sua avaliação sobre a reunião do Plano nacional de Cultura ocorrida no Teatro Raul Cortez?

SAMUEL MAIA - Foi mal convocada e esvaziada, creio que a SMC de Duque de Caxias, deveria ter chamado os militantes da área antes, fazer um debate e hoje apresentar as propostas aprovadas. Creio na democracia direta, não na obrigação burocrática, para cumprir tabela.

Cadê as lonas culturais que você anunciou quando era Secretário?

SAMUEL MAIA - As Empresas responsáveis pela instalação das mesmas estão a quatro meses sendo empurradas com a barriga pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que quer receber as mesmas desmontadas, porém o contrato foi amarrado com elas instaladas, para não haver desvio das mesmas. Infelizmente das duas instaladas, a do primeiro distrito (Apoteose) Tiraram a Lona e só deixaram a estrutura. A do segundo distrito em São Bento (Museu Vivo) está lá funcionando e as duas do terceiro e quarto distrito estão esperando a vontade política do atual governo para serem instaladas. Estão pagas é só instalar.

Qual o compromisso do Rede Sustentabilidade com a Cultura?
SAMUEL MAIA - O Compromisso com a Cultura, por parte da #REDE Sustentabilidade é total, além do mais, temos uma massa crítica conosco, militam conosco milhares de pessoas que atuam na área cultural e temos figuras públicas como Gilberto Gil, Wagner Moura, Marcos Palmeira, Adriana Calcanhoto e outros que nos apoiam.

27.4.13

Os desígnios da Cultura


A questão cultural tem tomado ares interessantes nos últimos anos. Em movimento único, ao mesmo tempo a cultura deixa de ser cultura e a burocracia se torna elemento cultural.
O vício das chamadas “políticas sociais” invadiu a cultura de maneira definitiva e a partir disso, os valores vão se liquefazendo e escorrendo por entre todos os dedos que se possa imaginar.
De um modo geral a coisa se tornou caótica. O discurso adotado é aquele que põe na conta da cultura tudo aquilo que se move ou se modifica sobre o planeta, o que permite ao militante fazer um discurso profundamente amplo, politicamente correto e plenamente inexequível sem perder a aureola de “militante cultural” tomada emprestado do alheio.
Os interlocutores do processo cultural nos dias de hoje podem ser tudo, menos agentes culturais. Por mais que até disponham de imensa boa vontade.
Quem pinta, canta, produz, atua, escreve, desenha, dirige ou cria alguma coisa virou mero coadjuvante de um emaranhado técnico burocrático com requintes de altíssima tecnologia que, a rigor, não guarda qualquer semelhança com a ação cultural propriamente dita.
O compromisso dos “agentes culturais” está focado exclusivamente no cumprimento das tarefas determinadas pelos tecnoburocratas encastelados nas máquinas públicas. Só isso.
Daí vem um emaranhado de planos, conferências, portarias, editais e tudo mais que se possa inventar como obstáculo, para que o elemento criador seja impedido de montar o cavalo no pelo e realizar o que quer que seja. O meio se torna infinitamente mais importante que o fim; o processo é incomensuravelmente mais valorizado que o produto final... E o poder de obstacular se mantém intacto nas mãos dos mesmos elementos de sempre.
Os discursos, no entanto, são fantásticos e se utilizam até dos conceitos mais nobres de cultura, tipo o antropológico, como instrumento de inviabilização da capacidade de realizar. Tudo, rigorosamente, é posto na conta da cultura, menos a cultura propriamente dita, como se existisse alguma lógica nisso.
A necessidade de politizar e às vezes até partidarizar as ações abre o leque da militância numa abrangência assustadora. E assim as políticas sociais, de gênero, de raça, de Direitos humanos etc, ou seja, todo o manual do politicamente correto, é despejado sobre os ombros da “cultura” mesmo que cada uma delas tenha seu foro específico.
Na prática, quem não conseguiu palanque no seu movimento de origem se joga nos braços da cultura, mesmo não sendo do ramo, pois aqui cabe tudo.
Paralelamente aflora a orfandade de quem faz, quem realiza, quem atua realmente na área da cultura por capacidade, talento ou até mesmo por instinto criativo. Para estes, sobra a lei no sentido crasso daquele velho axioma que o poder dedica aos inimigos: “Aos inimigos, a lei”.
A consequência direta disso tudo é a aniquilação do processo cultural brasileiro, pois a industrialização, a burocratização e a submissão da criatividade à cartesiana mentalidade tecnicista reduz a cultura à pó.
O que sobra disso tudo são as tchutchucas, os breganejos, os pagonojos e os BBBs da vida. As Xuxas e os Faustões. Os crimes idolatrados na TV e a banalização da história de cada um, de uma sociedade e de um povo inteiro.
Na prática o que se vê é o discurso antropológico sendo corrompido por uma prática antropofágica, comedora de consciências, próprias e alheias.
Se servir como lenitivo podemos nos ufanar, nos regozijar, por ter inventado a intelectualidade de festim, aquela que faz barulho, mas não causa qualquer dano ao sistema. Quem sabe até, num futuro próximo, agachados sobre os escombros da cultura popular, e por que não dizer, também da cultura erudita, nossos bravos “interlocutores culturais” possam ler o livro do Afonso Celso – disponibilizado em meio digital por algum super nerd informático — e introjetar no seu próprio ego a sentença proposta pelo velho Conde:
 “Porque me ufano do meu país”.

Vicente Portella

14.3.13

O Papa Chico e a virgindade baiana

Governador da Bahia só quer delegadas virgens

Mais um Papa foi eleito e, segundo uma profecia de São Malaquias que rola na net , será o último. O Papa, quem diria, é argentino, o que gerou uma infinidade de piadas explorando a rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina. Já disseram até que Maradona vai ser canonizado.
Talvez como forma de se vingar da escolha de um argentino, brasileiros já estão pegando no pé do Papa Chico. Até o Globo já estampou em sua primeira página – logo no segundo dia de papado – que o novo pontífice “colaborou” com a ditadura argentina. Pegou pesado.
Cá pra nós, quem em sã consciência espera de um Papa ou de um líder religioso qualquer semelhança comportamental com Chê Guevara? Isso não existe. Papa é um troço conservador. Não tem jeito. A igreja se baseia nisso, em seus valores dogmáticos. Esperar que um Papa defenda aborto e  casamento gay é o mesmo que esperar que um General consulte seus soldados sobre como ir a guerra. Não rola. Não é assim que a coisa funciona. Quem não está satisfeito que procure outra religião, pois o catolicismo é assim.
Mas vejam bem, não é só o catolicismo que é conservador, os governantes de “esquerda” também são. Na Bahia, por exemplo, governada pelo petista Jackes Vagner, um concurso para Delegadas, Inspetoras e Escrivãs exige, no edital, que as candidatas sejam virgens. Isso é mais que absurdo. É o absurdo multiplicado por dez e elevado a 36º potencia. Qual a lógica de se exigir virgindade em concurso público? Nenhuma, claro.
Considerando um sistema comparado de pesos e medidas, fico me perguntando: Quem é mais obtuso? O Papa, que se baseia em dogmas e conceitos seculares dos quais, com base na fé,  é um representante,  ou o governador, que tira essas grossuras de sua própria mentalidade atrofiada apesar de posar de “progressista” quando interessa?
Qual será o próximo passo do Governador petistas da Bahia? Exigir o teste da farinha para seus colaboradores diretos? E para seus companheiros de partido, vai exigir o que?
No contexto geral há um fato curioso... Ao mesmo tempo em que o Brasil tenta ressuscitar a ditadura militar, nossa vizinha Argentina tenta ressuscitar a guerra das Malvinas. Seguem os passos de Chavez, um Coronel do exército que usava Simon Bolívar com trampolim. Ou esse saudosismo é patológico, ou é estratégico. Como a imprensa graciosa, aliada do Governo, apoia, incentiva e faz o possível para reavivar os escabrosos tempos da ditadura, como o patrão mandou e pagou para que seja assim, creio que seja uma questão estratégica.

11.3.13

Renan, Feliciano e a cultura


Renan Calheiros, esse monstrengo que preside o Congresso nacional e acabou de dar uma punhalada nas costas do Rio de janeiro e do Espírito Santo, foi eleito. Tanto pelo povo de Alagoas, que já brindou o Brasil com uma nova eleição de Collor, quanto por seus pares no Senado que o fizeram Presidente.
O tal do pastor Feliciano, aquele que é homofóbico, racista e acabou de ser eleito para a CDH da Câmara, também foi eleito. Vários partidos, inclusive, abriram mão de suas representatividades para ceder espaço a esse sujeito na Comissão de Direitos Humanos.
Se a gente passar um pente fino no Congresso, encontraremos muitos personagens iguais a Feliciano e alguns poucos iguais a Renan, ambos com perfis nocivos à democracia Brasileira.
O que diferencia Renan de Feliciano não é apenas o fato de um ser Deputado e outro Senador , mas o papel de cada um deles nesse processo.
Renan manda. É poderosíssimo. Foi empoderado pelo próprio Zé Sarney, em pessoa, e dita as normas, determina o volume dos negócios feitos no congresso nacional em todos os níveis. Feliciano, ao contrário, apenas obedece. É um daqueles deputadinhos do baixo clero que passariam imperceptíveis se não ousassem botar a cabeça pra fora. É da estirpe dos que nasceram para obedecer e se alimentar, satisfatoriamente, com as migalhas que caem da mesa. Enquanto obedecer pode tocar os negócios de sua igreja à vontade, extorquindo, enganando e explorando a boa fé das pessoas. Renan, o chefe, garante suas atividades.
O que iguala Renan a Feliciano é, por incrível que pareça, a ignorância. Não a deles, mas a da sociedade que os elege.
Nos últimos anos o Brasil desenvolveu uma tradição na eleição de "péla sacos", de gente estúpida e incompetente, de gente incapaz, ignóbil, beócia e desonesta, mas espertas. Essa foi a opção no Brasil: Inverter a lógica da aristocracia e entregar o poder aos seus piores quadros.
E veja bem, isso se dá em todos os níveis – municipal, regional e nacional – tanto no executivo quanto no legislativo. E certamente se o Judiciário não fosse blindado contra o voto também faria parte desse contexto.
No fundo, a questão é cultural. Somos um país que não valoriza nem a própria cultura, nem a cultura geral e por conta disso vamos mergulhando cada vez mais na barbárie. Os próprios instrumentos públicos de cultura – Ministério, secretarias, etc – propagam a anti cultura sem qualquer pudor. O poder público adula a mediocrização e aí o cidadão vai perdendo sua identidade, suas referências e seu rumo. E a cultura passa a ser instrumento de pseudo intelectuais que promovem a massificação, transformando tudo em show da Xuxa, em entretenimento, em desumanização ampla, geral e irrestrita.
A consequência direta da nossa falta de cultura é o Congresso nacional, mas não apenas ele. Há os Ministérios, as assembleias regionais, câmaras locais e secretariados espalhados por aí. Em suma: somos governados por beócios porque escolhemos isso. Elegemos nossos próprios algozes. Talvez até isso seja algum complexo de inferioridade que nos induz a uma auto punição. Pode ser um troço de cunho religioso, filosófico ou até psicanalítico, sei lá. Mas o fato é que votamos mal e por isso somos roubados e ridicularizados o tempo todo.
É uma pena que o voto não seja facultativo. Pelo menos alguns deveriam ter o direito de não participar da farsa, né?