23.7.07

Brazil-zil-zil...( Com Z mesmo )

A mídia malha a situação e poupa a oposição, com empenho e desfaçatez dignos da medalha de ouro, recordistas mundiais. E me permito contar um episódio que remonta à segunda 16, e que não foi registrado por jornal algum, ou por qualquer órgão midiático.O governador do Paraná, Roberto Requião, naquela tarde visita o presidente Lula no Palácio do Planalto, para um encontro como de hábito cordial. Em seguida, o governador, em toda a sua corajosa imponência, dirigi-se ao Comitê de Imprensa do próprio Palácio.Requião tem sido um dos alvos preferidos dos ataques da mídia. Suas relações com os jornalistas são tensas, mas ele não hesita na provocação, e pergunta por que, em outros tempos, “vocês não falaram do filho de Fernando Henrique?” Outro rebento fora do matrimônio, como no caso de Renan Calheiros. A aventura de FHC, do conhecimento até do mundo mineral, é anterior à sua primeira eleição em 1994, e a jovem brindada pelos favores do príncipe dos sociólogos foi mais uma jornalista em atividade em Brasília, Miriam Dutra.A pergunta de Requião deixa os credenciados do comitê entre atônitos e perplexos. Alguém balbucia que a comparação não cabe, os casos são diferentes. Impávido, o governador ergue o sobrolho e clama: “Por quê?” Logo explica: “Quem sustentou o filho do ex-presidente foi, desde o nascimento, uma empresa privada, a Globo da família Marinho”.A bem da tranqüilidade familiar de FHC, e do seu desempenho na Presidência, Miriam Dutra e seu filho foram enviados ao exterior, no resguardo. Consta que voltaram para o País faz pouco tempo. Fez-se o silêncio no comitê, e o governador se foi, a dar risadas.Agora, sou eu quem pergunta: alguém leu, ou ouviu, relato desse episódio? E então, volto à carga: qual é o país do mundo que se diz democrático, e goza de liberdade de expressão, onde um governador de estado, ou qualquer figura pública importante, fala de um ex-presidente da República igual a Requião, diante de uma matilha de perdigueiros da informação, e a mídia fecha-se em copas? Não conheço outro, além do Brazil-zil-zil.

Reproduzido do Blog do Mino Carta

Várig na origem do "caos" aéreo

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil.


. Nesta manhã de sol de inverno, entre uma partida e outra do fracasso retumbante que é o Pan do Rio, reproduzo aqui reflexões que recolhi de um amigo, que não comunga da Teologia da Privatização.

. Na origem do que a mídia conservadora (e golpista) chama de “caos aéreo” ou “apagão aéreo” está o Governo Lula deixar que a Varig fosse privatizada.
. O fim da Varig e sua compra por uma empresa privada entregaram o comércio da aviação no Brasil na bandeja para duas empresas privadas que ainda precisam provar a sua idoneidade e o respeito ao consumidor.
. TAM é o que é – como qualquer passageiro pode comprovar.
. Antes de tudo, o lucro. O serviço ao passageiro, depois a gente acerta.
. A Gol, é o que é: as mutretas com o ex-senador Roriz e o dinheiro do BRB falam por si próprios.
. Por que o Governo Lula deixou a Varig ir para o buraco ?
. Porque o Governo Lula tem medo de ser “esquerdista”.
. Porque o Governo Lula só agora, parece, vai botar a Anac atrás da TAM e da Gol.
. Porque o Governo Lula tem medo de afrontar a elite branca (e separatista, no caso de São Paulo), que se expressa na mídia conservadora (e golpista).
. Agora, os epígonos da Teoria da Privatização correm para 1) construir um aeroporto na Grande São Paulo; 2) privatizar a Infraero.
. Privatizar a Infraero será entregá-la, por exemplo ao Daniel Dantas.
. Que é capaz de vender a pista principal de Congonhas ao Beto Carreiro.
. E construir um aeroporto na Grande São Paulo ...
. É melhor, antes, dar um pulo a Lisboa e Londres.
. Há décadas que Lisboa e Londres tentam construir alternativa a Portela de Sacavém e a Heathrow.
. Lá também tem Ibama, moradores, ONGs, direitos constituídos, Constituição.
. Não é assim, construir em seis meses e encher o bolso das empreiteiras (da Linha 5...)

Reproduzido do Blog Conversa afiada, de Paulo Heinrique Amorim

19.7.07

O caos nosso de cada dia

No comecinho da década de 80 ler era um vício para nós, na época, adolescentes. Havia uma coleção chamada " Para gostar de ler", responsável por nos apresentar aos mais variados autores de crônicas e poesia do País. Lia-mos Rubem Braga, Lourenço Diaféria, Vinícius de Moraes, Carlos Drumond de Andrade, Rubem Fonseca, Luiz Fernando veríssimo e muitos outros autores. Devorava-mos de tudo, ávidamente. Um autor dessa época, Carlos Eduardo Novaes, escreveu, ainda nos anos 70, entre outros, um livro de grande sucesso chamado "O caos nosso de cada dia", uma abordagem do cotidiano brasileiro extremamente bem escrita e maravilhosamente bem humorada. Nesse livro havia uma crônica chamada "Congonhas: uma, duas, várias vergonhas". Já naquela época considerava-se um absurdo a construção de um aeroporto em uma área densamente habitada ( como se vê na foto ).
O que era humor, transformou-se em tragédia. E não apenas em uma, mas em várias tragédias no decorrer dos anos. E pior, o aeroporto de Congonhas continua lá, encravado entre prédios. E a vida de quem pousa ou decola, assim como a vida de quem mora, trabalha ou traféga no entorno do aeroporto, continua sendo um mero detalhe dentro do "Caos nosso de cada dia"

Vicente Portella

12.7.07

Coma poesia

Coma a letra
A sílaba
A palavra

Coma inteiro o poema
Com a avidez de quem lavra
A terra tenra e macia

Coma o verbo, a verve, a expressão
Coma a insinuação
do belo
Em cada mero detalhe

Coma tudo e embaralhe
No cérebro
As sensações
Do que choca e extasia

Coma o verso e a poesia
Como quem bebe uma lágrima
Num cálice de cristal

Coma o bem e coma o mal
Mas coma tudo aos pedaços
Coma com sofreguidão

Coma todo o proseado
Assim como o esfomeado
Devora o pão e a carne

E deixe escorrer, suave
Dos cantos da tua boca
O sumo da amplidão



Vicente Portella

Poema da partida

Quando você vai embora
A noite estrangula o dia
Eu sinto a asfixia
Se alojar em meus pulmões

Não consigo respirar
Porque você é meu ar
Meu vinho
Meu alimento
Minhas alucinações

Quando você vai embora
A escuridão me devora
E chove aos borbotões
Na face oculta da lua

Eu choro sobre uma grua
Observando as canções.

Vicente Portella

10.7.07

Senso de injustiça

Curioso o senso de justiça do nosso poder judiciário, principalmente no que se refere aos atores do mundo político.
Pode-se fazer transações obscuras com dinheiro público e depois arranjar uns bois pra justificar patromônio adquirido com mutreta; pode-se sair de um cargo público com um patrimônio ,mil vezes maior do que o que se tinha quando eleito; pode-se comprar mansões em Miami ou em Angra dos Reis por valores que ultrapassam em milhões a renda oficial estabelecida pelo cargo que se ocupa; pode-se até instituir ou receber mensalão ou mensalinho à vontade com o dinheiro público...Mas não se pode calçar meia dúzia de ruas em benefício da população. Isso sim, causa asco e revolta ao poder judiciário.
No País do "VALE TUDO", beneficiar pobres é crime eleitoral. Deve ser por isso que Renam, Roriz e tantos outros mandatários brasileiros não movem uma palha para beneficiar os pobres. Desviar dinheiro público pode, mas beneficiar o povo é motivo para a cassação de mandato e inelegibilidade. Não sou do PMDB, nem sou próximo de Rosinha e Garotinho, mas é preciso que se diga: o que estão fazendo para impedi-los de exercer seus direitos políticos chega a ser ridículo.
Vicente Portella