29.8.07

Cidadã indignada: caridade com o dinheiro alheio

Carta aberta para Renato Aragão, o nosso Didi.
Querido Didi,

Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu nome para colar nas correspondências).

Achei que as cartas não deveriam sem endereçadas à mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido as suas solicitações. Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e te escrever uma resposta.

Não foi por "algum" motivo que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você. São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos). Você diz, em sua última carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação.

Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Esse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas mas, comigo não. Eu não sou ministra da educação, não ordeno as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula. A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da família. Trabalhei muito e, te garanto, trabalho não mata ninguém. Estudei na escola da zona rural, fiz supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro empresária.
Didi, talvez você não tenha noção do quanto o Governo Federal tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa. Os impostos são muito altos! Sem falar dos impostos embutidos em cada alimento, em cada produto que preciso comprar para minha família.

Eu já pago pela educação duas vezes: pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, porque a escola pública não atende com o ensino de qualidade que, acredito, meus dois filhos merecem. Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais. O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores, dessa dinheirama toda, não tem a educação como prioridade. O dinheiro está saindo pelo ralo, estão jogando fora, ou aplicando muito mal. Para você ter uma idéia, na minha cidade, cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 3,82 (três reais e oitenta e dois centavos) enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos)!

O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda?

Você diz em sua carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você. É por isso que sua carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria se endereçada ao Presidente da República. Ele é "o cara". Ele tem a chave do cofre. Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que ele faça o que for necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas.


No último parágrafo da sua carta, mais uma vez, você joga a responsabilidade para cima de mim dizendo que as crianças precisam da "minha" doação, que a "minha" doação faz toda a diferença. Lamento discordar de você Didi. Com o valor da doação mínima, de R$ 15,00, eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês ou posso comprar pão para o café da manhã por 10 dias.

Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas R$ 15,00 eu não vou doar. Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família.

Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer não para quase tudo que meus filhos querem ou precisam? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo? Acredito que não. Você é um homem de bom senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.

Outra coisa Didi, mande uma carta para o Presidente pedindo para ele selecionar melhor os professores. Só escolher quem de fato tem vocação para o ensino. Melhorar os salários, desses profissionais, também funciona para que eles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação. Peça para ele, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam além de ler, escrever e fazer contas, possam desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso tem sim! Diga para ele priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.

Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando...

Quinta, 23 de agosto de 2007.

Eliane Sinhasique

Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari

P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal educada: vou rasgá-la antes de abrir.

23.8.07

FEBEAPA - Cabral da um tiro na testa...de Getúlio

Santa ignorância...
Sergio Cabral, Governador e jornalista profissional, em aula magna na UniverCidade, deu uma demonstração clara aos alunos da instituição do porque chegamos ao estado de coisas atual. O que deveria ser uma aula de história transformou-se em uma catástrofe, no melhor estilo "Samba do crioulo doido". Se Stanislaw Ponte Preta, o saudoso Sérgio Porto, estivesse entre nós, Cabralzinho certamente ganharia destaque em uma nova versão do FEBEAPA - Festival de besteira que assola o País.

De cara, Cabralzinho "ensinou" aos alunos que Getúlio Vargas deu um tiro na testa. Na verdade Getúlio siucidou-se com um tiro no coração em 24 de agosto de 1954.

Não satisfeito, o "professor" garantiu que Jango foi Ministro de JK, mas o fato é que Jango foi vice de JK e Ministro do Trabalho de Getúlio.

Cabral tambem afirmou que a aliança entre EUA e URSS na segunda guerra mundial chamava-se Eixo, quando na verdade esse era o nome do grupamento liderado pela Alemanha de Hitler e pela Italia de Mussolini. O Outro grupamento, vencedor da guerra, tendo EUA e URSS à frente, eram os "Aliados". Aliás, Cabral teve a coragem de confundir Mussolini, o líder fascista, com Fellini, o brilhante cineasta. Um insulto.
Há quem garanta que ouviu um assessor cochichando com outro: “Vai virar chacota de tanta besteira que falou. Até nisso está imitando o Lula. Mas também não ouve mais ninguém, só faz o que quer e acha que é dono-da-verdade”.

Os alunos não fizeram nehuma pergunta a Cabral no final da palestra, pois preferiram comemorar o fato do Governador defender a legalização da maconha. O que de certa forma pode até explicar a performance do confuso Governador.

Eu, particularmente, quando li a notícia lembrei de um antigo samba do Dicró cuja lentra, em determinado momento, diz o seguinte:
Levou a merenda esqueceu do caderno
Vai ser burro assim no inferno...

20.8.07

Um governo de muletas

Há certas questões em que a genética não influencia absolutamente nada. Como pode um governador que é filho de uma professora com um conselheiro do Tribunal de contas do município ser tão mau, tão insensível em relação aos servidores públicos?
O reajuste imposto pelo governo de 25% em dois anos não chega nem a ser ridículo. Na verdade uma proposta completamente ridícula seria pelo menos o dobro do reajuste que foi estabelecido e com um prazo bem mais curto para a aplicação. E o que é pior: não se deram nem ao luxo de ouvir ninguém, de receber os representantes dos trabalhadores. Nem sequer fingem ser um governo democrático.
O Governo diz que não tem dinheiro. Mentira. O secretário Joaquim Levy vive por aí se orgulhando do dinheiro que juntou nesses oito meses no cargo. O problema é que nunca tem dinheiro para o que é importante, pois o Governo tem valores inversamente proporcionais ao da sociedade.
Duvido que qualquer cidadão em sã consciência considere que um professor não mereça um salário digno ou que importante mesmo seja gastar dinheiro com essas bobagens que os governos atuais consideram fundamentais. Não creio que ninguém defenda a tese de que um policial tem que por sua vida em risco em troca de um salário medíocre.
Mas essa, infelizmente, é a lógica dos governantes chamados neoliberais. Ao estado, sua máquina e seus servidores, nada. Aos banqueiros, via superávit primário, tudo.
Perguntar não ofende: o que o secretário Joaquim Levy pretende fazer com os 2 bilhões que tem em caixa, segundo ele próprio?
E mais: se não for para investir nos serviços essenciais à população, inclusive nos servidores que prestam estes serviços, para que serve o Estado? Para que pagamos impostos?
Com a palavra o Governador

Vestibular para candidatos

Eu estava aqui matutando – como bom matuto... Bem que poderiam inventar um vestibular para políticos. Não nos moldes tradicionais, é claro, pois a intenção não seria - nem poderia ser - auferir o nível acadêmico do candidato. Isso não seria democrático. Até porque tem muita gente boa por aí que, mesmo analfabeta, tem mais cultura e inteligência na ponta de um dedo do que muitos secretários que andaram respondendo pela pasta Cultura em vários governos municipais, estaduais, e até bem pouco tempo, federais. Esse vestibular que elucubrei seria diferente de todos.
O primeiro teste seria para avaliar a relação entre o candidato e o dinheiro. Pondo o cara trancado numa sala ao lado de uma mesa apinhada de dólares, uma comissão avaliaria suas reações. Se esfregasse as mãos estampando um sorriso abobalhado no rosto já estaria reprovado de cara. Se desse um sorriso daqueles que esboçam superioridade no manuseio da questão também. No primeiro caso ficaria claro que o sujeito quer um mandato só pra ficar rico, e no segundo, só pra aumentar sua fortuna.
Segunda prova: o candidato tem que nomear dirigentes para 5 estatais, numa lista de dez instituições públicas: Bancos, fundos de pensão, Cias de habitação, água e esgoto, Escolas, hospitais etc. Se começar pelos bancos e fundos de pensão, já sabe, pau nele. Essa é tão óbvia que se posta em prática quase todo o congresso nacional ficaria sem direito a uma nova candidatura.
Na terceira etapa seria avaliada a capacidade do candidato de ficar sozinho com uma mulher bonita. Algo assim teria poupado tanto Fernando Henrique como Renan Calheiros de uma baita dor de cabeça. Afinal de contas ambos engravidaram jornalistas da Rede Globo e, apesar das penas diferenciadas, ficou provado que nenhum dos dois consegue resistir aos pecados da carne. Nada demais, caso não fosse a gente que pagasse a conta depois.
Outro teste poderia ser o de resistência: depois de estabelecida a opinião do candidato sobre uma determinada questão, dez lobistas diferentes o visitariam, cada um com uma proposta mais irrecusável que a anterior para que esta posição fosse mudada. A nota seria de acordo com a capacidade de o candidato resistir a um n° maior de lobistas.
Enfim... Inúmeros outros testes poderiam ser incluídos nesse vestibular: tamanho da cueca, conhecimentos gerais de banqueiros, corrida ao dólar e até mesmo um teste de apreço pessoal do candidato por seus familiares.
Nada disso, é claro, impediria a podridão reinante. Mas pelo menos seria engraçado vê-los se sujeitando a tudo isso e tentando enganar a banca examinadora em nome do exercício do poder.

6.8.07

Eu também cansei...mas foi muito antes

Muito antes dos guerrilheiros dos Jardins, eu já havia cansado. Cansei, por exemplo, de ver essa elite sebosa vomitando regras a serem seguidas pelo povão. Cansei de ver o dinheiro brasileiro concentrado em meia dúzia de mãos enquanto a grande maioria agoniza à olhos vistos. Cansei de ver o povo, que sustenta essas mesmas elites, sem trabalho, sem casas, sem hospitais dignos. Cansei de ver os riquinhos no poder dizendo para os pobres comerem brioches na falta de pão. Cansei das marchas especializadas em defender poderes absolutos para quem tem família rica, tradição e propriedade. E eles diziam que a marcha era com Deus, pois até Deus eles consideram uma propriedade deles.
Cansei, mas cansei mesmo, de assistir ao comportamento dessa gente quando está no poder. De vê-los idolatrar a América e ridicularizar o Brasil e sua gente. De ouvi-los defender o lucro em detrimento do ser humano, a crucificação dos pobres - e negros - e o recrudescimento das leis contra aqueles que não tem dinheiro, que não tem eira nem beira.
Cansei de ver essa gente rica conspirando contra qualquer governo que não tenha nascido de seu próprio ventre, desde Getúlio, passando por Jango e Brizola, até os dias de hoje. Cansei de ler os artigos de seus asseclas desqualificando o povo para o direito do voto, alegando que este não estaria preparado para escolher seus representantes. Cansei de ver estes mesmo personagens, e seus pais, e seus avós, e seus bisavós, reivindicando uma sociedade escravocrata, onde trabalhadores não teria direito sequer aos benefícios da CLT. Aliás, estas mesmas vozes costumavam dizer que a abolição da escravatura representaria a falência do País, pois os donos da riqueza não poderiam suportar a “perda” de mão de obra gratuita.
Cansei de ver essa elite branca e rica desprezar e humilhar o povo. De vê-los defender ações políticas covardes e mesquinhas unicamente para garantir-lhes o exercício do poder.
Cansei, mas cansei de verdade. Cansei ainda antes de nascer. Cansei durante os anos a fio em que esta súcia governou o Brasil e transformou-o no que ele é hoje.
E justamente por estar cansado, obrigo-me a estar mais atento. De olhos mais abertos para estas manobras ilegítimas e golpistas contra a democracia e contra o povo brasileiro.
Como dizia a canção, é preciso estar atento e forte. As viúvas da ditadura estão aí, batendo a nossa porta. Tão acostumados estão a tomar para si as riquezas do Estado, tendo-o a seu serviço, que agora querem também tomar nossa consciência. Querem nos convencer de que somos desprovidos de inteligência e que o poder deve ser exercido absolutamente pelas elites. Temos que ter cuidado com essa gente. Eles não valem o ar que respiram.

2.8.07

Pan...Pan....Pan, Pan,Pan

Dia desses passei numa banca de jornal e as manchetes me pareceram assustadoras. Era o dia seguinte da festa de encerramento do PAN, e os jornais “Extra” e “Meia Hora” comemoravam a volta dos ataques policiais a comunidades carentes. Quando digo comemoravam, não é uma força de expressão. É fato. Um deles dizia o seguinte: “Não é ouro, nem prata, nem bronze. É chumbo”. Esta manchete era ilustrada pela foto de um policial, de aparência bastante feroz, gesticulando e com meio corpo pra fora da janela de uma viatura da corporação. O outro jornal dizia que com o fim do PAN a polícia voltava a dar um “Sacode” nas favelas. Não tive como deixar de pensar na pobreza de espírito da nossa imprensa.
Em tempos idos a coisa funcionava assim. Tempos de ditadura e esquadrão da morte. Com a redemocratização do Brasil, no entanto, lembro-me que o Governador Brizola quando empossado proibiu terminantemente as ações terroristas do Estado contra os pobres no Rio de Janeiro. A mídia não lhe deu tréguas jamais, pois o fato de não permitir o uso da força policial como estratégia de intimidação ( Como na foto acima, da década de 80 ) e muitas vezes de assassinato de inocentes, fez com que esta mesma mídia o transformasse em persona nom grata para sempre.
No decorrer dos anos, como não podia deixar de ser, a própria sociedade foi desenvolvendo valores mais próximos à civilidade e a partir de um determinado momento se chegou até a separar as imagens do criminoso e do pobre, constatando-se que uma coisa nada tem a ver com a outra.
Recentemente, porém, sofremos um grave refluxo. O atraso, a arbitrariedade e a apologia ao extermínio de pobres e negros em comunidades carentes voltaram a ser tônica nos discursos das autoridades, e com isso, é claro, aquela velha mídia retomou sua retórica fascista.
A própria questão do PAN tem uma simbologia importante quando se analisa este comportamento da mídia. Foram quase 4 bilhões em dinheiro público gastos na promoção dos jogos. Dinheiro que daria para urbanizar pelo menos algumas das muitas favelas do Rio de Janeiro, acabando com os atuais becos insalubres das comunidades carentes que servem como escudos para marginais de toda ordem. Mas a mídia não toca nesse assunto nem se interessa em fazer tais comparações.
A mídia sabe muito bem que não há no Rio grandes plantações de drogas, nem laboratórios para refino de cocaína e muito menos fábricas capazes de gerar as armas pesadas do tráfico. Assim como sabe que grande parte da criminalidade vem das drogas. Mas também não toca nesse assunto nem se interessa por ele. Prefere defender a exposição dos pobres aos ataques policiais e, quando algo ocorre fora do combinado, apontar os “culpados” com dedo em riste.
É bem mais fácil e mais lucrativo. Depois é só convidar os verdadeiros controladores do caos para uma entrevista amena, com direito a pose e discurso de pseudo-indignação. E ainda se ganha um dinheirinho extra com a veiculação das “Campanhas” pela paz, contra a corrupção e “otras cositas más”.