2.8.07

Pan...Pan....Pan, Pan,Pan

Dia desses passei numa banca de jornal e as manchetes me pareceram assustadoras. Era o dia seguinte da festa de encerramento do PAN, e os jornais “Extra” e “Meia Hora” comemoravam a volta dos ataques policiais a comunidades carentes. Quando digo comemoravam, não é uma força de expressão. É fato. Um deles dizia o seguinte: “Não é ouro, nem prata, nem bronze. É chumbo”. Esta manchete era ilustrada pela foto de um policial, de aparência bastante feroz, gesticulando e com meio corpo pra fora da janela de uma viatura da corporação. O outro jornal dizia que com o fim do PAN a polícia voltava a dar um “Sacode” nas favelas. Não tive como deixar de pensar na pobreza de espírito da nossa imprensa.
Em tempos idos a coisa funcionava assim. Tempos de ditadura e esquadrão da morte. Com a redemocratização do Brasil, no entanto, lembro-me que o Governador Brizola quando empossado proibiu terminantemente as ações terroristas do Estado contra os pobres no Rio de Janeiro. A mídia não lhe deu tréguas jamais, pois o fato de não permitir o uso da força policial como estratégia de intimidação ( Como na foto acima, da década de 80 ) e muitas vezes de assassinato de inocentes, fez com que esta mesma mídia o transformasse em persona nom grata para sempre.
No decorrer dos anos, como não podia deixar de ser, a própria sociedade foi desenvolvendo valores mais próximos à civilidade e a partir de um determinado momento se chegou até a separar as imagens do criminoso e do pobre, constatando-se que uma coisa nada tem a ver com a outra.
Recentemente, porém, sofremos um grave refluxo. O atraso, a arbitrariedade e a apologia ao extermínio de pobres e negros em comunidades carentes voltaram a ser tônica nos discursos das autoridades, e com isso, é claro, aquela velha mídia retomou sua retórica fascista.
A própria questão do PAN tem uma simbologia importante quando se analisa este comportamento da mídia. Foram quase 4 bilhões em dinheiro público gastos na promoção dos jogos. Dinheiro que daria para urbanizar pelo menos algumas das muitas favelas do Rio de Janeiro, acabando com os atuais becos insalubres das comunidades carentes que servem como escudos para marginais de toda ordem. Mas a mídia não toca nesse assunto nem se interessa em fazer tais comparações.
A mídia sabe muito bem que não há no Rio grandes plantações de drogas, nem laboratórios para refino de cocaína e muito menos fábricas capazes de gerar as armas pesadas do tráfico. Assim como sabe que grande parte da criminalidade vem das drogas. Mas também não toca nesse assunto nem se interessa por ele. Prefere defender a exposição dos pobres aos ataques policiais e, quando algo ocorre fora do combinado, apontar os “culpados” com dedo em riste.
É bem mais fácil e mais lucrativo. Depois é só convidar os verdadeiros controladores do caos para uma entrevista amena, com direito a pose e discurso de pseudo-indignação. E ainda se ganha um dinheirinho extra com a veiculação das “Campanhas” pela paz, contra a corrupção e “otras cositas más”.

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