8.11.10

Tropa de elite 2, a missão.

Quando o primeiro filme “Tropa de Elite” foi lançado, há alguns anos, boa parte da mídia, inclusive o jornal inglês The Guardian, - Conor Foley vociferou à plenos pulmões, taxando a obra como fascista. Daqui do nosso Blog eu discordei. Tratava-se apenas de uma abordagem realista da sociedade brasileira, focada no Rio de janeiro, com algumas pitadas de frustração sociológica. Pois bem, o segundo filme da série esta nos cinemas e arrasta multidões, com chances de se tornar o maior êxito do mercado cinematográfico brasileiro de todos os tempos.
O herói egocêntrico, Capitão Nascimento, volta como uma espécie de Rambo tupiniquim e desta vez faz questão de se justificar, de dizer que não é fascista. E isso é verdade. Trata-se apenas de um personagem voluntarista, insurreto e sem ideologia que aprendeu com a vida a resolver tudo na base da porrada. O Capitão Nascimento, na verdade, encaixa-se como uma luva em nossa cultura individualista e conspiratória. 
O primeiro filme foi interessante por implementar, artisticamente, um certo realismo, tanto em termos de roteiro quanto de interpretação e direção. Aliás, se há uma coisa que dignifica a obra são seus atores, sem demérito nenhum ao diretor, é claro. Além disso havia uma certa tendência à afronta do status quo, uma vontade de ser politicamente incorreto, talvez fundamentada nas experiências frustradas de alguns de seus idealizadores e na necessidade deles de vomitar essas frustrações, mesmo que fosse no colo do distinto público.
O segundo filme, entretanto, não é nada disso. Tecnicamente bem feito, bem interpretado, bem dirigido, o trabalho limita-se à uma colagem de fatos reais ocorridos em diferentes momentos de espaço e tempo, recriados ficcionalmente. É interessante. Mas o que antes tinha a intenção de meter o dedo na ferida, agora é apenas uma crônica social e política. Até mesmo o tempero sociológico teve sua dosagem alterada para menos.Muito menos.
Há, no entanto, um aspecto curioso deste novo filme: seus personagens e a relação que se estabelece com elementos reais entrelaçados aos fatos utilizados como referência para o roteiro.
A histórica rebelião no complexo prisional de Bangu, por exemplo, ocorreu no Governo Benedita, mas o Governador do filme se parece infinitamente mais com Cabral. O personagem Rocha, líder do esquema das milícias, é uma mistura clara de um ex vereador, atualmente preso, que comandava Campo Grande, com um falecido inspetor de polícia que atuava em Rio das pedras, ambos bairros da Zona Oeste dominados pelas milícias. Só que o Rocha do filme é policial militar e não civil. 
Muita gente ficou curiosa com o personagem do Deputado esquerdista - utilizado para limpar a barra do Capitão nascimento no seio da classe média, retirando-lhe a pecha de fascista - novo marido da ex mulher do herói. Arrisco-me dizer que o mesmo foi inspirado em Chico Alencar e Marcelo Freixo, bons Deputados e ídolos da garotada esquerdista do Rio. O “Fraga” mistura os dois.
Já o Deputado de Direita, o tal que é também apresentador de TV, me pareceu muito longe da figura do Wagner Montes, como disseram alguns por aí. Se assemelha muito mais à uma mistura de Datena e até do próprio Wagner, no aspecto televisivo, com alguns Deputados do PMDB na Alerj. Um deles, inclusive, ex Deputado, da Zona Oeste, cassado, acusado de corrupção.
Enfim, o “Tropa de elite 2” cumpre sua missão de aliviar a barra do ex fascista Capitão Nascimento junto a classe média, transformando-o em referência à partir de uma aliança com intelectuais de esquerda.
Na verdade isso não está muito longe da realidade, até Sarney e Collor se tornaram heróis ao se aproximarem dos ícones da intelectualidade consentida e oficialmente estabelecida. Coisas da vida. E viva o Brasil.


Vicente Portella

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