6.3.10

Entrevista com Ana Jensen, a Secretária de Cultura de D. de Caxias

Nosso Blog entrevista Ana Jensen, secretária municipal de Cultura e Turismo de Duque de Caxias.


Formada em Educação Artística e técnica em Planejamento, áreas em que atua desde a década de 70, quando se formou pela UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ana Jensen é funcionária federal e municipal (no Rio), e trabalhou no estado durante o governo Marcello Alencar.
Em um papo descontraído em seu Gabinete, na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, a Secretária falou de sua história, de sua formação, de sua chegada à Caxias, do que já foi realizado nesse primeiro ano de trabalho e dos projetos que tem para Cultura e para o Turismo municipal.
O jornalista Eldemar de Souza conduziu a entrevista que teve também as participações do cantor e compositor Beto Gaspari e do escritor Vicente Portella. Fica constatado que, depois de inserir Duque de Caxias no cenário cultural do Estado e preparar sua inserção em esfera nacional, há muito para ser feito ainda, mas o caminho está sendo percorrido com profissionalismo e competência.

Relação com o Prefeito
O meu contato com Zito vem desde a sua primeira eleição, em 96, pelo PSDB. Eu era um quadro do partido desde o final dos anos 80, quando ele foi criado. Antes, eu era filiada ao Partidão (PCB), onde ingressei nos tempos da faculdade.

Formação profissional e política

Eu entrei na UERJ em 1974, o reitor era Aloysio Teixeira. Naquele tempo, a Universidade tinha um pessoal muito bom, politicamente, e era quase impossível ser universitário sem se envolver com a política. Então, lá tinha gente do Partidão, do MR-8 e outras organizações clandestinas de esquerda. Aí, eu optei pelo PCB, que tinha uma proposta mais coerente com a minha posição: oferecia uma resistência à ditadura mais qualificada, não pregava a luta armada, e tal...
Como só tinham dois partidos, todo esse pessoal de esquerda votava no MDB. Fiz campanha pro Marcelo Cerqueira, pro Lysâneas Maciel, pro Raimundo de Oliveira... Mas, na eleição de 82, o PCB rachou: uma parte apoiou o Brizola, no PDT, e outra permaneceu fiel ao PMDB, apoiando o Miro Teixeira. E eu fiquei com eles.


Experiência no Estado
Quando surgiu o PSDB, formado por boa parte da elite pensante do PMDB de São Paulo, como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro e outros, o Artur da Távola, então deputado federal pelo PMDB fluminense, também aderiu a nova sigla. E como nós éramos muito amigos, ele me convidou para coordenar a sua campanha para o Senado, nas eleições de 94. Aí, eu me filiei ao PSDB, onde estou até hoje, e me engajei na campanha do Marcello Alencar, que havia deixado o PDT, e concorria ao governo do estado. Ele foi eleito e eu passei quatro anos no Palácio Guanabara, como sub-chefe da Casa Civil, acumulando, depois, a coordenação do projeto Comunidade Solidária (da dona Ruth Cardoso), no Rio. O último cargo que ocupei no estado foi de vice-presidente de Planejamento da Suderj. Na ocasião, eu era secretária geral do Diretório Estadual do PSDB.


Vinda para Caxias
Portanto, eu vim pra Caxias por conta da minha aproximação com Zito. Ainda no segundo mandato dele, lá pelos dois últimos anos do seu governo, ele me chamou pra conversar. A primeira proposta foi para ser secretária de Meio Ambiente. Mas, antes disso, fui convidada pela Andréia, para ser sua chefe de gabinete, em Brasília, mas também não aceitei. Como ultimamente eu estava presidente do Instituto Teotônio Vilella e trabalhava na Alerj( Gabinete do Deputado Luiz Paulo), nem trabalhei nas últimas campanhas do Zito.
Quando ele se elegeu, agora, queria que eu viesse pra cá, na área de Planejamento. Como sou professora de Educação Artística e tenho, também, serviços prestados no campo do Planejamento de Gestão Pública, disse pra ele que gostaria de fazer algo neste sentido, na Cultura. Até então, o meu conhecimento da Baixada Fluminense se restringia ao campo sociológico.


Arrumando a casa
Quando cheguei aqui, na Secretaria, trazida pelo Amorelli, vice prefeito, fui recebida pela Magali Machado, que era subsecretária. O então secretário, Marquinho Peçanha, eu não conheço até hoje. Eu já conhecia a Magali, dos tempos em que ela era deputada estadual pela Igreja Universal. Nesse dia, eu fui apresentada, também, ao João Carlos, que é o meu sub.
Foi muito difícil botar ordem na casa. Só consegui tomar pé da situação, através da equipe que já trabalhava aqui há muito tempo, como o Beto Gaspari, a Rosa Leite, a Regina Caldas, enfim, pessoas dispostas a colaborar. Logo de cara, descobri que a Secretaria não possuía um organograma. O que havia – que pudesse ser chamado assim – era um documento obsoleto, datado de 1991. As pessoas eram nomeadas para um cargo, mas, quase sempre, exerciam outro completamente diferente. O Chiquinho Maciel, por exemplo. É uma pessoa por quem tenho um profundo respeito, mas seu nome constava como diretor do Museu, quando, na verdade, ele exercia toda a sua eficiência como apresentador do Forró da Feira, nos fins de semana.
Aí, nós fizemos um novo organograma. Hoje, todo mundo está em seu devido lugar. Fizemos um planejamento de política de cultura – tudo com a colaboração da equipe – apresentado e aprovado pelo Conselho Municipal de Cultura, numa de suas reuniões ordinárias, e apresentamos também à imprensa, numa entrevista coletiva convocada em meu gabinete.


Centro Cultural Oscar Niemeyer
O Centro Cultural tem que ser uma referência, não só aqui como na Baixada Fluminense, pois nenhum outro município tem algo assim. Eu já pedi ao prefeito, para transferir a Secretaria para o prédio do Mercado Popular em frente ao Centro cultural. Aquele prédio, com uma pequena reforma, pode ser transformado em local de exposição. Tem um espaço grande, que pode abrigar o Centro de Tradições Populares. No térreo, daria para criar uma seção de café literário, com música ao vivo, dois telões...
A gente tem, além da manutenção e reestruturação da própria Secretaria, 05 eixos principais de políticas públicas para a cultura, que vão desde o inventário dos bens culturais e turísticos do município, passando pelo fortalecimento da produção, dinamização do ambiente cultural, melhoria da acessibilidade, até o fortalecimento dos canais de representação. Como programa de um destes eixos, pretendemos implementar um curso de formação e capacitação cultural, com o apoio de um escritório modelo, que acompanhará o trabalho dos agentes que participarão deste curso e outros mais que venham procurar a Secretaria, para formatação de projetos, captação de recursos, assessoria de mercado, programação visual, questões contábeis e jurídicas, etc. Faremos um cadastramento de profissionais e informações; com esse cadastramento e a qualificação dos nossos produtores, pretendemos que eles não precisem ficar tão dependentes do poder público. Aí, sim, você está fomentando a produção cultural. Já na área de turismo, temos também pólos a serem explorados. Apesar de que o turismo não é uma coisa fácil de se trabalhar em Caxias ainda, até mesmo por conta de sua aproximação com o Rio.


Teatros Raul Cortez e Armando Mello
Outra coisa é a utilização dos teatros Armando Mello e Raul Cortez, que são equipamentos públicos e precisam ser utilizados como tal. Não dá pra . Não dá pra realizar ali, solenidades de formatura e reuniões religiosas e nem permitir que o equipamento público seja utilizado como propriedade de alguém, como uma coisa privada. Ora, se o Estado é laico, a religião é algo de foro íntimo. Então, que o pastor faça seus cultos na igreja. As escolas também não podem mais fazer formatura ali. Temos feito um esforço muito grande, para fazer um intercâmbio com outras prefeituras e praças, visando à formação de platéias. Já conseguimos, inclusive, numa parceria com a Secretaria de Estado de Cultura, levar nossos artistas para apresentações no Teatro Gláucio Gil e receber artistas do município do Rio em nossos aparelhos culturais.


Captação de recursos
Eu estou formando uma equipe, para que a gente possa captar recursos. A dificuldade é a lentidão com que as coisas ocorrem. Para resolver esse problema, a gente está fazendo este processo: primeiro estamos fazendo a inserção de Caxias à realidade desse esforço nosso de costurar com nove secretarias. Entre outros projetos, vamos sugerir o Trem da Cultura, com a Supervia, por exemplo. Mas tudo depende da legislação, a gente teve uma reunião com o ministro da Cultura, sobre as mudanças na Lei Rouanet, que inclusive propiciarão repasses diretos, do Fundo Nacional de Cultura para o Fundo Municipal de Cultura. Isso já nos dará uma agilidade maior. Estamos estudando um projeto já enquadrado na Lei de ICMS, para a realização de uma Semana Literária. Estamos caminhando para captar esses recursos da seguinte forma: apresentamos nossos projetos a quem esteja habilitado a formatar, enquadrar nas Leis de Incentivo, e captar; por outro lado estamos pesquisando projetos que já estejam enquadrados nestas Leis, e que possam acontecer em Duque de Caxias, daí procuraremos as empresas atuantes no município, prováveis patrocinadores e/ou apoiadores, indicando a eles estes projetos como sendo de interesse para a política pública de cultura para a cidade.
A Débora Cocker dançou aqui para oito mil pessoas, sem qualquer ônus pro erário, graças à Lei Rouanet, e em seguida foi se apresentar em Nova York. Lá o espetáculo foi caríssimo, mas aqui o povo assistiu sem pagar nada. E ela vai voltar agora, em abril. Estou correndo atrás, para trazer o espetáculo da Clarice Lispector, dia 4 de março. O Raul Cortez reabre o ano com um espetáculo da Elizabete Savala.

Estrutura da Secretaria e ampliação das atividades para outros distritos
É um outro eixo de nossa política cultural. Temos três salas de leitura (bibliotecas públicas), hoje a gente tem a Casa Brasil, centro de inclusão digital e de difusão cultural que conta com um telecentro, um laboratório de metareciclagem, um laboratório de audiovisual, e diversas atividades culturais, além de oficinas, num convênio com o governo federal, através do CNPq. Este equipamento prevê também a instalação de uma rádio comunitária, até o presente momento ainda não regulamentada pelo Ministério das Comunicações.
Temos o Museu, que na verdade não é um museu, pois não tem acervo. A intenção é fazer daquilo ali uma outra idéia de museu, alguma coisa que venha a funcionar bem naquele local. Um centro multicultural.
Temos uma escola de artes, criada em 1991, e temos uma proposta para implementá-la, mas até hoje não encontramos um espaço físico. Essa escola de arte, que só existe de direito, passaria a existir de fato.
Outra idéia é criar a Escola Municipal de Música, e fora do 1º Distrito. Já fizemos até contato com a Escola de Música Villa-Lobos, no intuito de assinarmos um convênio de cooperação...
Queremos fazer um convênio com a Faetec, que quer fazer um trabalho no Armando Mello. Eles têm técnicos e poderiam fazer alguma reforma no teatro e pagariam os profissionais.
Vamos fortalecer os conselhos de representação, como já estamos fazendo com os Conselhos Municipais: de Cultura,de Defesa dos Direitos do Negro e Promoção da Igualdade Racial e Étnica e incentivando a criação do Conselho Municipal de Turismo.

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