30.11.08

Arakén voou...junto com sete cantigas

Meu terceiro pai morreu hoje.

Arakém Álvaro dominava muitas artes, sobretudo as plásticas, as gráficas e as humanas. Em duas décadas e meia - mais ou menos - de convivência aprendi com Arakén tanta coisa sobre vida que o acúmulo disso tudo hoje em dia até dói. Não pelo excesso em si, mais pelo fato de pouca gente ter tido tanto pra ensinar ao mesmo tempo.

Pintava coisas fantásticas. Mas do que pintar, porém, falava. E tinha sempre tanta coisa pra dizer que era impossível não ouvir.  E essa coisa impossível de não ouvir era fácil de constatar. Bastava olhar o mundo, avaliar as possibilidades para descobrir que Arakén tinha razão no que dizia.

Foi a primeira pessoa que vi se referir aos poderosos como seres menores. Tinha inclusive um jeito bastante especial de desconstruir a imagem de qualquer um daqueles mandões – generais, deputados, ministros, prefeitos, etc. -  que pululavam na época da ditadura militar. Era naturalmente genial.

Insurreto até a medula e iconoclasta por convicção, nos ensinou, a mim e a tantos outros amigos, a desconfiar daqueles que tem poder nas mãos, principalmente os ilegítimos.

De um modo geral, no entanto, apesar da forte convicção política, Arakén nos falou muito mais de amor a arte e a vida do que qualquer outra coisa. Por isso nos despedimos dele cantando. A canção foi  "Sete cantigas para voar" do Vital Farias, puxada pela Elaine Caldas e pelo Beto Gaspari. Ele adorava essa música, por isso foi voar com elas, as cantigas. A gente fica de olhos marejados ouvindo os acordes soarem livres no vento. A coisa nem aconteceu direito e já bate a saudade... putzzz

OBS: no vídeo, Tereza Cristina e grupo Semente,  no Teatro FECAP, em São Paulo, interpretando Sete cantigas para voar, música de Vital Farias

4 comentários:

Anônimo disse...

Vicente, Vicente, notícia triste essa, cara...

mas viva a Internet, que possibilita você fazer esse registro necessário e emocionado.

felicidade a tua ter convivido com a fera.
Mais um motivo pra gente se encontrar e tomar uma cerveja celebrativa homenageante. O tal "copo amarelo"! :D

abraço!
heraldo hb /.

Vicente Portella disse...

Valeu HB,

A gente tá preparando uma homenagem legal para o velho Araka. Fica atento que a gente vai te convocar.

Um abraço parceiro.

Beto Gaspari disse...

Pô Véio! Ando com tanta saudade, de tanta coisa, de tanta gente, de tanta madrugada, de tantos domingos... Às vezes acho que vou cantar pelo universo um outro verso do Vital "Chega. Tanta incerteza... A alma presa quer se soltar..."
Araken... Mais um amigo...Mais um pisciano que se foi... Era daqueles que "carregavam o mundo com a mão, num oceano de quarenta correntezas, sem nenhuma embarcação..." Saudade do Velho Araken... Saudade de meu pai... Saudade...

Vicente Portella disse...

Pois é Beto. A gente anda com a alma tão presa, né parceiro? Mas um dia a gente consegue deixar ela se soltar...

Grande abraço