22.11.08

Ana de Amsterdam

Sou Ana do dique e das docas
Da compra, da venda, das trocas de pernas 
Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas
Sou Ana das loucas 
Até amanhã
Sou Ana
Da cama, da cana, fulana, sacana 
Sou Ana de Amsterdam
Eu cruzei um oceano
Na esperança de casar
Fiz mil bocas pra Solano
Fui beijada por Gaspar
Sou Ana de cabo a tenente
Sou Ana de toda patente, das Índias
Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada
Sou Ana, obrigada
Até amanhã, sou Ana
Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos
Sou Ana de Amsterdam
Arrisquei muita braçada
Na esperança de outro mar
Hoje sou carta marcada
Hoje sou jogo de azar
Sou Ana de vinte minutos
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa
Que apaga charutos
Sou Ana dos dentes rangendo
E dos olhos enxutos Até amanhã,
Até amanhã, sou Ana
Das marcas, das macas, da vacas, das pratas
Sou Ana de Amsterdam



OBS - A foto lá em cima é da atriz Flávia Fernandes na pele de "Beatriz dos Anjos", espetáculo roteirizado e dirigido por Dani Francisco, com base no poema " A canção de Beatriz" de Ruy Espinheira Filho.

2 comentários:

Alessandra Safra disse...

Eu gostei do ritmo, do tempo que canta ao contar as histórias.

Vicente Portella disse...

Esse ritmo é mesmo delicioso. Como se fosse uma pausa para o ouvinte absorver a personagem. Também gosto.