28.3.11

Caetano, o Banana de pijama

Não sei porque alguns dos maiores artistas que o Brasil já produziu, com o tempo, insistem em desconstruir sua própria imagem, mas, enfim, devem ter lá os seus motivos.
A bola da vez foi Caetano Veloso, que tomou uma página no jornal da família Marinho para defender sua irmã. Infelizmente, no entanto, o fez de forma atabalhoada, desorganizada e ineficaz.
Em primeiro lugar, é bom que se diga, Maria Bethânia não precisa que ninguém à defenda do ponto de vista artístico. Trata-se da maior cantora do Brasil – Pode ser que alguém discorde, mas pra mim, é - e pronto. Seu talento é indiscutível. Não cabe à Caetano, portanto, misturar a arte de Bethânia com o imbróglio envolvendo o Ministério da Cultura. Isso chega a ser desonesto.
O fato é que Maria Bethânia emprestou seu nome à um desse projetos usados pela máfia oficial da cultura para arrancar dinheiro fácil do MinC via patrocínio. Simples assim. Caetano poderia ter dito isso, mas preferiu jogar uma capa de invisibilidade sobre os “amigos” que formularam o projeto.
Como diria Jack, o estripador, vamos por partes... O patrocínio a cultura é algo importantíssimo e a fórmula da isenção fiscal é boa, é correta e pode vir a dar certo sim, mas é dinheiro público. Não há como defender qualquer coisa diferente disso. Ao patrocinar cultura a empresa deixa de pagar uma parcela de seus impostos, este é justamente o espírito da lei, e o fato de Caetano agredir ou tentar diminuir Lobão ou qualquer outro artista não vai modificar isso.
Mas também é fato é que esse dinheiro (público) fica restrito à algumas patotas compostas por amigos do Rei, pessoas que tem todos os canais e portas abertas, inclusive às do cofre, graças à alinhamentos políticos e partidários. 
Não se trata de algo amplo, aberto e democrático. Aliás, Bethânia foi vítima exatamente de uma dessas trupes acostumadas com dinheiro fácil oriundo de estatais terrivelmente generosas com os amigos. E digo vítima porque tenho a convicção de que Bethânia nem sabe direito como essas escaramuças funcionam. Algum esperto lhe propôs o projeto, a baiana topou e se viu metida nesse fuzuê todo. Quem apanha da imprensa é Bethânia, mas certamente a maior parte dos lucros iria para os bolsos dessa turma de nome complicado que já vem mamando nas tetas do Minc faz um tempão. 
Caetano, é claro, sabe de tudo isso e conhece muito bem cada um dos “artistas” envolvidos, mas preferiu, infelizmente, misturar as tintas e envolver até outros artistas no rolo para livrar a cara dos amigos projetistas. Talvez Caetano esteja de olho no futuro, no que essa máfia da cultura, muito bem articulada na mídia, pode lhe trazer de bom, mas, de qualquer forma, foi desonesto erguer uma baita cortina de fumaça para camuflar essa galera toda.
O curioso é que, mesmo com uma retórica que foge completamente ao cerne da questão, Caetano tem sido defendido por aliados desse grupo em vários canais de mídia. Chega a ser engraçado isso, ele mistura racismo com regionalismo, desqualifica escritores não alinhados, como Edney Silvestre, exerce a mais barata das verborragias e ainda conta com uma claque para tentar convencer-nos de que trata-se de algo sério.
Seria mais honesto, com certeza, se Caetano denunciasse a máfia da cultura que usou o nome de sua irmã para angariar dinheiro, público, diga-se de passagem, mas Caetano prefere contar para si mesmo uma historinha diferente, onde a inteligencia brasileira, ou o que restou dela, se volta contra ele e sua irmã só por que eles são baianos. Ridículo.
Artisticamente, pra mim, Caetano sempre foi um mestre – Assim como Bethânia, Chico, Gil, Milton, Elis, Vinícius, etc – mas aquela belíssima atriz, cujo o nome não me ocorre agora, está certíssima. O tempo e a necessidade de mídia a qualquer preço estão transformando um belo compositor, um artista genial, em um mero Banana de pijama. Deve ser a força da grana que ergue e destrói coisas belas, né?

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