19.5.10

O ocaso do PDT

Durante muitos anos de minha vida militei no PDT. Ainda garoto, no começo dos anos 80, fiquei fascinado, como tantos outros, pelo raciocínio apurado e pela oratória ágil de Leonel Brizola. Com o tempo fui aprendendo que aquele homem de sotaque forte e voz firme tecia teses completamente apaixonantes sobre o povo brasileiro. Em um mundo novo – pós ditadura – que se dividia entre oportunistas de direita, dispostos a tomar o Brasil para si, e intelectuais de esquerda, propensos à tutelar os brasileiros sob uma lógica academicista , Leonel Brizola era o único fato realmente novo. 
Não pretendia se apossar do Brasil e nem tutelar ninguém. Defendia apenas a emancipação completa do povo brasileiro, hipótese rechaçada pelo primeiro grupamento e condenada pelo segundo, por motivos diferentes. 
Uns, os direitistas, sempre acharam que o povo serve apenas para pagar as contas e servir de andaime ou trampolim para as pretensões dos mais abastados, e outros, os academicistas, sempre consideraram que o povo não tem “condições intelectuais” para compreender as coisas e decidir por si próprio.
Ancorado nos ideias getulistas e convicto de que ambos estavam errados, Brizola estabeleceu no Rio de janeiro uma trincheira de lutas, após a fundação do seu PDT – Partido Democrático Trabalhista. O Governo aqui estabelecido à época cultivava o hábito de espancar trabalhadores, tratar como bandidos quaisquer moradores de comunidades carentes e estabelecer como limite ideológico/geográfico para os investimentos do poder público as divisas da zona sul do Rio de janeiro. 
Eleito Governador Brizola inverteu essa lógica. Mesmo angariando para si o ódio dos poderosos,  redescobriu e reinventou a Baixada, a Zona oeste da capital, o interior e as comunidades carentes de todo o Estado, passando a tratar seu moradores como cidadãos ao invés de bandidos. Liderado por Brizola o PDT se tornou o partido das massas, das pessoas comuns que reconheciam em Brizola um aliado sob todos os aspectos.
Nos vinte anos seguintes Brizola teve influência decisiva em todas as eleições que ocorreram no Rio de janeiro. Quase todos os Governantes do Rio desde então, até 2006, passaram pelas trincheiras do PDT. O atual governo do estado, no entanto, é composto por aquela velha mentalidade oligárquica, sendo a antítese de tudo que Brizola defendeu a vida inteira.
O Governo aqui estabelecido hoje (exatamente como aquele que Brizola combateu e venceu) cultiva o hábito de espancar trabalhadores, tratar como bandidos quaisquer moradores de comunidades carentes e estabelecer como limite ideológico/geográfico para os investimentos do poder público as divisas da Zona sul do Rio de janeiro ( a repetição é proposital), a única diferença é que os dirigentes do  PDT de hoje, sem a “incômoda” presença de Brizola para lhes impôr o viés ideológico e popular, apoiam todas estas atrocidades.
Por incrível que pareça – soube disso com pesar – o PDT resolveu assimilar o ideário político combatido por Brizola a vida inteira e apoiar, no Rio de Janeiro – justamente aqui – este estafeta da direita chamado Sérgio Cabral.  Logo o PDT, principal responsável pelo fim das oligarquias PMDBistas no estado, decidiu, de bom grado, se tornar vassalo destas oligarquias.
Felizmente Brizola não está aqui para ver seu legado vendido e entregue aos históricos adversários  do povo Fluminense.
Ao PDT que está aí não interessa as escolas, tanto que Cabral não construiu nenhuma. Não lhe interessa mais o respeito aos professores, pois à estes Cabral dedica o espancamento em praça pública. Não interessa mais ao PDT  que está aí a integridade e o bem estar dos moradores pobres das favelas do Rio, para os quais Cabral reserva, como instrumento de dominação, o “Caveirão”, e, por fim, lamentavelmente, não consta mais no rol de  valores do NeoPDT a defesa dos servidores públicos – civis ou militares -  pois para apoiar esta coisa chamada Sérgio Cabral é necessário não cultivar qualquer respeito ou estima por este conjunto de trabalhadores.
Posso assegurar, portanto, como uma espécie de “Beatles” temporão, que o sonho acabou. O meu PDT, aquele fundado por Brizola, não é, definitivamente, este que aí está, cada vez mais parecido com o PMDB de Cabral.
Pode até ser que um dia ele ressuscite, pois em suas bases estão, ainda, muitos companheiros comprometidos com a emancipação do povo brasileiro e em desacordo com a atual direção partidária. 
De certo, estes companheiros não marcharão com Cabral, pois, quem nasceu no seio do povo, sabe o quanto essa gente cabralista é nociva. Verdadeiros trabalhistas não embarcariam nesta canoa furada por nada, muito menos por trinta dinheiros.
Enfim, podemos assegurar que o espírito das lutas de Leonel Brizola ainda está muito vivo em todos nós, e algo assim, que não é mercadoria, não pode ser vendido. Uma legenda política, por mais histórica que seja, passa, mas o sentimento da militância fará com que tudo seja reconstruído, tijolo por tijolo, sob uma outra bandeira. Assim como o PTB que está aí não é mais o de Getúlio, o PDT que está aí, da mesma forma, não é mais o de Brizola. Mas os sentimentos de povo e de País ainda nos habitam para que possamos construir o Brasil do futuro. E iremos fazê-lo. Começando com o apoio ao companheiro Garotinho para Governador.


Vicente Portella

2 comentários:

Anônimo disse...

centrado e coerente o seu discurso,como e bom ter compamnheiros como vc.

Anônimo disse...
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