Faça-se a luz, disse alguém em um determinado momento, e então surgiram as consoantes.
A mim pareceu em um primeiro instante que aquelas eram as irmãs mais velhas das vogais. Que ao pegarem-nas pelas mãos emprestava-lhes sentido. Era como se as consoantes levassem as vogais para a escola. O B levando pela mão o A, o E, o I, o O e o U, formando BA, BE, BI, BO , BU, que, à rigor, ainda não dizia nada com exatidão, mas já se afigurava mais interessante.
De repente, não mais que de repente, os membros daquela imensa família começaram a se misturar indiscriminadamente, de forma até meio pecaminosa, incestuosa, e passaram a se reproduzir em frases, períodos, parágrafos, páginas, livros e enciclopédias.
No começo foi uma coisa espantosa, mas em algum lugar entre a frase e a página ou entre a página e o livro, eu acabei me afeiçoando a todos e entrando para a família.
OBS: A professora Adriana Albuquerque nos pediu que escrevesse um pequeno texto descrevendo nossas primeiras experiências e sensações com leitura. Ei-lo.
2 comentários:
Genial !!!!
Minha sensação era de sabor: parecia que os livros, cadernos e lapis tinham gosto.
Isso tudo realmente é memória de infância ou é invenção do presente?
Bem, eu não tenho nenhuma memória dessa época, por isso pergunto ... Admiro quem a tenha (e invejo, no bom sentido, claro)
de qualquer forma, é uma ótima metáfora ...
bj
Postar um comentário