10.9.08

E Fausto Wolff se foi...

Dentre todos os escritores brasileiros, Fausto Wolff foi certamente um dos meus autores preferidos. Conheci seus textos no fim da adolescência através de um livro seu cujo título ainda hoje me parece bem sugestivo: Venderam a mãe gentil.
Em leituras coletivas, eu e alguns amigos, davamos gargalhadas homéricas com alguns textos e apredíamos a refletir seriamente com outros. Era um tempo bom. Lia-se por prazer. E Fausto, com seus textos, proporcionava aos seus leitores prazeres infinitos em várias frequências distintas.
Com o tempo, é claro, vieram muitos outros livros, inclusive " Matem o cantor e chamem o garçom ", um dos meus favoritos e que me levou inclusive a dedicar um poema do meu primeiro livro ao seu personagem principal, Parsifal.
Por uma simples questão de evolução natural fui conhecendo e me envolvendo com a obra de Wolff e, consequentemente, descobrindo um período da vida brasileira em que a inteligência era apreciada e incentivada. Isso dito assim, hoje em dia, pode até parecer mentira, mas é a mais pura verdade.
O garoto que ininiciou a carreira como funcionário de jornal no Rio Grande e acabou se tornando um dos melhores jornalistas e escritores do Brasil, acabou me ensinando através de sua pena a amar a palavra escrita.
Os talentos fervilhavam naquela geração Pasquim, mas Wolff se destacava por conta de uma questão específica: a paixão. Seus textos eram contagiosos na acepção mais ampla da palavra. Alguns faziam rir, outros refletir, outros relaxar, mas cima de tudo seus textos faziam sentir. impossível ficar imune.
Conheci-o na época em que era Diretor da Fundação Rio e mantivemos contato durante algum tempo. Inclusive quando se candidatou a Deputado Federal, claro, contou com meu voto. Seria uma possibilidade fantástica contar com Fausto Wolff no parlamento brasileiro, pra dizer o mínimo.
Quando " A mão esquerda" foi publicado, já não tinhamos mais contato. Comprei o livro para matar as saudades dos textos de Wolff e fiquei impactado. Li, como se dizia antigamente, de uma sentada só. Uma obra magnífica.
Alguém, não lembro quem, disse certa vez que os textos de Wolff pareciam ser escritos com cinzel e martelo. É a mais pura verdade. seus textos eram arte pura.
O homem que poetizou seu próprio algoz se foi na sexta-feira passada. Agora, livre da tal da embolia, deve estar em algum lugar do espaço tomando um baita porre com os amigos que se foram antes dele. Deve estar satisfeito. O brasil atual, sem debates, sem paixões, sem genialidades, xôxo e politicamente correto do ponto de vista midiático deve ter imposto um tédio terrível ao bardo gaúcho.
Pior do que Fausto previa, a mãe gentil foi vendida sem licitação e com preço superfaturado. Coisa grotesca demais para quem ama o belo e tem um compromisso claro com vida.
Mas não há de ser nada. Outros Faustos certamente virão. Afinal de contas, a vida, apesar das comédias e tragédias, ou até mesmo por causa delas, continua vindo em ondas como o mar.
Evoé Fausto. Evoé Vinícius.

4 comentários:

Anônimo disse...

obrigado pelo texto e pela homenagem, Vicente!
só com um texto sincero é que dá conta de homenagear o cara.
Valeu.
Saiba que assim que soube da notícia a primeira pessoa que me lembrei foi você. Tome isso como um elogio! :D

abraço,
heraldo hb /.

ps: aconteça o que acontecer, não deixe de escrever - e publicar!

Anônimo disse...

Valeu meu poeta. Belíssima homenagem. Fausto merece, muito mais até. É o mínimo que podemos fazer pelo rico legado que nos deixou.

Anônimo disse...

Esqueci de assinar.
Valdo

Aline Dias disse...

Adorei o texto cumpadre!?S=o uma pequena resalva,a mãe genmtil foi vendida sem licitcão e com preco defasado de mercado!