21.2.08

Ao meu amigo anônimo...

Um amigo leitor anônimo postou um comentário sobre o texto relativo ao filme "Tropa de Elite" e o artigo publicado no jornal inglês The Guardian. Considerei ótimo o seu questionamento e faço questão de responde-lo:

Caro amigo anônimo,
Em primeiro lugar, agradeço pela informação. Realmente imaginei que o autor do artigo fosse inglês devido ao jornal onde o mesmo foi publicado. Você me informa que trata-se de um cidadão irlandês, portanto, desculpo-me com os leitores pelo ato falho.
Quanto ao texto em si, quero deixar claro que não há de minha parte nenhuma intensão xenofóbica, muito pelo contrário. De um modo geral acho muito bom que o filme tenha chamado a atenção de pessoas fora do País, quer elas concordem ou não com sua abordagem, assim como considero importante que chegue a nós, brasileiros, obras artísticas de toda parte do mundo.
O que questiono, meu caro amigo anônimo, é a absorção imediata de uma determinada opinião simplesmente pelo fato de esta ter vindo de um autor ou veículo estrangeiro. E infelizmente, faz muito tempo, nossas elites e nossa imprensa têm esse hábito.
Discordo, é claro, da opinião de Conor Foley, mas considero fantástico o fato dele tê-la emitido. Não se trata apenas de uma ação legítima, mas também fundamental para que possamos interagir culturalmente. Queria eu conhecer muito mais do que conheço sobre a Irlanda, sobre a Inglaterra e muitas outras nações. E gostaria também que Conor Foley e muitos outros cidadãos estrangeiros conhecessem mais sobre o Brasil. Seria muito bom para todos nós, creio.
Esclareço, no entanto, que o artigo do "The guardian" foi explorado aqui de forma tendenciosa, usado para fundamentar a ação reativa de nossas elites retratadas no filme como verdadeiras patrocinadoras do tráfico de drogas e consequentemente de boa parte da violência urbana.
Você me pergunta se eu teria algum diálogo com estrangeiros que discordam da minha opinião. E eu lhe respondo: claro, meu amigo anônimo. O diálogo é importantissimo, assim como a divergência de opiniões. Não importa a nacionalidade dos debatedores, pois o mundo é cada vez mais uma pequena aldeia. Linguas e culturas diferentes não podem servir de obstáculo para qualquer debate. Até porque o próprio debate serviria como instrumento para aproxima-las e fazer com que se compreendessem melhor.
O que me indigna, na verdade, é o uso de conceitos e opiniões de um determinado autor estrangeiro, completamente fora de contexto, com o intuíto de justificar as ações danosas de uma pequena parcela da sociedade, como é feito aqui.
Certamente Conor Foley analisa a questão de acordo com sua própria cultura e com sua visão de mundo. O que é rigorosamente natural. E discordamos exatamente por isso. Nossos olhares são diferenciados. O que aliás, não desqulifica de forma alguma o debate.

Imagem- Duque de Bedford, "Torre de Babel", c. 1423. Biblioteca Britânica, Londres

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado Vicente pela resposta.

Talvez um dia volto aqui sem o uso do anonimato: é que nesse caso faz um certo sentido, já que um nome diz muita coisa - e o meu ponto foi de que devemos escutar sem preconceito, mas com atenção, querendo saber donde a pessoa fala (incluindo a sua história pessoal, se tiver tempo) que é sempre mais interessante que uma simples nacionalidade.

Não sei se você está ciente, mas tem um link para o seu blog na matéria nova do Conor Foley - http://commentisfree.guardian.co.uk/conor_foley/2008/02/viva_lula.html - e por isso acabei aqui. Confesso que não entendo todas as conexões envolvidas, mas isso é nosso mundo atual, virtual ou não.

Entendo a sua preocupação com a repercussão do artigo original. Sei muito bem dos abusos feitos em nome desse olhar 'crítico' estrangeiro pelas forças reacionárias aqui no Brasil (e lá fora) quando se trata de promover uma imagem negativa da população explorada pela elite.

Em paz. Vou ler mais.