7.9.09

O dia da criação e o bar do Zé Luiz

Abriram uma igreja de crente bem em frente a minha casa. Eu, particularmente, sou agnóstico e não tenho nada contra a religião em si. Pelo contrário, lembro de Lou Salomé falando para Nistche quando este sentenciou a morte de Deus:
- Então tá. Mas de que outra forma será possível algum controle?
Só acho, na verdade, que a coisa não precisava ser tão barulhenta.
Louvo, no entanto, a criatividade dessa turma, mesmo que a mesma seja utilizada em prol do meu tormento. Nessa igrejinha que fizeram aqui o pessoal resolveu misturar vários elementos de cunho religioso, inclusive afro. O resultado é que eles cantam seus hinos - alto pra caracas, é claro - espraguejam o demônio e gritam desesperadamente ao som de instrumentos de percussão. Pode-se ouvir o pandeiro nitidamente e algo parecido com o som de um atabaque.
Pode-se se dizer tudo, menos que não seja algo criativo.
Como no Brasil o que impera é a mistura de raças, eeses elementos devem tornar mais atrativa a pregação protestante, de origem tipicamente européia e, posteriormente, americana.
Mas , enfim, não cabe a mim ficar fazendo análise da composição sociologica das seitas atuais. Basta fechar portas e janelas, mesmo com um calor terrível, como forma de amenizar a barulheira celestial. Não sei se é melhor cozinhar vivo ou ir para o inferno logo de uma vez, mas o que se há de fazer?
Quando é possível, evidentemente, eu fujo. Ou melhor, retardo meu retorno ao ensurdecedor lar. Na maioria das vezes dou uma passada no bar do Zé Luiz, o Alvarenga, único lugar da cidade atualmente onde é possível encontrar alguns amigos para beber um chope e bater papo.
O público lá é variadíssimo. Nem sempre é possível se ater a reflexões alcoólicas referentes aos desígneos de Deus ou ao equilíbrio do universo, mas o chope é bom e os amigos idem.
O ambiente é barulhento também, é fato. Mas pelo menos nos é permitido papear sobre à quantas andam as artes, a política, os amores e "otras cositas más"...
Nada é perfeito, e enquanto Bethoven for cultuado as orações se darão aos gritos. Então, que seja. O bar do Zé continuará nos servindo como refúgio.

6 comentários:

Unknown disse...

Concordo contigo. O bar do Zé virou refúgio. E, ainda bem, é pertinho da minha casa.

Anônimo disse...

Viva o Zé Luis!

E me lembrei de uma frase: "Jesus não é surdo!"

Robert Sachsse disse...

Ô Vicente, você está virando lenda, hein? Aonde andas?

Unknown disse...

Era o dia 09/09, jogo da seleção mais tarde, mas um monte de pepinos para resolver. Eu havia lido o texto na véspera e deveria entregar uns papéis ao Vicente. Ato contínuo, pretendia ir atrás de umas rúpias, quando o poeta perguntou: "vamos tomar uma cerva?". E apesar de crer em Deus, foi uma enorme terapia ficar das 17 h até o 3º gol do escrete. De fato, nostalgia e presente se misturam sinestesicamente naquele último refúgio dos loucos, poetas, músicos e outros, um oásis na era da indiferença e instantaneidade. Fiquei sem as rúpias, mas com a alma lavada e regenerada. Amém. Valeu poeta.

Vicente Portella disse...

Valeu Vagner...Meu nobre causídico.

Grande abraço

Beatriz Oliveira disse...

Vicente,
as igrejas fazem de tudo pra arrebanhar ovelhas. Dá uma olhada nisso.
Bj

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/09/15/ult574u9673.jhtm