16.2.11

Lei seca, quente e escura... Pobre Baixada.

Tal e qual a Chicago dos anos 30, a Baixada Fluminense experimenta os horrores de uma lei seca. Na terra de Al Capone, no entanto, a secura se limitava a bebidas alcoólicas, aqui a secura é completa. Não há água nem para fazer remédio.
Como se não bastasse a falta d'Água e o calor, cuja a sensação térmica atinge 45°, falta também energia. A Light, concessionária privatizada na década de 90, trata os moradores da Baixada como se fossem lixo, apesar de cobrar contas caríssimas. 
A impressão que se tem é que a Light fez um planejamento para a baixada com base no vagalume: Acende/apaga/acende/apaga. Do ponto de vista da moderna sustentabilidade a coisa é até legal, ecológica etc, mas do ponto de vista da qualidade de vida é um absurdo. A empresa que detém o monopólio do abastecimento de energia em parte da Baixada desrespeita completamente seus clientes. 
As quedas no fornecimento de energia e as variações de tensão são tão absurdas e frequentes que beiram a ficção. Ventiladores e ares condicionados, quando não queimam de vez, ficam simplesmente impossibilitados de funcionar, agravando ainda mais os efeitos da falta d água e do calor insuportável. 
Trata-se de um escárnio, como se aqui fosse terra de ninguém.
Além da correlação entre água e álcool, há uma outra questão que faz com que a Baixada se pareça cada vez mais com a Chicago de outrora, os gangsteres.
Toda a penúria que vivemos aqui esta associada com a necessidade que alguns de nossos governantes tem de ganhar dinheiro fácil, pois, ao invés de representar as pessoas e defender os interesses da cidade, eles preferem negociar benefícios pessoais. 
Dia desses, por exemplo, um Deputado de Caxias foi ao departamento de água da cidade acompanhado de um grupo de moradores do terceiro distrito. Queria enganar o povo, é claro. Mesmo sabendo que nossa água da cidade é produzida fora, na estação do Guandu, o Deputado arvorou-se à uma discurseira contra os gerentes locais da empresa concessionária, muito provavelmente para tentar impressionar as pessoas que o acompanhavam. Macaco velho, o Deputado sabia muito bem que os problemas eram causados pela cúpula, não pela base. Mas não podia perder a chance de jogar para a galera. 
Deputados assim, que poe a culpa no operador para poupar o governante, são do mesmo tipo daqueles que não levantam a voz contra a Light, nem contra as irregularidades das empresas de ônibus, nem contra os governos que nos marginalizam e se aliam a bandidagem, enfim, são parasitas sociais que se alimentam do sangue da sociedade.
Esses políticos inescrupulosos, que felizmente não são todos, são os arautos do nosso atraso e principais promotores do nosso infortúnio. Se nossas torneiras estão secas e não temos energia elétrica nem mesmo para amenizar o calor que nos sufoca é graças a essa gente que negocia nossos direitos em benefício próprio.
A Baixada merece mais respeito, mas para que isso ocorro a gente precisa se respeitar primeiro, e, claro, escolher representantes mais dignos.


Vicente Portella

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