5.1.08

O poema de Maria

A água secou na fonte
O peixe sumiu no rio
O pote ficou vazio
O tempo perdeu as contas

Maria sumiu na bruma
Foi-se embora a última escuna
Que tinha destino certo
Não se ficaram nem restos
Das coisas todas do mundo

Nenhuma moça risonha
Nenhum começo de tarde
Nem mesmo uma lua ao longe
De nada disso se sabe

Nem mesmo um chão havia
A noite era igual ao dia
E a pedra era igual a flor
Pois nada disso existia

E nem sequer a lembrança
De um mero sorriso humano
Isso também se evadira

O tempo, um redemoinho
Estranho e em desequilíbrio
Fundia as coisas futuras
As coisas todas de ontem
De tal forma que as guerras
Medievais de algum dia
Misturavam-se a poesia
Que não se tinha ainda escrito

- Meu Deus, que mundo esquisito...

Gritava inconseqüente
A moça bela e demente
Que nem sequer tinha nascido

Maria pariu um filho
Que ser algum concebeu
E a criança morreu
De sede, de raiva E frio

Mas Maria não havia
Tampouco concepção
Portanto inexistia
O parto, a moça e o varão
Pois Maria de antemão
Era estéril e o sabia
Assim como suspeitava
Que toda palavra dita
Morre logo ao dar entrada
Ao ouvido que acredita

Á noite
No céu escuro
Onde nada se repara
O infinito prepara
As cordas de uma armadilha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala meu grande poeta e amigo.

Bem sei que a fonte se esgota
que a flor um dia n�o mais brota
que o sol um dia se apaga.
Que o grito um dia n�o mais se ouve
que os p�s um dia n�o mais caminham
que os rostos, talvez, nao mais sorriam
que todo o encanto se desfa�a.

Mas nada, nada tem o poder
de calar um grande poeta
de apagar seu brilho interno
de tomar-lhe a caneta da m�o
de tirar-lhe o beijo da vida -
unica real necessidade -
de secar-lhe a fonte bendita
de roubar-lhe a inspira�o.

Que poemas lindos. O "Poma de Maria" � para se ler ao lado de Deus. Abra�os. valdo