12.1.11

A tragédia lucrativa

Vivemos uma época em que não há mais estadistas. Eleitores menores e urnas eletrônicas adestradas elegem governantes igualmente menores, imbuídos mais do senso de “oportunidade” do que de qualquer outra coisa.
Nesse sentido, tudo passa a se transformar em “oportunidade”, não para realizar, construir, resolver problemas da população ou colocar seu nome na história. A “oportunidade”, para nossos governantes se resume à questão monetária. Dinheiro, grana, bufunfa, faz-me rir, cascalho, ou como queira chamar cada um dos cultos assessores que os cercam.
Recentemente os governantes do Rio de Janeiro, Governador Cabral e seus aliados em variadas prefeituras, perceberam uma fonte inesgotável de oportunidades: as chuvas de verão.
O primeiro a transformar as águas do Rio em “oportunidade” financeira foi Eduardo Paes, Prefeito do Rio, cancelando todas as obras de dragagens, limpeza e desobstrução de Rios, bueiros e canais. Quando chega a chuva a cidade vira o caos, então o Prefeito ganha a “oportunidade” de contratar todo e qualquer serviço sem licitação, ou seja, pode pagar 1 milhão à empresa de algum amigo pelo aluguel de um bote salva vidas por algumas horas e ninguém pode reclamar de nada. A lei o garante.
O esquema deu tão certo que Paes o exportou para Prefeituras controladas por partidos aliados e a coisa virou uma mina de ouro, proporcionando tragédias colossais ano após ano e fazendo a felicidade dos governantes.
Lembro que quando Marcelo Alencar era Prefeito a limpeza de bueiros e canais para evitar enchentes era muito debatida. Saturnino Braga havia falido a Prefeitura e não havia dinheiro nem para a merenda dos estudantes, mas Marcelo deu um jeito de bancar as desobstruções para evitar enchentes. Durante o período Cesar Maia a coisa também caminhou tranquilamente, com investimentos em encostas para evitar tragédias.
Nas cidades do interior do Estado e mesmo da região metropolitana nem se falava nisso. Era raro ocorrer algo mais drástico do que uma enchente provocada pelo transbordamento de um Rio.
Mas a coisa agora virou moda. Nas cidades praieiras e serranas há uma combinação entre liberação para construções irregulares para ricos – como foi o caso do Luciano Huck em Angra – e o completo abandono das galerias e canais de escoamento das águas fluviais. Pronto. Simples assim. As tragédias são iminentes, mas os lucros também são vastos e garantidos.
Na verdade é uma pena que o Rio de janeiro, espelhando-se em picaretas que governam em esfera nacional, tenha se transformado nisso. Uma mera central de negócios.
Logo após o fim da ditadura militar dizia-se que o Rio de janeiro tinha um povo lúcido e politizado... O que será que acabou tão rapidamente com a lucidez desse povo?

Vicente Portella

2 comentários:

Ronaldo Rangel disse...

Pra variar, mais um belíssimo texto Vicente, mas é um fato triste...

Vicente Portella disse...

Essa é a tragédia brasileira. Até nossas vítimas são tratadas com venalidade.