2.2.10

Light, Barcas, Metrô e a mulher do Governador. Privatizaram o tudo no Rio

A Light, empresa distribuidora de energia elétrica do Rio de janeiro, é, por assim dizer, uma das coisas mais vergonhosas produzidas pelo gênero humano em termos de corrupção. Desde a sua chegada ao Brasil, via Brascan, o chamado “polvo canadense” goza de excelente relações com o poder estabelecido, sempre a custa de muito dinheiro. Seu primeiro Presidente, Alexandre Makenzie, foi o “padrinho” oculto de Assis Chateaubriand por muitos anos e principal avalista na construção de seu império de comunicação.
No começo de suas operações no Rio de janeiro controlava bondes e outros serviços graças a uma concessão, de 100 anos, adquirida junto aos governantes da época. Curiosamente, quando faltavam apenas dez anos para expirar a concessão o “Governo” brasileiro, em plena ditadura militar, “comprou” a Light. Na verdade, o que passaria para o poder da união sem qualquer ônus foi comprado a peso de ouro em 1978. O fato ficou marcado nos anais da história como um dos maiores esquemas de corrupção da época. Foi um exemplo clássico do “de graça” que sai caro.
Pois bem, sob administração pública a Light acabou crescendo, concentrando-se na distribuição de energia, ampliando consideravelmente sua clientela e recebendo muito, muito investimento público.
Na década de 90, no entanto, já robusta e reestruturada, a Light foi privatizada pelo gênio da camelotagem estatal, também conhecido como o príncipe da moeda, Fernando Henrique Cardoso.
Seu comprador, o obscuro grupo Vicunha, presidido por um certo senhor Benjamim Stenbruch, não desembolsou um centavo sequer para adquirir o controle acionário da empresa. Pagou a entrada – cerca de 500 milhôes de reais, se não me engano – em papeis podres, títulos sem qualquer valor real no mercado, e ainda recebeu, uma semana depois, um “empréstimo” de 600 milhões de reais, via BNDES, para “capitalizar” a empresa.
Na realidade, graças ao monumental embuste que apelidaram de processo de desestatização brasileiro, os novos donos da Light, além de não gastar um tostão para adquiri-la, ainda ganharam uma gorjeta de 600 milhões, e as ações da empresam passeiam até hoje pelo mercado financeiro fazendo alegria e fortuna de muitos especuladores do mercado financeiro.
Aliás, para quem não sabe, o Governo Brasileiro atualmente é – de novo – o maior acionista da Light, com cerca de 38% das ações, apesar de abrir mão do seu controle administrativo.
Pois bem. Esta é a história da Light. Um opíparo bife de picaretagem mergulhado no molho denso da corrupção e servido em bandeja de ouro aos donos do poder.
A outra ponta, no entanto, aquela que paga a conta, ou seja, os CLIENTES da Light, população de boa parte Rio de Janeiro, foi historicamente tratada como lixo durante todo esse período, e, mesmo diante destas tenebrosas transações, a Light continua apresentando um dos piores serviços de distribuição de energia do planeta.
Em períodos de verão, como o atual, as cidades abastecidas pela Light se transformam em verdadeiros pisca piscas gigantes, pois a incompetência técnica e desleixo administrativo da empresa não permitem sequer que a energia flua de seus cabos com a regularidade e a intensidade que deveriam seguir um padrão. Tanto em termos domésticos quanto no atendimento a empresas a Light é uma tragédia.
Sua incapacidade em operar o sistema é gritante e para constatar isso basta que qualquer cidadão tente utilizar seus aparelhos domésticos em determinados horários. Computadores, geladeiras, ares condicionados, todo e qualquer aparelho elétrico é uma vítima em potencial da Light. E pior, quando sua incompetência em prestar os serviços a que se propõe faz com que estes aparelhos queimem, a Light conta com toda a conivência do Governo do Estado e das agências reguladoras - tanto a estadual quanto a nacional – para continuar causando prejuízos à população.
Nunca é demais informar, inclusive, que a capacidade de causar prejuízos adquirida com o decorrer dos anos pela Light não se limita à sua desastrosa ação doméstica. Além de ela própria se incumbir de nos privar de energia elétrica, ainda age grandiosamente para que o abastecimento de água seja interrompido. Vira e mexe a desqualificação técnica da Light faz com que as máquinas da Estação de tratamento do Guandu não funcionem por falta de energia. Ou seja, não satisfeita em tratar mal seus clientes, o império da corrupção exporta sua inoperância para outras empresas, e até mesmo para Cias públicas, dando subsídio à outros incompetentes que passam a alegar falhas da Light como justificativas para sua própria desqualificação.
A bem da verdade, trata-se de uma incomensurável covardia. A mesma empresa que se notabiliza por cobrar valores indevidos e enriquecer às custas de mutretas e tramoias aplicadas contra seus clientes, recusa-se à prestar serviços básicos que são de sua exclusiva responsabilidade.
Nós, população, somos reféns da incompetência e da ma fé da Light e, apesar de não recebermos a prestação de serviços de forma digna, somos obrigados a pagar a conta – que não é barata - religiosamente todos os meses. E não há como nem a quem reclamar. Trata-se de um monopólio cujas ações desastrosas são apoiadas pelo Governo do Estado e pelas agencias reguladoras, o que nos torna escravos da corrupção. Curiosamente, inclusive, esse comportamento deletério não se resume a Light. Pelo contrário, espalha-se de forma padronizada por todas as prestadoras de serviços do Rio de Janeiro, desde a SuperVia, que tem por hábito mandar seguranças espancarem sua clientela, até as barcas, que recebem subsídios governamentais para não funcionar, passando pelo morfético Metrô, que larga seus pedaços pelo caminho como se não tivesse a menor obrigação de dar satisfação aos seus usuários.
Todas estas operadoras são concessões do Estado, privatizadas de graça e distribuídas à amigos.
Mas o que causa realmente uma imensa sensação de impotência é saber que a própria esposa do Governador os defende, até em tribunais se necessário, e intermedia privilégios para seus clientes junto ao marido.
Não se trata mais de serviços privatizados, mas de Governo privatizado.
Os serviços públicos não mais são norteados pelo interesse da população, pois o próprio Estado, que deveria estar a serviço do povo, também não mais pertence a esse povo.
Diante de nós só se apresentam duas possibilidades:
Ou nos acomodamos e permitimos que o próprio Estado seja tomado do povo e entregue a senhores vis, transformando todos nós em sub cidadãos, ou nos organizamos para reagir e preparar a retomada do Estado para a população.
Particularmente, não tenho talento para ser escravo de quem quer que seja.

2 comentários:

Eduardo Henrique disse...

E se não houver resistência a CEDAE vai pelo mesmo caminho...

Vicente Portella disse...

Haverá resistência sim. Pode ter certeza, amigo.
Um abraço