
Como qualquer ser humano que se preza, e considerando que o ser humano é um animal político, resolvi tomar uma atitude extremamente radical, aos moldes dos velhos e bons guerrilheiros de 64. Frente a ditadura da mesmice e da hipocrisia; diante do caos político instalado no País, principalmente nas instancias intermediárias do poder, completamente tomadas por idiotas, obtusos, bandidos públicos e fascínoras políticos de toda sorte, optei por um exílio voluntário.
Abri mão dos largos benefícios conferidos a mim por minha terra natal, a outrora velha e boa Duque de Caxias, e exilei-me na Lapa. Não exatamente Lapa, é verdade. Mas entre ela e o Bairro de Fátima.
Confesso aos amigos que os sacrifícios aqui são enormes, fantásticos, incomensuráveis...
Para se ter uma idéia, quase todas as noites sou obrigado a conviver com uma gigantesca estrutura cultural que espalha-se pelas ruas e invade indiscriminadamente casas, prédios, bares, lojas etc...algo terrível para quem havia se desacostumado destas práticas desde a ascenção do império Zitumano, quando a atividade cultural foi abolida em minha cidade natal, até os dias atuais.
Ver-me agora anexado novamente a toda uma gama de atividades artíscas causa pânico, paúra, desnorteamento. Para regozijo deste pobre escriba, no entanto, a sorte as vezes nos sorri. Não raramente temos encontrado outros refugiados vagando artísticamente pelas bares, becos e casas de shows dessa que é a terra que me serve como abrigo.
Jorge Bodart, vire e mexe empresta voz e violão ao Dom Lucas, na Men de Sá, e torna a vida de exilado algo plenamente suportavel, diria até interessante, ou mais, gratificante.
André Vianna e a troupe do Nosso Canto aportaram dia desses no Cais da Praça Máua, algo fantástico para quem ja não conta com a sombra proporcionada pelas palmeiras da boa terra, nem mais escuta o canto do sabiá, que, pelo visto, tambem abondonou a terra natal e se refugia por essas plagas.
Até mesmo o Mate com angú, do jovem e bom HB, novo libélo de resistência cultural duquecaxiense tem desfilado por aqui, no Circo Voador, coroando de exito uma ainda curta existencia povoada por criatividade, cultura e indignação.
Não. Não me limito às visitas patrícias, pois meu exílio é amplo, geral e completamente irrestrito.
Para adequar-me a nova terra sucumbo aos seus encantos, mesmo que para mim, as vezes seja um martírio. Imponho-me a frequencia ao Bar Brasil, não somente pelo prazer e muito menos por este oferecer, talvez, o melhor chope do mundo, mas pela busca da adaptação. Bebo um chope e os olhos lacrimejam pois vem-me a lembrança do meu segundo lar, o Mira Serra. Mas, mecanicamente, após um parco momento de angústia, sigo para o Nova República, um rodísio justo e quase perfeito. E depois, geralmente, vago pela Lapa, mais ou menos, creio, da mesma maneira que Chico vagava por Roma e Caetano por Londres. Acalanta-me, no entanto, o belo desfilar de beldades. Moças de todas as partes. Como diria Vinícius, umas difíceis, outras fáceis, exatamente da forma mais correta que há para se extrair toda a poesia da vida.
Como não sou Pero Vaz e a vida caminha, encerro aqui este relato que se trata do meu exílio. Voluntário, é bom que se diga, nesta terra em que se cantando, quase todas dão.
Abraço fraterno aos patrícios com os votos de que nossa terra um dia volte a ser governada por seres humanos normais. Se é que isso ja ocorreu em algum momento.
Sem mais, despeço-me
Da Lapa par o mundo, Vicente Portella
Abri mão dos largos benefícios conferidos a mim por minha terra natal, a outrora velha e boa Duque de Caxias, e exilei-me na Lapa. Não exatamente Lapa, é verdade. Mas entre ela e o Bairro de Fátima.
Confesso aos amigos que os sacrifícios aqui são enormes, fantásticos, incomensuráveis...
Para se ter uma idéia, quase todas as noites sou obrigado a conviver com uma gigantesca estrutura cultural que espalha-se pelas ruas e invade indiscriminadamente casas, prédios, bares, lojas etc...algo terrível para quem havia se desacostumado destas práticas desde a ascenção do império Zitumano, quando a atividade cultural foi abolida em minha cidade natal, até os dias atuais.
Ver-me agora anexado novamente a toda uma gama de atividades artíscas causa pânico, paúra, desnorteamento. Para regozijo deste pobre escriba, no entanto, a sorte as vezes nos sorri. Não raramente temos encontrado outros refugiados vagando artísticamente pelas bares, becos e casas de shows dessa que é a terra que me serve como abrigo.
Jorge Bodart, vire e mexe empresta voz e violão ao Dom Lucas, na Men de Sá, e torna a vida de exilado algo plenamente suportavel, diria até interessante, ou mais, gratificante.
André Vianna e a troupe do Nosso Canto aportaram dia desses no Cais da Praça Máua, algo fantástico para quem ja não conta com a sombra proporcionada pelas palmeiras da boa terra, nem mais escuta o canto do sabiá, que, pelo visto, tambem abondonou a terra natal e se refugia por essas plagas.
Até mesmo o Mate com angú, do jovem e bom HB, novo libélo de resistência cultural duquecaxiense tem desfilado por aqui, no Circo Voador, coroando de exito uma ainda curta existencia povoada por criatividade, cultura e indignação.
Não. Não me limito às visitas patrícias, pois meu exílio é amplo, geral e completamente irrestrito.
Para adequar-me a nova terra sucumbo aos seus encantos, mesmo que para mim, as vezes seja um martírio. Imponho-me a frequencia ao Bar Brasil, não somente pelo prazer e muito menos por este oferecer, talvez, o melhor chope do mundo, mas pela busca da adaptação. Bebo um chope e os olhos lacrimejam pois vem-me a lembrança do meu segundo lar, o Mira Serra. Mas, mecanicamente, após um parco momento de angústia, sigo para o Nova República, um rodísio justo e quase perfeito. E depois, geralmente, vago pela Lapa, mais ou menos, creio, da mesma maneira que Chico vagava por Roma e Caetano por Londres. Acalanta-me, no entanto, o belo desfilar de beldades. Moças de todas as partes. Como diria Vinícius, umas difíceis, outras fáceis, exatamente da forma mais correta que há para se extrair toda a poesia da vida.
Como não sou Pero Vaz e a vida caminha, encerro aqui este relato que se trata do meu exílio. Voluntário, é bom que se diga, nesta terra em que se cantando, quase todas dão.
Abraço fraterno aos patrícios com os votos de que nossa terra um dia volte a ser governada por seres humanos normais. Se é que isso ja ocorreu em algum momento.
Sem mais, despeço-me
Da Lapa par o mundo, Vicente Portella
7 comentários:
Fala, Vicente. É bom ter notícias suas, depois de um tenebroso sumiço. Resta-nos, agora, torcer para que as coisas melhorem por aqui para que você possa ser seduzido a voltar e permitir que
compartilhemos nossas amizades e as coisas boas da vida.
Um forte abraço, irmão.
Do amigo Josué Cardoso
porra, Vicente, num faz chorar não, caralho...
de fato, caxia cansa.
blergh.
Adorei o texto sobre um dos maiores redutos da boemia carioca, a Lapa, esse bairro que há anos é frequentado por artistas dos mais diversos estilos, e o trocadilho com Pero Vaz de Caminha e a paródia da carta que este enviou pra Portugal foram ótimos. Está de parabéns!
O que é que eu vou dizer? Já disseram tudo. Ah! Portela, o Império Zitomano caiu, mas um pior chegou para substituí-lo: o Império Washintomano. Formado por valentes e ignorantes demolidores, está devastando a cidade. Quando passam, não fica pedra sobre pedra. Tudo vira pó. Foi "tinhosa" a batalha desse "incrível exercito" contra a CUMT. Afinal, que história foi aquela? Me ajude a entender, Portela. Por favor, amigo. O que motivou aquela devastação. Nem árvores sexagenárias foram poupadas. Parecia que iam construir sobre os escombros da velha fábrica uma verdadeira Babilônia. Nada aconteceu. E agora, José?
Fui................................
Coloque a ? para mim depois da palavra devastação.
Obrigado.
Portella: você é filho da Baixada e uma de seus mais expressivos ativista cultural
Portella,
Primeiro um esclarecimento:não fui o autor do comentário, em linguagem chula, atribuído ao "Stélio". Quem chamou minha atenção para o baixo nível foi nosso amigo Rogério Torres.
Quanto ao "exílio voluntário", acredito que não terá vida longa, pois suas contribuições à vida cultural de Caxias são marcantes.
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