29.5.10

Hélio Fernandes detona - Inelegibilidade dos Garotinhos: abuso visível de poder do TRE

Inacreditável a decisão do Tribunal Eleitoral do Estado do Rio, atingindo o casal Anthony e Rosinha Mateus. Decidiram (?) por 4 a 3 que “ele não pode ser candidato ao governo (disseram que está INELEGÍVEL) e que ela está cassada e não pode mais exercer o governo de Campos”. CONCEDERAM, com extrema GENEROSIDADE, que ela possa ficar no cargo. 

TÊM DIREITO A RECURSO. Puxa, esses 3 DESEMBARGADORES que DESEMPATARAM contra o casal, pelo menos permitem o recurso. 

Foram tão absurdos, que o ex-governador chamou de COVARDIA e eu digo que é INDIGNIDADE, que um tribunal não pode cometer de maneira alguma. 

O relator, que é encarregado de estudar o processo, (evidentemente, o que ele vota não é a última palavra e não é irreversível como a Bíblia) examinou profundamente a questão, achou que não existia NENHUMA RAZÃO PARA AS DUAS INELEGIBILIDADES. 

O revisor, (que já levou o voto CONTRA O RELATOR preparado antecipadamente), leu o que havia escrito antes, “surpresa”. A composição do tribunal é estranha e comprometida. Um dos desembargadores (contra o casal) tem bom passado, foi preso na ditadura, na volta SE MANIFESTA INVARIAVELMENTE A FAVOR DE QUEM ESTÁ NO PODER. 

Um dos juízes não togados, esteve envolvido no famoso CONCURSO falsificado, também votou pela INELEGEBILIDADE. O presidente do TRE, boa figura, foi para a presidência desse tribunal, com a incumbência de LIMPÁ-LO. Esse tribunal era conhecido no próprio Fórum, como um covil.

Antes de assumir, DIZIA por todos os lados e em todos os lugares: “VOU RECUPERAR ESTE TRIBUNAL”. Pelo visto, NÃO RECUPEROU E COMPROMETEU. 

O casal já está entrando com recurso no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ganhará provavelmente por unanimidade. E o presidente do tribunal, ministro Lewandowski já disse e está cumprindo: “Não ficará NADA AQUI SEM JULGAMENTO”. Portanto, será julgado imediatamente, antes de outubro. 

Intervenção política do TRE 

Além da extravagância da decisão, o TRE modificou completamente a situação da POLÍTICA e da ELEIÇÃO do Estado do Rio. Se a decisão fosse mantida, cabralzinho não teria adversários, poderia iniciar uma das suas MARAVILHOSAS VIAGENS, já estaria reeeleito. E pior ainda, tirou do páreo um candidato forte, para FAVORECER UM GOVERNADOR ACUSADO DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. 

E quem denunciou cabralzinho serginho filhinho? Foi o então governador Marcello Alencar, num dossiê que todos os políticos do Rio, (e não apenas do Rio) conhecem e até têm cópia. 

Essa é a decisão que ALTERA VIOLENTAMENTE a eleição do Estado. A CASSAÇÃO de Dona Rosinha será (seria, o TSE anulará tudo) um tremendo temporal que desabará sobre Campos. Nos últimos anos, essa importante cidade teve vários prefeitos, e raros terminaram o mandato.

*** 

PS – Quando Garotinho diz, “ISSO É PERSEGUIÇÃO”, não está faltando com a verdade. Era governador com 80 por cento de possibilidades (e expectativas) de reeeleição, deixou o cargo e se lançou candidato a presidente. 

PS2 – A desincompatibilização foi exercida no prazo exigido pela Constituição, passou o cargo para a vice Benedita, adversária e de um partido que não o seu. Dona Benedita cumpriu o mandato até o fim, passou o cargo para a nova governadora eleita. 

PS3 – Acontece que a nova governadora, Dona Garotinha, cumpriu o mandato de 4 anos, mas foi IMPEDIDA DE TENTAR A REEELEIÇÃO, pelo tribunal. Alegação fantástica: “ELA CUMPRIU OS 8 ANOS, 4 DO MARIDO, OUTROS 4 DELA”. Ha!Ha!Ha! Onde foram buscar essa DEFINIÇÃO-CONFISSÃO de INCAPACIDADE? 

PS4 – Garotinho foi candidato a presidente por um partido pequeno, teve 15 milhões de votos, o que é muito voto. AGORA É IMPEDIDO DESSA MANEIRA. 

PS5 – Os quatro juízes (?) que DESEMPATARAM contra o casal, estão precisando urgentemente de exemplares do Aurélio ou do Houaiss, não conhecem a língua. Cassaram o Garotinho e a mulher, por ABUSO DO PODER ECONÕMICO, e apresentam contra eles um programa de radio que ele teria feito em 2008. 

PS6 – No momento em que o país inteiro MERGULHA numa campanha MÚLTIPLA E DIVERSIFICADA, SEM NENHUMA CONVENÇÃO, tornam INELEGÍVEL UM CANDIDATO QUE NEM O É, AINDA NÃO FOI ESCOLHIDO. Que República. 

PS7 – Nem precisaria explicar minha posição, mas é bom, ou melhor ótimo, esclarecer: NÃO VOTARIA NEM NELE NEM NELA, como não votei nem votaria em cabralzinho. Não tenho a menor ligação com o casal, não sou candidato a coisa alguma, NOMEADO ou ELEITO. 

PS8 – Mas ficaria REVOLTADO comigo mesmo, ENVERGONHADO DIANTE DE TODOS, se não denunciasse esse absurdo, indignidade, perseguição, FAVORECIMENTO A CABRALZINHO. Este é o voto deste repórter, INDEPENDENTE em todas as circunstâncias.


Hélio Fernandes - Jornal Tribuna da imprensa

28.5.10

Uma tentativa de golpe institucional: de Vargas à Garotinho


"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes."


O trecho acima, primeiro parágrafo da histórica carta testamento do Presidente Getúlio Vargas, é a mais fidedigna representação do que ocorre hoje no Rio de Janeiro. Não são apenas pessoas, mas, instituições, coordenando-se e articulando-se contra a possibilidade de que Garotinho dispute o Governo do Estado.
Querem simplesmente proibir que o ex Governador ofereça seu nome ao povo como alternativa.
Nada disso é novo. Getúlio, como a própria carta testamento deixa evidente, enfrentou estas mesmas forças à seu tempo, e as venceu.
Na verdade, sabem muito bem os formuladores deste golpe, o povo do Rio de Janeiro sempre foi solidamente consciente das manipulações, artimanhas e escaramuças de seus inimigos, e, talvez por isso, resida aqui, em contra partida, a elite mais desonesta e perversa de todo o cenário político nacional.
Somos governados hoje por gente que despreza o Estado, o povo e as instituições; gente capaz de qualquer vilania para se perpetuar no poder. E pior. Gente cujos tentáculos envolvem as instituições à partir de ligações pessoais e danosas, comprometendo o próprio conceito de democracia e tornando perigosa a prerrogativa da cidadania.
A decisão do TRE pela cassação do mandato que o povo de Campos deu à Prefeita Rosinha e pela inegibilidade do ex Governador Anthony Garotinho não encontra respaldo nem do ponto de vista jurídico, nem do ponto de vista racional e muito menos do ponto de vista democrático, até porque a democracia é justamente o regime que impede que a vontade das castas dirigentes prevaleçam sobre a vontade dos cidadãos comuns.
Na prática é uma decisão que coloca em risco a própria confiança depositada pelo cidadão comum no poder judiciário, pois acaba por misturar e confundir vontades que emanam exclusivamente do chefe de um dos poderes, o executivo.
Certamente o TSE vai reparar este terrível dano que ameaça a soberania do povo fluminense e restabelecer o equilíbrio institucional, mas, independente disso, não podemos ficar calados, pois a situação nos indica que estes elementos, tendo a frente Cabral, são, literalmente, capazes de qualquer coisa para impedir a manifestação da vontade do povo.
Nossos poderes constituídos precisam se basear, como estabelece a constituição, nos sólidos pilares da democracia e não nos desejos ou nos lucros pessoais de quem quer que seja.
Assim como foi feito com Getúlio e Brizola, nós, trabalhadores e pessoas de bem, precisamos outorgar à Garotinho a tarefa de combater estas elites em nosso próprio nome.
E assim será feito, nas urnas, nas próximas eleições.

23.5.10

BBB Rio- As sub celebridadades

Estava, dia desses, conversando com um grupo de amigos, entre os quais haviam paulistas, pernambucanos, mineiros, gaúchos, etc. Quando o papo entrou no campo das lideranças políticas exercendo mandato, confesso, fiquei envergonhado. Independente de ideologia e partidos políticos, cada um falou dos Governantes de seus Estados ou de suas cidades com certa propriedade. Da carreira política, da história  pessoal, dos feitos e defeitos... Apenas eu e um amigo, também do Rio, não podia-mos dizer nada, pois não há nada o que ser dito.
Como dizer para alguém de outro lugar do Brasil que o Governador do Rio de Janeiro nunca trabalhou na vida? Nem dá pra explicar isso direito. Aliás, para ser sincero, a minha ficha só caiu naquele exato momento: O Rio hoje é apenas um reality show, e não um Estado da Federação.
Se estabelecermos uma analogia entre o Brasil e o corpo humano, sendo cada Estado uma de suas partes, nós, do Rio, que já fomos a cabeça pensante, seríamos, talvez, com muita sorte, as axilas do Brasil. Nada que nos dê muito orgulho.
No mesmo dia, mais tarde, assistindo à um vídeo de humor pela internet, me ocorreu uma espécie de epifania revelando o mistério da pauperização governamental do Rio de Janeiro. Se analisarmos direitinho veremos que o Rio não tem Governador nem Prefeito. Têm sub celebridades. É como esse pessoal do BBB, que nunca fez nada de relevante na vida mas se estabelece por algum tempo na mídia por conta da super exposição. 
Podem comparar, se tiverem dúvidas. Cabral e Paes, nunca, em momento algum de nossa história, fizeram nada de produtivo, pelo contrário. Nunca foram líderes de nada, nunca defenderam qualquer proposta política consistente, nunca estiveram a frente de nenhum movimento coletivo importante, nem na cidade, nem no Estado. No País, então, nem se fala. Seus méritos se resumem ao fato de contarem com uma baita carga de aparição na mídia.
Para piorar nossa situação, enquanto cidadãos cariocas e fluminenses, o momento político brasileiro é, muito provavelmente, o mais calamitoso que já vivemos. Em nossa era, a era dos conchavos, faz-se política visando unica e exclusivamente a manutenção do exercício do poder, mesmo que para isso seja necessário se aliar aos piores elementos do submundo para destruir pessoas de bem. Não há mais qualquer estabelecimento de compromissos com a sociedade ou com o povo.
A própria exclusão do candidato Ciro Gomes do processo eleitoral - como ocorreu com Garotinho em 2006 - é uma retumbante confirmação desta lógica mesquinha. Ao invés de apresentar suas propostas para o Brasil por intermédio de uma candidatura própria, o PSB preferiu sacrificar seu candidato no altar da pequeneza e do imediatismo para garantir o seu naco de poder junto à um possível futuro Governo, mesmo que lhe sobrem apenas as remelas em meio à tantos olhos vigilantes. A eleição em dois turnos foi feita para evitar  isso, mas pra que perder tempo com propagação de idéias e programas quando se pode apenas fazer um conchavo?
O Rio de janeiro sofre atualmente as consequências mais imediatas da-desta mesquinharia política reinante. Dois postes concentram o poder absoluto e, na falta de qualquer diretriz, seja política, humana, social ou intelectual, o utilizam apenas para fazer negócios. O Estado, coitado, e seu povo, definham à olhos vistos.
Na tal conversa com meus amigos eu realmente senti vergonha. Não por ser carioca ou fluminense, mas por, enquanto cidadão, ter permitido que meu Estado chegasse ao fundo de um poço tão pútrido e profundo.
Estarei na luta, no entanto, para corrigir esse grave erro cometido por todos nó que moramos e votamos no Rio de janeiro, Estado e Capital, eliminando estas sub celebridades dos nossos governos.
E da próxima vez em que estiver com aquele grupo de amigos, certamente o Rio estará novamente na posição em que merece e com Governantes qualificados. BBB e urubus no poder nunca mais, pelo amor de Deus...

19.5.10

O ocaso do PDT

Durante muitos anos de minha vida militei no PDT. Ainda garoto, no começo dos anos 80, fiquei fascinado, como tantos outros, pelo raciocínio apurado e pela oratória ágil de Leonel Brizola. Com o tempo fui aprendendo que aquele homem de sotaque forte e voz firme tecia teses completamente apaixonantes sobre o povo brasileiro. Em um mundo novo – pós ditadura – que se dividia entre oportunistas de direita, dispostos a tomar o Brasil para si, e intelectuais de esquerda, propensos à tutelar os brasileiros sob uma lógica academicista , Leonel Brizola era o único fato realmente novo. 
Não pretendia se apossar do Brasil e nem tutelar ninguém. Defendia apenas a emancipação completa do povo brasileiro, hipótese rechaçada pelo primeiro grupamento e condenada pelo segundo, por motivos diferentes. 
Uns, os direitistas, sempre acharam que o povo serve apenas para pagar as contas e servir de andaime ou trampolim para as pretensões dos mais abastados, e outros, os academicistas, sempre consideraram que o povo não tem “condições intelectuais” para compreender as coisas e decidir por si próprio.
Ancorado nos ideias getulistas e convicto de que ambos estavam errados, Brizola estabeleceu no Rio de janeiro uma trincheira de lutas, após a fundação do seu PDT – Partido Democrático Trabalhista. O Governo aqui estabelecido à época cultivava o hábito de espancar trabalhadores, tratar como bandidos quaisquer moradores de comunidades carentes e estabelecer como limite ideológico/geográfico para os investimentos do poder público as divisas da zona sul do Rio de janeiro. 
Eleito Governador Brizola inverteu essa lógica. Mesmo angariando para si o ódio dos poderosos,  redescobriu e reinventou a Baixada, a Zona oeste da capital, o interior e as comunidades carentes de todo o Estado, passando a tratar seu moradores como cidadãos ao invés de bandidos. Liderado por Brizola o PDT se tornou o partido das massas, das pessoas comuns que reconheciam em Brizola um aliado sob todos os aspectos.
Nos vinte anos seguintes Brizola teve influência decisiva em todas as eleições que ocorreram no Rio de janeiro. Quase todos os Governantes do Rio desde então, até 2006, passaram pelas trincheiras do PDT. O atual governo do estado, no entanto, é composto por aquela velha mentalidade oligárquica, sendo a antítese de tudo que Brizola defendeu a vida inteira.
O Governo aqui estabelecido hoje (exatamente como aquele que Brizola combateu e venceu) cultiva o hábito de espancar trabalhadores, tratar como bandidos quaisquer moradores de comunidades carentes e estabelecer como limite ideológico/geográfico para os investimentos do poder público as divisas da Zona sul do Rio de janeiro ( a repetição é proposital), a única diferença é que os dirigentes do  PDT de hoje, sem a “incômoda” presença de Brizola para lhes impôr o viés ideológico e popular, apoiam todas estas atrocidades.
Por incrível que pareça – soube disso com pesar – o PDT resolveu assimilar o ideário político combatido por Brizola a vida inteira e apoiar, no Rio de Janeiro – justamente aqui – este estafeta da direita chamado Sérgio Cabral.  Logo o PDT, principal responsável pelo fim das oligarquias PMDBistas no estado, decidiu, de bom grado, se tornar vassalo destas oligarquias.
Felizmente Brizola não está aqui para ver seu legado vendido e entregue aos históricos adversários  do povo Fluminense.
Ao PDT que está aí não interessa as escolas, tanto que Cabral não construiu nenhuma. Não lhe interessa mais o respeito aos professores, pois à estes Cabral dedica o espancamento em praça pública. Não interessa mais ao PDT  que está aí a integridade e o bem estar dos moradores pobres das favelas do Rio, para os quais Cabral reserva, como instrumento de dominação, o “Caveirão”, e, por fim, lamentavelmente, não consta mais no rol de  valores do NeoPDT a defesa dos servidores públicos – civis ou militares -  pois para apoiar esta coisa chamada Sérgio Cabral é necessário não cultivar qualquer respeito ou estima por este conjunto de trabalhadores.
Posso assegurar, portanto, como uma espécie de “Beatles” temporão, que o sonho acabou. O meu PDT, aquele fundado por Brizola, não é, definitivamente, este que aí está, cada vez mais parecido com o PMDB de Cabral.
Pode até ser que um dia ele ressuscite, pois em suas bases estão, ainda, muitos companheiros comprometidos com a emancipação do povo brasileiro e em desacordo com a atual direção partidária. 
De certo, estes companheiros não marcharão com Cabral, pois, quem nasceu no seio do povo, sabe o quanto essa gente cabralista é nociva. Verdadeiros trabalhistas não embarcariam nesta canoa furada por nada, muito menos por trinta dinheiros.
Enfim, podemos assegurar que o espírito das lutas de Leonel Brizola ainda está muito vivo em todos nós, e algo assim, que não é mercadoria, não pode ser vendido. Uma legenda política, por mais histórica que seja, passa, mas o sentimento da militância fará com que tudo seja reconstruído, tijolo por tijolo, sob uma outra bandeira. Assim como o PTB que está aí não é mais o de Getúlio, o PDT que está aí, da mesma forma, não é mais o de Brizola. Mas os sentimentos de povo e de País ainda nos habitam para que possamos construir o Brasil do futuro. E iremos fazê-lo. Começando com o apoio ao companheiro Garotinho para Governador.


Vicente Portella

17.5.10

A criação da leitura

No princípio eram as vogais. Pareciam um bando de arainhas metamórficas  e foi difícil compreender que aqueles rabiscos esquisitos eram dotados de algum significado.
Faça-se a luz, disse alguém em um determinado momento, e então surgiram as consoantes.
A mim pareceu em um primeiro instante que aquelas eram as irmãs mais velhas das vogais. Que ao pegarem-nas pelas mãos emprestava-lhes sentido. Era como se as consoantes levassem as vogais para a escola. O B levando pela mão o A, o E, o I, o O e o U, formando BA, BE, BI, BO , BU, que, à rigor, ainda não dizia nada com exatidão, mas já se afigurava mais interessante.
De repente, não mais que de repente, os membros daquela imensa família começaram a se misturar indiscriminadamente, de forma até meio pecaminosa, incestuosa, e passaram a se reproduzir em frases, períodos, parágrafos, páginas, livros e enciclopédias.
No começo foi uma coisa espantosa, mas em algum lugar entre a frase e a página ou entre a página e o livro, eu acabei me afeiçoando a todos e entrando para a família. 

OBS: A professora Adriana Albuquerque nos pediu que escrevesse um pequeno texto descrevendo nossas primeiras experiências e sensações com leitura. Ei-lo.

15.5.10

Erupção

Trezentos e cinquenta sóis
Uma língua como a tua
Meus dedos batendo os nós
Na porta da alma nua
Misturado em teus lençóis
O cheiro da tua carne
E os raios alvos da lua


E você desnorteada
Amarfanhando os cabelos
Gerando no cerebelo
Imagens de mil cenários
Eu tonto incendiário
Absorvendo teu fogo
Dama, diva, dona, jogo

Senhora dos meus delírios
Escrava dos meus encantos

Dedos, bocas, seivas, canto
Voz, sorriso, sensações
Diversas e variadas

As palmas das tuas mãos
Devidamente espalhadas
Por dentro dos meus sentidos

A explosão nos meus ouvidos

O corpo em erupção.

13.5.10

Quem tem medo de Garotinho?

A notícia que rolou ontem na internet, dando conta de que Cabral mandou comprar o espaço utilizado por Garotinho na Rádio Melodia, me obrigou à algumas reflexões.
Porque será que Cabral tem tanto medo de Garotinho?
Se a gente raciocinar direitinho, é fácil perceber que Cabral só chegou onde está graças ao ex Governador. Deputado Estadual medíocre, Cabral limitou sua atuação ao apoio integral dado à Marcelo Alencar, principalmente no projeto de privatização do Estado, e seria Deputado Estadual pelo resto da vida se Garotinho não o tivesse apoiado para o Senado. Antes de Garotinho Cabral jamais havia ganho uma eleição majoritária. Chegou inclusive a jogar a toalha em uma disputa pela Prefeitura, certa vez, por exclusivo senso de ridículo.
Mantendo a parceria com o ex governador, Cabral chegou ao governo com esmagadora maioria de votos entre as populações mais pobres do Estado, mas depois de eleito tratou logo de se distanciar destes eleitores, voltando-se exclusivamente para a zona sul da capital.
É necessário que se diga, no entanto, à bem da verdade, que não é apenas Cabral quem tem medo de Garotinho.
A Rede Globo, madrinha dileta de cabral, também tem muitos motivos para detestar Garotinho, seja pela independência do político de Campos- imune às suas costumeiras manipulações, assim como Brizola - seja pela impossibilidade de continuar arrecadando monumentais verbas publicitárias, como ocorre no Governo atual. Até do ponto de vista político a Globo tem suas justificativas para temer Garotinho. Os Marinho, como se sabe, consideram um absurdo gastar dinheiro público com iniciativas populares desde o tempo dos Brizolões. O povo, para eles, serve muito bem para bancar a audiência de suas novelas, mas não merece tratamento igualitário, nem justo. O poder deve ser reservado aos ricos, vaticina a Globo. E por isso teme Garotinho.
O PT ( Lula é uma coisa e o PT é outra bem diferente) , que nunca elegeu ninguém para um cargo expressivo no Rio de Janeiro, com exceção de Benedita da Silva, eleita uma vez para o Senado e, posteriormente, Governadora na aba de Garotinho, também teme Garotinho. Tanto que, no primeiro dia do Governo Rosinha, Zé Dirceu deu ordens para que a União confiscasse toda a receita do Estado. O PT do Rio prefere ver o Estado entregue às baratas e às quadrilhas políticas, das quais eventualmente participa, do que colaborar com a ascensão de um líder popular. É o medo de perder o paupérrimo espaço político que tem.
Em escala menor, muitos outros grupamentos temem Garotinho. Jovens riquinhos da zona sul, engajados em movimentos pela liberação das drogas que nunca vão além de seus próprios interesses umbilicais; pseudo intelectuais de todas as matizes, temerosos de que teses reais embotem suas frágeis formulações midiáticas; grupos variados de mini poderosos que temem a amputação de seus tentáculos entranhados nos aparelhos do poder, enfim, não são poucos os que têm medo de Garotinho.
Efetivamente, no entanto, todos estes grupamentos, ainda que somados, são menores, infinitamente menores, que a população do Rio de Janeiro. A Baixada, o interior, as zona oeste e norte da capital; em todas as áreas onde há concentração de trabalhadores, donas de casa e jovens responsáveis, gente preocupada com sustento e desenvolvimento de suas famílias, as pesquisas são favoráveis à Garotinho.
O povo, como se dizia nos tempos de Brizola, não é bobo e sabe muito bem quais são os interesses que estão por trás dos ataques e agressões sofridas pelo líder do PR. Trata-se exclusivamente do medo que as elites nutrem de perder o seu poder.
O povo confia em Garotinho. O que amedronta o povo é a sede insana de poder e dinheiro, principalmente o público, que as elites brasileiras demonstram, e exatamente por isso se resguarda.
Na verdade estas elites temem o povo, que se apega à Garotinho para se defender do chicote dos poderosos.

3.5.10

Sérgio Sampaio - Eu quero é botar meu bloco na rua



Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou

Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender

Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval...

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender

2.5.10

Zeca Baleiro - Antes do Show em Caxias o artista conversou com o Jornal Imprensa

Entrevista:Adilson Sarpi Fotos: Rafael Barreto

O cantor e compositor Zeca Baleiro (batizado José Ribamar Coelho Santos) fez uma bela apresentou no Teatro do SESI de Duque de Caxias no dia 9 de abril. O show foi o primeiro da serie no circuito cultural SESI-RJ, tendo como ponto de partida Duque de Caxias, percorrendo depois todos os Teatros SESI do Grande Rio. A apresentação foi uma retrospectiva de sua carreira e que durou quase duas horas. As canções foram valorizadas em arranjos acústicos de Tuco Marcondes, responsável pelas guitarras, violões e vocais. O repertório incluiu criativas baladas já consagradas pelo público como “Telegrama” e “Quase nada”, além de composições do CD “O Coração do Homem-Bomba, Ao Vivo (Ao Vivo Mesmo)”, CD lançado em dezembro, o décimo autoral de sua carreira. Em 1997, ano em que lançou o primeiro disco, “Por onde andará Stephen Fry?”, foi escolhido o “melhor cantor” pela Associação Paulista de Críticos de Artes.




Aqui em Duque de Caxias, como nas demais cidades da Baixada Fluminense, temos uma população que “respira” a cultura nordestina, pessoas que vieram das regiões Norte e Nordeste. Como você, que está vindo pelo Circuito Sesi, percebe isso?

Zeca Baleiro - Na verdade, eu já toquei aqui na região, algumas vezes. Em Nova Iguaçu, em alguns lugares do povo, no Rio, em Lonas Culturais, que também tem esse perfil. É essa “mistura louca” do Brasil, né, bacana. E é um povo que sempre me surpreende, é muito bem informado. Vai de encontro aquele clichê de que as pessoas da periferia do Brasil não têm informação, não tem cultura. Acho bacana isso, gosto de viver esse clichê contestado. As pessoas me pedem coisas que eu já nem sei mais tocar, o lado B do meu disco... (risos...) O que mostra que é uma gente que conhece profundamente.

Isso te sensibiliza, saber que o público está antenado com sua música, com seu trabalho?

Zeca Baleiro - Sim, até por uma fome própria. Porque as pessoas tentam fazer um bom trabalho, porque sabemos que não é fácil realizar um circuito como esse que estou fazendo, seis sete, shows, é muito difícil. E essas pessoas que moram nesses lugares, estão naturalmente mais afastadas dos eventos culturais que estão acontecendo. E mais difícil, por exemplo, uma exposição interessante sair lá do centro do Rio ou de qualquer outra instituição e vir pra cá. Então as pessoas têm que se deslocar, a “fome” tem que ser maior para as pessoas buscarem essa informação.

Você sente essa conexão com o Maranhão, com o subúrbio de lá, com as regiões periféricas?

Zeca Baleiro - Acho que periferia é periferia em qualquer lugar. Não dá pra comparar a periferia do Rio com a de São Paulo, a de São Luiz, ou de qualquer outro lugar. Mas o nome já é metafórico, explica tudo. O fato de eu ser do Maranhão faz com que eu me sinta também de uma periferia. Da periferia do Brasil, se você pensar em termos nacionais. Eu e minha geração, meus amigos músicos, artistas, a gente também se sentiu por muito tempo apartado de tudo. Hoje com essa tecnologia toda, essa revolução digital, as pessoas lá do interior do Maranhão têm acesso as informações que a gente não poderia ter. Eu me lembro pra comprar um disco, tinha que ser por reembolso postal, pagar o selo, uma dificuldade. As lojas não achavam os paradões de sucesso. É o que eu te digo, a “fome” pessoal de cultura e de informação tem que ser maior, pra compensar a falta.

Esse show que você vai fazer agora, abre uma série de seis apresentações do Circuito Sesi. É isso?

Zeca Baleiro - Sim. Hoje faço aqui, amanhã faço Jacarepaguá, e volto semana que vem a Itaperuna, Centro do Rio, Macaé, Campos...

Com um palco pequeno, o show é mais intimista? Como é isso?

Zeca Baleiro - Sim. Naturalmente e é inevitável. E agente cria uma atmosfera que propicia isso. Sou eu e o Tuco Marcondes, só, que é um músico que toca vários instrumentos e tal... Mas a própria atmosfera então pra criar mesmo essa atenção, essa concentração. É diferente de tocar em uma praça, com banda, coisa que eu costumo fazer, e que também gosto de fazer, não tenho nenhuma preferência. Mas aqui eu acho que cria outro tipo de atenção, rola muita conversa, pra “desmonotizar” o show. É legal papear, eu sinto que as pessoas gostam da prosa, a gente conta a história de como nasceu certa música, “causo” e etc... e eu adoro fazer esse formato. E também faz tempo que eu não faço coisas aqui no Rio, digamos nesse extrato, nessa esfera. Eu tenho feito shows de turnê mas circuitos normais, Circo Voador, Canecão... Mas eu adoro fazer, já fiz outras vezes em outras instituições também e adoro. Vem aí um público até atípico, né, que tem essa oportunidade, do lado de cá, na rua, no bairro (risos)...

E você no circuito internacional. O “Rock in Lisboa” que será no mês que vem, é sua primeira experiência internacional?

Zeca Baleiro -
Não, eu tenho feito coisas...

Nesse porte?


Zeca Baleiro É, um evento nesse porte, acho que é primeira vez. E também num contexto diferente, que é um palco alternativo onde vai rolar encontros entre artistas brasileiros e portugueses, que os produtores julgam que temos afinidade. Eu vou dividir o palco com Jorge Palma, que é um cantor, compositor meio com o pé no blues e no rock, assim. Muito interessante. Martinho da Vila também vai participar, acho que vai ser um evento bem bacana. Portugal é um lugar onde eu tenho ido há uns 10 anos. Meus discos têm sido lançados lá. Nos outros lugares são coisas mais eventuais, na Argentina também, eventualmente tenho acontecimentos assim, mas Portugal é uma coisa mais regular. A Som Livre de lá que se extinguiu não sei por que, no início da minha carreira, lançou uns 4 ou 5 discos meus lá.

É uma “veia lusitana” então?

Zeca Baleiro - (Risos...) É a “veia lusitana”... tá lá... e é um lugar bacana. As pessoas têm muita curiosidade por brasileiro, assim, o ano inteiro lá. De Ivete Sangalo a Adriana Calcanhoto. Tem um espaço muito grande lá. Pelo menos uma vez por ano, a gente faz alguma coisa lá.

Pegando o gancho desse circuito que você está fazendo, do “Rock in Lisboa”, como é a questão da fama? Isso te assusta, já assimilou? Como você administra isso?

Zeca Baleiro - Vai mudando com o tempo, né cara... A fama sempre foi para mim, isso é bem pessoal, a conseqüência do trabalho público, seja o jogador de futebol, ator, locutor, cantor, que se expõem publicamente. Naturalmente você conquista alguma fama em maior ou menor grau, né. E pra mim isso sempre foi uma coisa assim.... Eu nunca desejei “fama”. A fama nunca foi um objetivo pra mim. Hoje há uma inversão tamanha de valores, as pessoas desejam primeiro ser famosas e os “Big brothers” aí da vida estão pra legitimar isso. Primeiro desejam ser famosos, depois têm o trabalho, né. Primeiro conquista a fama, depois vai estudar pra ser atriz e tal, isso é uma inversão completa. A fama deveria ser uma decorrência, uma conseqüência de um trabalho bem feito, de um tempo de estudo, de uma maturação qualquer. Isso tudo que eu falo não é um estudo acadêmico, mas eu criei minha “cartola”. Meu primeiro disco foi gravado aos 31 anos, tardio se comparado a outras gerações, como do Chico Buarque, que grava muito cedo, com 19, 20 anos. Mas pra mim foi bom, passei dos 20 aos 30 me enlouquecendo, me perdendo, me achando na vida e criando meu repertório, de tudo que eu faço hoje. Então a fama veio em decorrência disso. Já me assustou mais, hoje em dia não. Eu aprendi.

Você consegue andar nas ruas tranqüilamente?

Zeca Baleiro - Ando, tomo café na padaria, converso com as pessoas, recebendo uns tapinhas nas costas, dou uns também (risos...).

É uma questão de postura?

Zeca Baleiro Tem que desmistificar um pouco, não supervalorizar. É difícil porque, se você aparece na televisão, se você tem uma atividade pública, as pessoas às vezes te colocam. Não é nem você que se coloca, as pessoas às vezes vem com receio de falar com você. Tem assédios super simpáticos: “Poxa, minha filha te ouve desde a barriga, tem três anos, adora suas músicas”, são coisas super simpáticas de ouvir, prazerosas, que alimentam seu trabalho. Você também tem os desagradáveis, mas... Às vezes você tá lá no aeroporto, caidão, cansado, desanimado, deprimido. Aí vem alguém e fala que “você” foi importante em sua vida. Uma vez num pós show, veio uma moça grávida, com um cara. Aí ele falou assim “Tá vendo isso aí? foi a lenha” (risos...) É o nome de uma música minha, né... Aí você passa a fazer parte da vida das pessoas, eu acho isso muito bacana.